Carreira

Os modismos de gestão causam polêmica em Harvard e IMD

Howard Yu, da escola de negócios IMD, alerta para a importância de ter senso crítico sobre as teorias de gestão que dizem resolver tudo

Howard Yu, da escola de negócios IMD (Divulgação)

Howard Yu, da escola de negócios IMD (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de agosto de 2014 às 15h30.

São Paulo - No fim de junho, Jill Lepore, renomada escritora e professora de história da Universidade Harvard, escreveu um artigo na revista The New Yorker criticando seu colega de instituição Clayton M. Christensen, igualmente célebre e autor de um best-seller de gestão, O Dilema da Inovação (1997).

Jill questiona a qualidade da pesquisa de Christensen que deu origem à teoria do livro e o acusa de ter direcionado o universo de respostas do estudo para o resultado que desejava. Para ela, a obra de seu colega é mais um modismo da gestão, como tantos outros. De Lausanne, na Suíça, outro professor, Howard Yu, da escola de negócios IMD, defendeu Christensen.

“É um raro caso em que a teoria da gestão é adotada na prática”, diz Howard. Para ele, o problema está na fragilidade das pesquisas em gestão, mal interpretadas e transformadas em modismos. Christensen foi vítima dessa prática e aponta a necessidade de entender e filtrar melhor o conhecimento acadêmico.

VOCÊ S/A: O que há de errado com a gestão que a torna tão exposta a modismos?

Howard Yu: O campo da gestão atrai demais a atenção do público corporativo. Nem todos lidam com problemas de engenharia no dia a dia, mas a maioria dos gestores é confrontada com temas genéricos, como estratégia e liderança. Por isso, há muita gente à procura de novas respostas.

VOCÊ S/A: Por que os gestores estão sempre procurando uma solução mágica?

Howard Yu: As teorias mais úteis geralmente têm um alto poder explicativo, que atende a uma grande variedade de situações. Isso em si é bom. Mas, quando a busca de novas respostas ganha um tom sensacionalista em noticiários e livros de gestão, o público inevitavelmente presta atenção no que proporciona conforto psicológico ou sensação de segurança.

Às vezes a resposta está certa, mas em grande parte do tempo não. Quando a contraprova emerge, o público perde o interesse por causa da expectativa elevada que depositou na ideia e descarta tudo de uma vez, sem fazer um balanço.

VOCÊ S/A: Não é curiosa a existência de uma lacuna entre a teoria e a prática na gestão? Em outros campos complexos, como é o caso da medicina, a situação é muito diferente...

Howard Yu: A estrutura de trabalho dos professores da maioria das escolas de negócios enfatiza a publicação de estudos revisados por outros acadêmicos em periódicos especializados.

Curiosamente, os principais jornais de medicina, como The New England Journal of Medicine, são lidos por médicos clínicos, e não apenas pelos professores. Já as principais revistas acadêmicas de negócios, como a Administrative Science Quarterly, raramente recebem a atenção de presidentes e executivos das empresas.

VOCÊ S/A: Como os gerentes podem melhorar a própria compreensão de teorias de gestão a fim de absorvê-las e praticá-las de forma mais precisa em seu dia a dia de trabalho?

Howard Yu: Quando um profissional ouvir falar de uma nova prática de gestão, ele deverá obrigatoriamente refletir sobre o assunto. É importante que avalie em que circunstância a prática prescrita vai funcionar e quando não vai. O profissional precisa ter capacidade de identificar os limites das novas teorias. Sem exercer alguma forma de pensamento crítico, ele vai acabar copiando os outros cegamente. 

Acompanhe tudo sobre:Edição 194Ensino superiorEntrevistasEstratégiaFaculdades e universidadesgestao-de-negociosHarvard

Mais de Carreira

Home office sem fronteiras: o segredo da Libbs para manter o trabalho remoto sem parar de crescer

Escala 6x1: veja quais setores mais usam esse modelo de trabalho, segundo pesquisa

Como preparar um mapa mental para entrevistas de emprego?

Para quem trabalha nesses 3 setores, o ChatGPT é quase obrigatório, diz pai da OpenAI, Sam Altman