Mindfulness: técnica popular no mundo corporativo se apoia em princípios de meditação (Foto/Thinkstock)
Claudia Gasparini
Publicado em 29 de outubro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 29 de outubro de 2017 às 06h00.
São Paulo — Mensagens no celular, ruídos do ambiente, pensamentos aleatórios, interrupções de colegas: são cada vez mais numerosas e incontroláveis as fontes de distração que comprometem a produtividade de um dia de trabalho.
Na luta pelo foco, o método mais badalado do momento —adotado por empresas como Google, Facebook, Goldman Sachs e inúmeras startups do Vale do Silício — tem origem na antiga sabedoria asiática.
A popular técnica de “mindfulness” (do inglês “mindful”, que significa “atento”, “cuidadoso”, “alerta”) se apoia em exercícios de meditação típicos do Oriente adaptados para a mentalidade ocidental.
O termo descreve um estado de atenção plena, no qual o indivíduo se concentra exclusivamente no presente, e afasta pensamentos ligados ao passado ou futuro. A partir de exercícios de autopercepção, a ideia é você aprenda a ignorar estímulos externos e saiba como acalmar a própria mente. O resultado é o aumento da capacidade de foco no trabalho.
Inspirado pelas promessas da técnica, o Google chegou a criar um programa específico de “mindfulness”, batizado de “Search Inside Yourself” (“Procure dentro de si mesmo”). Na sede da multinacional em São Paulo, grupos de funcionários se reúnem em uma sala por 20 minutos antes do almoço para fazer exercícios de concentração e alívio de estresse.
Para o psicólogo norte-americano Daniel Goleman, a prática tem impacto comprovado sobre o desempenho e o bem-estar, mas não no nível propalado pelos seus entusiastas mais fervorosos.
Isso porque diversos estudos que proclamam grandes benefícios do “mindfulness” não são tão rigorosos do ponto de vista científico, afirma o especialista em artigo para o site da “Harvard Business Review”.
Com a ajuda do neurocientista Richard Davidson, o estudioso analisou um verdadeiro oceano de publicações sobre o assunto e descobriu que apenas 1% dos artigos respeitava as regras para a pesquisa na área médica.
Para delimitar com exatidão os benefícios do “mindfulness”, Goleman e Davidson estudaram a fundo os (poucos) estudos sólidos sobre o tema, e resumiram suas 4 funções principais. Confira a seguir:
Pesquisadores da Universidade de Wisconsin estudaram o comportamento de pessoas que praticam a técnica com regularidade, e perceberam que elas têm menor tendência à distração do que aquelas que não aderiram a essa rotina.
“Essas pessoas revelam maior capacidade de concentração, mesmo quando fazem várias tarefas ao mesmo tempo”, escreve Goleman. “As implicações para o trabalho são evidentes: mais produtividade e menos intervalos”.
Não é preciso muito esforço para incorporar esse benefício: basta fazer três sessões de “mindfulness” por dia, com duração de 10 minutos. Abandone todos os seus objetos e afazeres durante esse tempo, e tente se concentrar exclusivamente na sua própria respiração. Sinta o ar entrar e sair dos pulmões.
Sua mente foi invadida por outros pensamentos? Não se preocupe. “Quando você começa a praticar ‘mindfulness’, você percebe como a nossa mente escapa facilmente do objeto em que busca se concentrar”, explica Goleman. “Mas é o esforço de trazer o foco de volta para a sua respiração que fortalece a capacidade do cérebro de se concentrar”.
A amígdala é a região do cérebro que funciona como “alarme” em situações de estresse ou perigo. Ela funciona como gatilho de emoções como raiva, medo ou ansiedade.
Segundo Goleman, estudos já mostraram que o cérebro de pessoas que praticam meditação e “mindfulness” têm uma amígdala menos suscetível a estímulos — o que significa que elas têm menor tendência a interpretar certos estímulos como ameaças.
A capacidade de manter a calma em situações tensas ajuda a evitar conflitos interpessoais e tomar decisões mais inteligentes. Ter uma rotina mais equilibrada do ponto de vista emocional também permite que você produza mais e melhor.
Pesquisas mostram que praticantes do “mindfulness” também se recuperam mais rapidamente de situações estressantes.
A chamada “memória de trabalho”, responsável pelo registro temporário da informação, também é maior para os adeptos da técnica.Um estudo mostra que estudantes universitários tiveram um desempenho 16% melhor em exames após se iniciarem na prática do “mindfulness”.
“Em um cenário profissional, isso pode reforçar a capacidade de executar um trabalho estratégico, resolver problemas e até interagir com outras pessoas”, diz Goleman.
Circuitos cerebrais que condicionam um comportamento gentil, altruísta e cuidadoso com os demais também são ativados com exercícios de meditação, afirmam diversos estudos sobre o assunto.
Não à toa, diversos atletas praticam o “mindfulness” para jogar melhor em equipe. A paz de espírito conquistada com a prática permite respostas mais compreensivas e generosas diante dos pequenos desentendimentos do dia a dia — o que acaba por alavancar o bem-estar e o desempenho de todos.