Mesmo com discussões sobre novas práticas para o futuro do trabalho centradas no bem-estar do funcionário, ainda é comum lideranças que glorificam as longas jornadas de trabalho (Nuthawut Somsuk/Getty Images)
Pesquisador, consultor e palestrante sobre a vida organizacional
Publicado em 12 de julho de 2024 às 09h09.
No coração das empresas, mesmo naquelas nascidas na Economia Digital, há um mal silencioso que arranca a humanidade dessas corporações: é o que eu chamo de a "Cultura do Excesso".
Mesmo com discussões sobre novas práticas para o futuro do trabalho centradas no bem-estar do funcionário e na sustentabilidade de um modelo mais saudável de clima organizacional, ainda nos deparamos com lideranças que glorificam as longas jornadas de trabalho, exigindo uma disponibilidade constante e inabalável de seus colaboradores.
São práticas de trabalho tóxicas em diversas camadas – desde o estímulo ao estilo workaholic, na maioria das vezes intrínseco à atmosfera corporativa; até as políticas de RH excludentes, que dispensam aos funcionários dos cargos mais altos tratamento mais sofisticado – como planos de saúde melhores –, do que aos cargos considerados de menor prestígio dentro da companhia.
Isso sem falar nas metas e expectativas irrealistas aos funcionários; o culto à mentalidade do "sempre mais" e o estímulo institucional a ambientes hostis, pensados para a acirrar a competição entre colegas de trabalho.
O intuito de muitas empresas com essas práticas ruins é obter funcionários felizes e superprodutivos – além de mais lucro para as organizações; porém, a consequência real desse tipo de mentalidade é exatamente o oposto: essa devoção tóxica ao trabalho drena a energia vital dos funcionários, levando-os à exaustão física e mental, asfixiando a produtividade, mina a confiança entre as pessoas e os lucros dos acionistas.
Embora a cultura do excesso esteja bastante presente no mundo corporativo, é preciso reforçarmos que se trata de uma mazela das sociedades modernas que encontra respaldo no próprio comportamento social, como o consumismo desenfreado, por exemplo. Afinal, a cultura do consumo cria uma atmosfera de ostentação e superficialidade, onde o valor de um indivíduo é medido pelos bens materiais que possui e pelo status que exibe. Essa obsessão sufoca qualquer vestígio de consciência sobre a importância de um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
A superação da cultura do excesso requer uma mudança sistêmica e de longo prazo, por meio da qual as empresas precisam adotar uma série de estratégias corajosas e integradas. E as empresas precisam estar comprometidas em construir uma cultura organizacional baseada em valores humanos, na gratidão e na sustentabilidade. Algumas das principais abordagens incluem:
É hora de reescrever a narrativa corporativa, colocando as pessoas no centro das decisões estratégicas. As empresas que abraçarem essa transformação não apenas sobreviverão a cenários de negócios complexos e adversos, mas prosperarão em um mundo cada vez mais consciente e exigente. O caminho é desafiador, mas a recompensa é um futuro mais brilhante para todos.