Carreira

Como trabalhar com estrelas, do bem e do mal

Lidar com um profissional que tem uma legião de fãs dentro e fora da empresa — e sabe disso — não é tarefa fácil, mas é possível tirar só o melhor dessa situação


	Os Rolling Stones: apesar do sucesso da banda, postura individualista como a dos astros Mick Jagger e Keith Richards pode ser um problema no ambiente corporativo
 (Divulgação)

Os Rolling Stones: apesar do sucesso da banda, postura individualista como a dos astros Mick Jagger e Keith Richards pode ser um problema no ambiente corporativo (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 11 de março de 2013 às 15h57.

São Paulo - Trabalhar ao lado de um profissional estrelado — que exibe vários troféus na mesa, é reconhecido dentro e fora da empresa por sua competência e é sempre convidado para chefiar palestras e reuniões importantes — não é fácil. Para fazer um paralelo com o mundo dos esportes, basta pensar no time espanhol Real Madrid.

A equipe tem uma constelação no elenco e é chefiada pelo técnico José Mourinho, uma estrela (um tanto cadente, alguns vão dizer). Por mais gabaritado que ele seja (e disso ninguém duvida), o egoísmo e o ego do treinador são tão grandes que, em vez de contribuir para a equipe, ele impõe suas opiniões a todo custo e deixa até de conversar com os jogadores que se opõem às suas ideias. O resultado? Time desunido e profissionais desmotivados, que nem sequer comemoram os gols — Cristiano Ronaldo que o diga.

No entanto, há as estrelas do bem. Aquelas que, por mais que saibam que dominam a área, entendem que só terão luz própria se todos em sua volta brilharem também. O melhor exemplo nesse caso é o antigo arquirrival de José Mourinho, Pep Guardiola, ex-técnico do time catalão Barcelona.

Ele foi o responsável por desenvolver o jeito Barcelona de jogar futebol, mas nunca colheu os louros sozinho: sempre atribuía as vitórias ao espírito de equipe tão forte no time. "Há realmente dois perfis de astros corporativos: os imaturos, que querem tudo para si, e os que dividem as responsabilidades e as alegrias", diz Mike Martins, diretor executivo da Sociedade Latino Americana de Coaching, de São Paulo.

De toda maneira, as empresas estão cheias de profissionais de ambos os tipos. E você precisa conhecê-los bem e aprender a conviver com esse pessoal para tirar as melhores lições que eles podem oferecer. Porque, sim, eles podem até ofuscar quem está por perto, mas continuam tendo muito a ensinar. 

Os astros não se tornam tão poderosos da noite para o dia. Normalmente, constroem um currículo repleto de cargos importantes e experiências ricas, além de ter passado por cursos de especialização e MBAs. "As habilidades técnicas são altamente desenvolvidas e eles conhecem muito do negócio", diz Stella Angerami, presidente da Angeramis Desenvolvimento Profissional, empresa de counselling, de São Paulo. 


Como a fama alimenta a fama, essas estrelas dos escritórios acabam mais cobiçadas e chegam a cargos ainda melhores. "Desde a infância, esses profissionais foram educados para se destacarem", diz Nélio Bilate, coach executivo da NB Heart, de São Paulo. "A competitividade é forte e eles mesmos esperam ser melhor."

Além disso, também aprendem a fazer marketing pessoal. "As estrelas fazem questão de mostrar resultados e sabem escolher os trabalhos que mais têm a ver com elas", diz Stella. O perfil muda de acordo com o setor — um astro do marketing é mais comunicativo do que um do mercado financeiro, por exemplo. Mas todos têm algo em comum: sede de crescimento. "Eles têm gana de aprender e deixar um legado", diz Mike. Nem todos, porém, conseguem fazer isso. 

Quem cresce rápido e chega ao estrelato muito jovem, situação comum nas empresas atualmente, precisa conciliar a exposição do cargo com a imaturidade. "As empresas estão promovendo funcionários muito jovens e enchendo demais a bola deles", diz Stella. O risco dessa prática é promover estrelas do mal.

