Carreira

Daniel Alves, Thiago Silva, Messi e Cristiano Ronaldo: por que essa é a Copa do Mundo dos 30 mais

Na Copa do Mundo e no mundo corporativo há muito o que aprender com profissionais mais experientes, escreve a especialista Cris Sabbag

Daniel Alves durante treino da Seleção no Catar: memes satirizando a idade do jogador contribuem para o etarismo (Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação)

Daniel Alves durante treino da Seleção no Catar: memes satirizando a idade do jogador contribuem para o etarismo (Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 8 de dezembro de 2022 às 11h21.

Por Cristina Sabbag, sócia, CDO e principal Researcher da Talento Sênior   

Com a lesão do jogador Danilo, o nome de Daniel Alves na seleção brasileira como opção para titular da vaga gerou “pânico” nos etaristas de plantão que insistem em rejeitá-lo por sua idade.

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Mas por que desperdiçar uma força de trabalho ainda valiosa? Os maduros estão na Copa para trazer equilíbrio e conhecimento e o mundial está repleto deles. Na própria seleção brasileira, Thiago Silva, o nosso capitão, tem 38 anos.

A Copa ainda conta com os dois maiores jogadores da atualidade, Lionel Messi da seleção argentina, que aos 35 anos disputa, no Catar, o seu quinto Mundial por sua seleção.

Além dele, Cristiano Ronaldo, aos 37 anos, na sua provável última Copa, e que acaba de quebrar mais um recorde na carreira, tornando-se o primeiro jogador a fazer gols em cinco Copas do Mundo —2006, 2010, 2014, 2018 e 2022.

O jogador mais velho dessa Copa é o mexicano Alfredo Talavera, com 40 anos, goleiro da equipe e vai disputar seu primeiro Mundial.

Outros 30+ serão calouros nesta Copa do Catar são: o meia canadense, Atiba Hutchinson (39 anos) e o goleiro holandês Remko Pasveer (39 anos). A seleção japonesa também conta com um goleiro sênior, Eiji Kawashima (39 anos).

O jogador mais velho a disputar uma partida de Copa do Mundo em toda a história foi o goleiro do Egito, Essam El-Hadary, que jogou contra a Arábia Saudita na Copa de 2018, na Rússia, quando tinha 45 anos.

O fato é que a evolução da medicina preventiva e novos formatos de treinamento têm contribuído, e muito, para a extensão na carreira dos jogadores. Por isso, muitos deles se mantêm em alto nível e jogam em grandes clubes do mundo.

Ainda assim, a polêmica em torno da escalação do jogador Daniel Alves escancara o etarismo contra os jogadores 30+ e reflete exatamente o que os profissionais sêniores passam no mercado de trabalho.

Tite entendeu algo que o mercado de trabalho deveria aproveitar melhor: os benefícios da convivência intergeracional nas equipes.

Algo importante a se ressaltar é que Daniel não foi convocado apesar de sua idade. Foi convocado por causa dela.

Para o técnico, o jogador mereceu o lugar na seleção por conta de sua qualidade técnica, física e principalmente pelo aspecto mental. Ele sabe bem exercer o papel de articulador no time.

É preciso, antes de qualquer julgamento, reconhecer o mérito do jogador ter se cuidado e se preservado para alcançar essa posição por reunir um conjunto de qualidades que fará a diferença para o sucesso e bom desempenho da seleção.

Ainda que o futebol seja um esporte de alto rendimento, a figura do atleta sênior é relevante para apoiar e para estrategicamente posicionar o time. Alguma semelhança com a vida corporativa?

O episódio marcado por um ‘arsenal’ de memes que satirizam a idade do atleta não tem outra função ao não ser a de reforçar o estereótipo de que a idade invalida a capacidade laboral de um profissional, ainda que ele tenha investido tempo e dinheiro para se manter atualizado e produtivo em seu ramo de atuação.

Quem passa dos 30 anos já começa a sentir os efeitos do etarismo na carreira profissional. A pesquisa ‘Etarismo’, da Talento Sênior com o Vagas.com e Colettivo, apontou dados assustadores sobre o preconceito contra a idade nas corporações.

Segundo o estudo, 24% dos trabalhadores de 30 a 39 anos já sofreram algum tipo de discriminação no ambiente de trabalho em função da idade. Aqueles que estão na faixa de 40 a 49 anos e passaram por esse mesmo tipo de situação somam 56%, enquanto a parcela de 50 a 59 anos representou 18%. Já quem tem 60 ou mais respondeu por 2%.

A pesquisa também revela o alarmante dado de que um em cada quatro profissionais entrevistados já foi demitido por conta da idade. Quase metade (48%) dos participantes da pesquisa, declarou ter escutado que esse público tem dificuldade para lidar com tecnologia, enquanto 36% ouviram que os profissionais mais velhos não estão dispostos ou aptos a aprender novas habilidades ou abertos a novas ideias.

Também escutaram que eles não são tão produtivos (32%) ou não possuem o ânimo ou resistência que os trabalhadores mais jovens (31%) e que os salários dos profissionais mais velhos são muito altos em comparação aos colegas mais jovens que fazem trabalho equivalente (31%).

Para cada um desses mitos já existem estudos e pesquisas que comprovam exatamente o contrário. De acordo com um estudo do DIEESE, com base nos dados da PNAD Contínua (IBGE), a população considerada idosa (60+) representa 17,9% dos brasileiros.

Uma taxa expressiva e que evidencia a importância dos idosos para a economia do país. Porém, apenas 18,5% estão trabalhando. Quase 82% estão buscando recolocação no mercado ou tentando empreender, já que cerca de 75% deles contribuem com a renda da casa.

A longevidade média do ser humano se estendeu, nada mais natural que o mesmo aconteça com o seu prazo de disponibilidade para o mercado. O Brasil tem mais de 54,8 milhões de pessoas com mais de 50 anos, segundo o IBGE.

O que o mercado e os especialistas apontam é que as vantagens de empregar essa força de trabalho vão além da experiência. Eles são estratégicos para manter o conhecimento na empresa e contribuem de forma muito positiva nas inovações.

Todos esses dados mostram o quão urgente é preciso considerar os profissionais 30+, 40+ etc. nas ações de Diversidade e Inclusão das empresas, que hoje priorizam, no geral, marcadores sociais como LGBTQIA+, pessoas com deficiência e pessoas negras.

A idade não pode definir o talento e a disposição de um profissional para o trabalho. Até porque, no futuro bem próximo, não haverá jovens o suficiente para ocupar as vagas que se abrirão nos mercados e isso já é uma realidade em setores como o de tecnologia, por exemplo. O conceito de cooperação, de trabalho colaborativo ocorre no ambiente mais diverso possível, considerando as diferentes gerações.

O etarismo é um preconceito que, mais cedo do que se espera, baterá à porta dos que zombam da competência, da capacidade e do conhecimento da maturidade.

A torcida é para que a estratégia de Tite sirva de exemplo e se multiplique por tantas equipes no mundo do trabalho.

Esse é o caminho mais justo para a construção de seleções de fato vencedoras, goleadoras e muito mais humanitárias. Tomara que Daniel e os 30+ brilhem na Copa e deixem os etaristas com aquela cara de “nunca critiquei”!

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