Loja de roupas Zara em Madri, na Espanha (REUTERS/Sergio Perez)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2015 às 12h34.
Há alguns anos, por meio das mídias sociais, dedico-me à divulgação da Língua Portuguesa. Por isso, semanalmente, recebo uma série de fotos de placas com desvios em relação à norma.
Em uma delas, em frente a um estabelecimento comercial, havia a seguinte mensagem:
“CONCERTA-SE ROUPAS”
“Opa! Que gol contra!” poderiam dizer os mais críticos, porém o fato linguístico estampado vai além de, simplesmente, “consertar” um desvio.
Em Língua, as palavras com som igual, escrita diferente e significado diferente são classificadas como homônimas homófonas. Em outras palavras: ao pronunciarmos, não notamos a diferença entre elas.
Assim sendo, a palavra “concerto” remete a uma “composição musical”; “conserto” provém do verbo consertar e significa “reparo, ajuste”.
Um outro fato curioso registrado na placa do estabelecimento comercial refere-se à falta de concordância entre o verbo e o sujeito. Sim! A expressão “roupas” não é o aparente complemento do verbo, mas sim o sujeito paciente no plural.
A partícula “se” é apassivadora; logo, a frase está na voz passiva sintética. Como “roupas SÃO CONSERTADAS”, devemos registrar “consertam-se roupas”.
Ademais, uma regra que ajuda muito é saber que os sujeitos nas vozes passivas são idênticos. Vejamos a transposição de vozes verbais:
FULANO CONSERTA ROUPAS.
(Voz ativa)
ROUPAS SÃO CONSERTADAS POR FULANO.
(Voz passiva; sujeito “roupas”)
CONSERTAM-SE ROUPAS.
(Voz passiva sintética; sujeito “roupas”)
Ratificando, vemos que o sujeito paciente está no plural; logo, o verbo deve também estar no plural, justamente pelo princípio de concordância.
No dia a dia, sempre presenciamos placas (malditas?) com “aluga-se salas” ou “vende-se móveis”. É completamente compreensível que o escritor subentenda o termo posposto como complemento da ação (quando gramaticalmente é o citado sujeito na voz passiva).
Em vez de simplesmente julgar, interessa-me compreender, outrossim, critérios de intencionalidade no uso da Língua. Viva a diversidade linguística da Internet!
Um abraço, até a próxima e siga-me pelo Twitter!