São pessoas que têm uma gula enorme por méritos próprios, estimulam a competitividade ferrenha da equipe, desagregam o time, só enxergam o que elas mesmas querem ver e são muito (mas muito mesmo) duras com os resultados seus e dos outros. "Os níveis pessoais de exigência são tão altos que dá a impressão de que nunca estão satisfeitas", diz Regina Camargo, sócia-diretora da Across, consultoria de desenvolvimento humano, de São Paulo. 

É quase uma atitude de astro de rock mimado — "eu faço a minha parte e você que se vire para me acompanhar". Se houver outras estrelas na equipe, pior ainda. É só pensar nos Rolling Stones. O resultado até é bom, mas cada um age individualmente, sem espírito de equipe.

Mick Jagger e Keith Richards não param de trocar farpas, mas, quando sobem ao palco, fingem que são melhores amigos. No caso dos Stones, eles tiveram décadas para repensar o modelo que funciona para o grupo. Nas empresas, o tempo é outro. E a estrela mais fraca pode acabar em outra constelação.  

No dia a dia de um escritório, a atitude esnobe do chefe estrela pode afetar você. Nesse caso, o melhor é respirar fundo e tentar apreender apenas as coisas boas que o astro pode oferecer. Ele é ótimo em negociações? Pergunte quais técnicas ele usa para trazer bons negócios. 


"Esse tipo de profissional adora mostrar o quanto é bom e não se importa de distribuir conselhos", diz Stella. Tente não entrar na onda de inveja que pode tomar conta do ambiente. Em vez de se sentir subestimado por não ser considerado ainda um grande astro, procure compreender o que falta a você para chegar tão alto. E também entender se é realmente esse o direcionamento que você quer dar à sua carreira. "Você vai compreender quais são os ônus de ser estrela e entender se isso tem algum significado para sua vida", diz Stella.

Calma, nem tudo é pesadelo quando existe um astro em sua equipe. Existem as estrelas do bem, que sabem que precisam iluminar o time para que os bons resultados realmente apareçam. "Essas pessoas têm espírito de liderança e trabalham para alcançar a própria felicidade e irradiar isso para quem está em volta", diz Adriana Prates, presidente da Dasein Executive Search, consultoria de Belo Horizonte.

"Isso acontece porque elas têm muito autoconhecimento e sabem que precisam criar sucessores para continuar em ascendência." No começo, pode haver um pouco de ciúmes na equipe. Mas quando você sacar que o chefe (ou o colega) só quer conseguir o melhor do time fica mais fácil admirá-lo e reconhecer suas qualidades. "Se você tem um astro por perto, cole nele. Assim, vai aprender as melhores técnicas", diz Nélio, coach da NB Heart. 

Quem faz isso muito bem é o surfista americano Kelly Slater. Apesar de estar em um esporte individual, o atleta não tem insegurança de passar algumas de suas técnicas para os mais jovens e, por ter essa atitude aberta, é um dos surfistas mais admirados do mundo.

De acordo com uma pesquisa do professor Mark de Rond, da Judge Business School, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, é essa possibilidade de se desenvolver pessoalmente que cria motivações para os profissionais que trabalham com um bambambã. O estudioso afirma que as estrelas sabem como criar um time eficiente e como fazer com que cada um contribua da melhor forma possível — e isso cria oportunidades. 

Para ser um profissional estrelado, além de se dedicar ao conhecimento técnico, comece a aceitar novas responsabilidades e a buscar, espontaneamente, feedback de seus chefes e pares. "Esses são os primeiros passos. O mais importante é não ter medo de definir sua estratégia de carreira", diz Adriana.

Ou seja, se quiser mesmo ser um astro, terá de criar estratégias sólidas para chegar lá, e a fundamental é o autoconhecimento. "Sem saber seus pontos fortes e fracos, uma pessoa pode até ascender, mas a queda será rápida e cruel", diz Nélio. Por isso, tome cuidado com o seu ego: defina o que é melhor para você e nunca se ache um astro maior do que é. 

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