Carreira

Da universidade para o computador da sua casa

Os quadros-negros e as salas de aula dão lugar à internet, onde professores de universidades prestigiadas postam aulas no YouTube

Walter Lewin (EFE/Marta Pérez)

Walter Lewin (EFE/Marta Pérez)

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Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2014 às 08h26.

"Acho que sempre fui um excêntrico. De verdade. Desde o primeiro dia, minhas aulas sempre foram diferentes". Vestido com uma de suas extravagantes camisas coloridas, o professor holandês Walter Lewin se dirige ao público que abarrota uma sala no Massachusetts Institute of Technology (MIT), uma das universidades mais prestigiadas do mundo.

Poucos diriam que se trata de uma aula de Física. Os estudantes riem e brincam com o professor, mas não perdem o foco em momento algum das palavras de Lewin. Não se trata, claro, de uma aula habitual. Os alunos puderam, por exemplo, ver como Lewin se pendurava em um pêndulo de cinco metros de altura para voar e demonstrar assim algumas das leis físicas mais elementares.

Para além de seus métodos peculiares, a verdadeira novidade de suas lições é o seu sucesso com o público, pois, não só os alunos assistem a suas aulas e os vídeos acumulam milhares de visualizações. A experiência descrita acima, por exemplo, tem mais de um milhão de visualizações.

Walter Lewin é talvez o mais popular dos "professores do YouTube", mas há outros como Leonard Susskind e Robert M. Sapolsky cujas aulas também arrasam na rede. Agora, graças à internet, o conhecimento do MIT e de Stanford chega até nossa casa.

Um gênio louco

"Lewin é um professor incrível e apaixonado pela beleza da Física e seu poder como uma maneira de olhar o mundo. Ele leva a ciência à vida. Tem muita energia, entusiasmo e métodos muito divertidos para explicar as coisas".

A pessoa que confessa em seu blog pessoal sua admiração por Walter Lewin é Bill Gates. O fundador da Microsoft, que é um dos mais dos milhares de seguidores que Walter Lewin, de 77 anos e professor no MIT desde 1966, tem no mundo todo graças ao poder do YouTube.

Os vídeos deste físico mostram um louco apaixonado, tão divertido quanto um comediante e, sobretudo, um professor disposto a usar qualquer método para transmitir seus conhecimentos.

Além de seu famoso pêndulo, em sua sala de aula ele montou em uma bicicleta alimentada por um extintor de incêndio para mostrar como decolam os foguetes, ou bateu com um pano em um aluno que se voluntariou para mostrar como funciona a eletricidade estática.

Seu objetivo com aulas tão atípicas e divertidas é, como disse em entrevista há alguns meses à Agência Efe, "fazer com que os estudantes se interessem pela Física para que, a partir do que veem na aula, se lancem a descobrir por si mesmos o que acontece fora dela. Definitivamente, trata-se de contagiar os estudantes com o amor pela Física, algo que é para o resto de suas vidas".

"Fiz com que olhassem o mundo de uma forma como nunca antes tinham olhado e, o que é mais importante, mudei totalmente o modo no qual viam suas vidas", disse o professor, que segue defendendo que experimentar os fenômenos é a melhor maneira de aprender.

Ciência no YouTube

Lewin não é o único físico que triunfa no YouTube. O americano Leonard Susskind, professor em Stanford, conta com mais de um milhão de visualizações em sua primeira lição do curso de Física Moderna, na qual explica a Teoria da Relatividade, de Einstein.

Em geral, as vídeo-aulas de ciências e tecnologia são as mais populares na internet. Outro professor de Stanford, o iraniano Mehran Sahami, também supera o milhão de visitas em seu curso de Programação, embora que talvez ostentem o recorde de visitas no campo da Informática são os professores do MIT Eric Grimson e John Guttag, cuja primeira aula de Programação já ultrapassa os dois milhões de visualizações.

Também há mulheres entre os docentes famosos na internet, como a professora Marian C. Diamond, que leciona Biologia na Universidade de Berkeley e cuja primeira aula Anatomia Geral Humana foi vista quase 900 mil vezes. Em Psicologia, o professor Robert M. Sapolsky, que dá aula em Stanford, chega até as 600 mil visitas com sua explicação sobre a depressão nos Estados Unidos.

Muitos destes professores, além disso, publicaram livros de divulgação sobre suas aulas como uma maneira adicional de aproximação com um público cada vez mais amplo. Walter Lewin, por exemplo, resumiu suas doutrinas em "For The Love Of Physics" (sem tradução para o Português), e Sapolsky analisou o estresse em seu livro "Por que as zebras não têm úlcera?".

Em qualquer caso, foi o MIT a primeira grande universidade que começou em 2002 a publicar na internet vídeos de seus aulas através do programa OpenCourseWare.

"A ideia é simples: publicar todos os materiais de nossos cursos na rede e fazer com que estejam totalmente disponíveis para qualquer pessoa", explica na página da universidade o professor Dick K.P. Yue.

O sucesso da iniciativa encorajou outras universidades a seguir o exemplo, e inclusive agora existe o Open Education Consortium, com mais de 25 mil cursos disponíveis e que agrupa 79 universidades de todo o mundo.

Walter Lewin foi um dos que mais se beneficiou do OpenCourseWare. Em 2007, um artigo de jornal "The New York Times" o citava como "uma estrela da web" ou "um guru de internet", embora ele continue focalizado na sua: divulgação do conhecimento da Física ao maior número possível de alunos.

"Se você odeia Física é porque tive um professor muito ruim. Faço com que cada estudante, não só no MIT, mas no mundo todo, ame a Física", diz em um vídeo Walter Lewin.

David Villafranca.

EFE-REPORTAGENS.

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