Carreira

Os conselhos de um headhunter para uma carreira de sucesso

Em entrevista, o especialista em recrutamento Marcelo Mariaca ensina estratégias para conquistar os melhores empregos

Para especialista, profissionais não devem ter medo de correr atrás de muitas oportunidades de carreira (.)

Para especialista, profissionais não devem ter medo de correr atrás de muitas oportunidades de carreira (.)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

São Paulo - Quer conseguir o emprego dos sonhos? Então, mande uma carta (daquelas de papel, lembra?) ao CEO da empresa. Esse é apenas um dos 65 conselhos reunidos no livro Erre Mais! (Editora Campus) do headhunter Marcelo Mariaca.

Aos 65 anos, ele é considerado um dos principais caça-talentos do país. Há vinte, dirige a consultoria de recrutamento Mariaca, que tem clientes como Natura, AmBev e Unilever. Mas já atuou por 12 anos como vice-presidente da subsidiária latino americana da DuPont e ocupou a posição de presidente da Black & Decker do Brasil.

Com base nessa experiência, Mariaca contou com exclusividade para o Site Exame quais as melhores estratégias para construir uma carreira bem-sucedida. E, alertou: não tenha medo de se arriscar. Confira abaixo e nas próximas páginas

Site Exame: Em seu livro, o senhor defende que as pessoas devem lidar melhor com o erro na carreira. Tendo em vista casos como do nadador César Cielo, que no último fim de semana perdeu uma competição e ficou muito abalado, por que as pessoas têm tanto medo do fracasso?
Marcelo Mariaca: 
Ao longo dos séculos, a vida nos ensinou a evitar o erro. Desde os tempos de escola, aprendemos que errar nos trazia consequências muito negativas. Mas há uma diferença entre erro por desleixo e erro por atuar em uma área desconhecida.

Comparo nossa carreira com o trabalho dos cientistas. Há uma série de erros programados para eles chegarem ao certo. Por isso, é muito positivo que as pessoas não tenham medo de errar ao explorar ou experimentar novas situações na vida.

Site Exame: O senhor defende que os profissionais devem estar prontos para se adaptar e abrir o leque de opções. Mas, no livro, também alerta sobre a dispersão. Como abrir o leque sem perder o foco da sua carreira?
Mariaca:
É preciso equilíbrio. A ideia não é jogar currículos de um helicóptero ao meio-dia no Parque do Ibirapuera. Mas também não é ter apenas 13 contatos em sua rede de relacionamento. Os profissionais precisam de, pelo menos, algumas centenas de contatos interessantes em sua área de atuação.

Para conseguir um bom emprego, é preciso enviar cartas e currículos para umas 300 empresas. Só assim você poderá fazer com que os dirigentes das empresas conheçam você e ofereçam boas ofertas. No entanto, é necessário uma boa justificativa para manter essas 300 companhias em sua lista alvo.

Site Exame: Quando escolheu o Brasil para morar, o senhor enviou cartas a 3 mil CEOs demonstrando sua disponibilidade para atuar no país. Hoje, o senhor enviaria tantos currículos?
Mariaca:
Talvez eu faria de uma maneira mais focada. Eu era jovem e ainda não sabia totalmente onde estava meu potencial. Mas graças ao leque aberto, eu recebi muitas ofertas de emprego. E uma muito boa proposta para dirigir a subsidiária da Black&Decker no Brasil. Mas, para isso, precisei fazer um alto investimento. Contratei os serviços de uma empresa de secretariado que, durante um ano, datilografoi todas as cartas. Hoje, com a informática, seria muito mais fácil.

    <hr>                                    <p class="pagina"><strong>Site Exame: <em>Apostar em muitas empresas e depois ter que recusar algumas propostas não pode acabar "queimando o filme do candidato"? </em><br> Mariaca: </strong>Definitivamente não, desde que sejamos educados e cordiais. Nós  somos donos de nossa carreira. Às vezes, o brasileiro tem uma visão  muito paternalista. Mas ninguém pode esperar que a proposta de emprego  seja sempre aceita pelo candidato. <br> <br> Quando vim para o Brasil, também recebi uma oferta da DuPont para ser  diretor financeiro. Mas meu foco era ser o diretor geral de uma empresa  no Brasil. Por isso, e com essas justificativas, recusei. Mas mantive o  relacionamento. Logo que cheguei ao Brasil, me apresentei ao presidente  local da DuPont. Nós marcávamos almoços esporádicos. E, em três anos,  fui convidado para assumir o posto de vice-presidente da companhia na  América Latina. <br> <br> <strong>Site Exame: <em>Um dos capítulos tem o título "Aprenda com a Geração Y".  Mas o que não aprender com esses jovens?</em><br> Mariaca: </strong>O desprendimento. Essa é uma geração que foca muito no  crescimento e não tem muita paciência para esperar por ele. Sabemos que  não é bem assim. Devemos deixar claro quais são as nossas ambições, mas  não devemos ser demasiadamente impacientes. <br> <br> Por outro lado, é muito positivo o fato desta geração estar pronta para  encarar riscos. Mas é importante lembrar que temos que aprender com os  jovenzinhos e não necessariamente imitá-los. <br> <br> <strong>Site Exame: <em>É melhor começar a carreira em uma empresa grande ou em uma de médio e pequeno porte?</em><br> Mariaca: </strong>Entrar em um programa de trainee é "ouro líquido" para um  profissional. É uma boa maneira para que pessoas com uma boa formação  chamem muito a atenção. Mas para dar continuidade à carreira as empresas  menores são boas opções. Com uma boa experiência em outras companhias, é  possível conseguir cargos mais altos ou até assumir a posição de sócio.  Isso dá uma perspectiva diferente para o futuro. </p>        <hr>                               

Site Exame: O senhor menciona que as pessoas subestimam o próprio nível de inglês. Como avaliar se o seu domínio do idioma é suficiente para o mundo dos negócios?
Mariaca:
Não precisa se preocupar com um sotaque perfeito. O ambiente corporativo não pede a fluência de um nativo. Para se considerar fluente no inglês global, é preciso saber falar ao telefone, enviar e-mails e viajar com autonomia. Mas nunca pare de estudar.

Site Exame: Por que o senhor sugere que as pessoas não devem se iludir com os cursos de MBA?
Mariaca:
MBA não é garantia de sucesso. Ele é um ingrediente muito importante, mas não é o único. Ter isso no currículo não vai encobrir a sua deficiência em outros aspectos.

Site Exame: Se a gente pudesse resumir o seu livro em uma palavra eu diria que esta palavra seria pró-atividade. Como desenvolver essa habilidade?
Mariaca:
Desenvolvendo sua educação acadêmica e cultural. O mundo está mais competitivo a cada dia. Se você preparar sua formação educacional para encará-lo, estará pronto para ser proativo. Mas ainda é necessário auto-estima e ousadia para buscar que as empresas descubram que você existe.

Por isso, eu aconselho que, na era do e-mail, os profissionais enviem cartas aos CEOs. E, no dia da entrevista, não esperem mais do que trinta minutos pelo recrutador. Deixe o cartão e o currículo com a secretária de maneira cortês, mas não tome um chá de cadeira. Antes de qualquer coisa, é preciso respeitar a você mesmo.

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