Jovem estudando e escrevendo em bancada (Photo Pin)
Da Redação
Publicado em 26 de maio de 2015 às 13h25.
*Escrito por Diogo Arrais, professor de Língua Portuguesa, do Damásio Educacional
Nos últimos dias, criminosos usaram facas e acabaram com a vida de um médico, no Rio de Janeiro. O esfaqueamento – típico de narrativa de terror – é trágico fato que remete a prosopopeias de uma guerra civil.
Prosopopeia (termo que passou por recente reforma ortográfica e não mais recebe acento agudo), de acordo com o Houaiss, é a figura pela qual o orador ou escritor empresta sentimentos humanos e palavras a seres inanimados, a animais, a mortos ou a ausentes; personificação; metagoge.
Em outras palavras, os símbolos “faca” e “bicicleta”, nas recentes notícias, remetem a uma incrível dor. Dor, revolta e fobias à vida do cidadão de bem.
Usando o citado recurso da “prosopopeia”, “animismo”, “personificação”, “metagoge”, redigi uma singela crônica – em homenagem a tantas vítimas da violência urbana. Segue trecho:
“Ela no canto da sala; eu - choroso - no quarto. Não posso pedalar mais. Não posso sentir a minha energia vital, na cadência de minha emoção, que se perfazia, no gerúndio daqueles pedais.
Nunca imaginei que o demônio pudesse surgir em forma de faca (esse famoso actante das obras de Hitchcock). Nunca pude pensar que esse apavoramento da Lagoa Rodrigo de Freitas surgiria em mim. E tudo isso causado por meu querer "pedalar-agradecer-contemplar".
Ela, minha magrela bicicleta, murchou-se em uma solidão passível de explicação nestas sílabas que choram. Choram de medo, terror, covardia e intermináveis fobias.
Logo no meu Rio, lugar de minhas incessantes e repetitivas poesias, que perpassavam cada dente da corrente de minha amada amiga. Logo eu que nunca fui de prendê-la; sempre cri que bicicletas felizes não precisam de cadeados.”
Objetos, à mão dos seres, podem sim apresentar vida; podem até extingui-la. Fica o lamento da prosopopeia; o lamento de quem trata sua bicicleta como grande amiga; aliás, cada um, nesta vida, é livre para criar suas proposopeias.
A Lagoa clama por justiça!
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