EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Nos Estados Unidos pós-Lehman Brothers, nada pega tão mal para um executivo quanto ganhar uma bolada no fim do ano. Pouco importa, claro, se a bolada é ou não merecida: altos salários estão fora de moda. O presidente Barack Obama disse que os bônus pagos em Wall Street são uma "vergonha". Numa pesquisa recente, a enorme maioria dos entrevistados considerou que os executivos americanos ganham mais do que deviam - e sete em cada dez acham que o governo precisa intervir para acabar com essa farra. Os contribuintes, inconformados com o que consideram uma recessão causada pelo excesso de ganância de um punhado de ricaços, querem vingança. E, em junho, o governo contratou o advogado Kenneth Feinberg para coordenar a vingança. Feinberg, um especialista em resolução de conflitos, tornou-se o todo-poderoso "czar da remuneração", responsável por ditar a política salarial das empresas salvas pelo dinheiro do governo no último ano. Em outubro, Feinberg decretou a punição que os americanos tanto desejavam. O salário de altos funcionários de empresas como Citigroup, AIG e General Motors foi decepado à metade - e assim permanecerá até que devolvam o dinheiro do contribuinte.
O pacote de outubro transformou Feinberg em herói nacional. Um artigo no jornal The New York Times comparou o advogado ao sábio rei Salomão e ao apresentador de TV Walter Cronkite, considerado o homem mais confiável do país até sua morte, em julho. A popularidade é tamanha que, nas últimas semanas, seu carro começou a ser seguido por paparazzi em Washington. Aos 64 anos, Feinberg não é um czar como outro qualquer. Seu pai vendia pneus. A mãe era contadora. Ele abomina o título - a avó lituana não era grande fã dos czares russos. "Além disso, as pessoas ficam com a impressão de que tomo decisões de forma autoritária, o que não é verdade", disse ele a EXAME (o czar atendeu o próprio telefone). Feinberg ganhou notoriedade ao dedicar 33 meses à complexa negociação das indenizações pagas às famílias das vítimas dos atentados de 11 de setembro. Foi o caso mais importante de sua carreira, e ele não cobrou um centavo por isso.
A nova missão de Feinberg, segundo ele próprio, é claríssima - fazer com que o governo receba seu dinheiro de volta o quanto antes. Realmente, o pacote anunciado em outubro criou um baita incentivo para que os executivos das empresas atingidas inventem formas de se livrar do governo. Os salários, afinal, ficaram muito abaixo da média de mercado. Fica, porém, a pergunta: a decisão do czar ajuda ou atrapalha essas empresas a se recuperar? Para especialistas em remuneração, a resposta é uma só: atrapalha, e muito. "Poucas empresas precisam tanto de talentos quanto essas", diz David Seitz, da consultoria americana Watson Wyatt. "Mas, com as mudanças recentes, vai ficar muito mais difícil atrair gente boa." A General Motors, por exemplo, não está conseguindo contratar um novo vice-presidente financeiro em razão das restrições impostas por Feinberg. E, se quem está fora não quer entrar, quem está dentro pode querer sair. O caso da seguradora AIG ilustra esse problema com perfeição. Aos 84 anos, Maurice Greenberg, ex-presidente da AIG, está montando uma nova seguradora -- já apelidada de AIG 2. Sem restrição salarial alguma, Greenberg está liderando um ataque aos melhores funcionários da seguradora, que está ficando com os piores. "Feinberg, assim, dá uma enorme vantagem aos competidores dessas empresas", diz Wayne Guay, professor da escola de negócios Wharton.
O pacote de outubro transformou Feinberg em herói nacional. Um artigo no jornal The New York Times comparou o advogado ao sábio rei Salomão e ao apresentador de TV Walter Cronkite, considerado o homem mais confiável do país até sua morte, em julho. A popularidade é tamanha que, nas últimas semanas, seu carro começou a ser seguido por paparazzi em Washington. Aos 64 anos, Feinberg não é um czar como outro qualquer. Seu pai vendia pneus. A mãe era contadora. Ele abomina o título - a avó lituana não era grande fã dos czares russos. "Além disso, as pessoas ficam com a impressão de que tomo decisões de forma autoritária, o que não é verdade", disse ele a EXAME (o czar atendeu o próprio telefone). Feinberg ganhou notoriedade ao dedicar 33 meses à complexa negociação das indenizações pagas às famílias das vítimas dos atentados de 11 de setembro. Foi o caso mais importante de sua carreira, e ele não cobrou um centavo por isso.
A nova missão de Feinberg, segundo ele próprio, é claríssima - fazer com que o governo receba seu dinheiro de volta o quanto antes. Realmente, o pacote anunciado em outubro criou um baita incentivo para que os executivos das empresas atingidas inventem formas de se livrar do governo. Os salários, afinal, ficaram muito abaixo da média de mercado. Fica, porém, a pergunta: a decisão do czar ajuda ou atrapalha essas empresas a se recuperar? Para especialistas em remuneração, a resposta é uma só: atrapalha, e muito. "Poucas empresas precisam tanto de talentos quanto essas", diz David Seitz, da consultoria americana Watson Wyatt. "Mas, com as mudanças recentes, vai ficar muito mais difícil atrair gente boa." A General Motors, por exemplo, não está conseguindo contratar um novo vice-presidente financeiro em razão das restrições impostas por Feinberg. E, se quem está fora não quer entrar, quem está dentro pode querer sair. O caso da seguradora AIG ilustra esse problema com perfeição. Aos 84 anos, Maurice Greenberg, ex-presidente da AIG, está montando uma nova seguradora - já apelidada de AIG 2. Sem restrição salarial alguma, Greenberg está liderando um ataque aos melhores funcionários da seguradora, que está ficando com os piores. "Feinberg, assim, dá uma enorme vantagem aos competidores dessas empresas", diz Wayne Guay, professor da escola de negócios Wharton.