Recrutador: o tempo todo checando consistência de um candidato (imtmphoto/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2017 às 14h00.
Última atualização em 17 de março de 2017 às 14h00.
“Fale um pouco sobre você.” Poucas palavras causam tanta ansiedade quanto estas quando ditas numa entrevista de emprego.
E mesmo sabendo que elas estão chegando, muitos candidatos acabam optando pelo improviso, que frequentemente deixa a desejar. Mas afinal, o que constituiu uma apresentação pessoal decente?
Camila Bellato, da área de relacionamento institucional da Fundação Estudar, conduziu diversas oficinas sobre o assunto com jovens brasileiros. O intuito dos encontros é afinar o pitch, um discurso de dois minutos sobre si mesmo feito num palco para potenciais empregadores durante a Ene, a conferência profissional da organização.
“Costumo brincar que o pitch é o trailer do longa-metragem que sua vida é”, começa ela. “Um trailer tem que trazer elementos do filme para chamar a atenção de quem está assistindo e levá-lo ao cinema – ou seja, à sua vida, em que você investiu horas de estudo e trabalho árduo.”
Para tanto, a oficina trabalha aspectos de storytelling e desenvolve uma narrativa sobre as conquistas passadas, as fortalezas e os objetivos futuros do jovem. “Alguém de Recursos Humanos quer saber o que a pessoa é capaz de fazer pela empresa e, para isso, quer olhar os resultados que ela obteve em experiências passadas”, continua Camila.
Para montar seu próprio pitch, ela recomenda papel e caneta para dissecar sua trajetória e escolher situações de destaque e, a partir daí, empregar o modelo STAR (situação, tarefa, ação e resultado). Em que contexto você estava, o que realizou em termos de tarefas, que ações tomou, como colocou suas habilidades em prática e quais foram os resultados? É possível saber mais sobre esse modelo neste outro texto.
“O volume de conquistas conta bastante”, diz Leonardo Gomes, coordenador de seleção da Fundação Estudar. “Procure se envolver com uma ou mais iniciativas o tempo todo e se destacar entre seus colegas. Isso certamente vai pesar na seleção.”
Com uma primeira lista em mãos, entram em cena a edição necessária para criar uma narrativa atraente – e uma estrutura de texto funciona melhor que um texto fixo, já que evita o pânico de “dar branco” – e, principalmente, autoconhecimento e bom senso.
“É preciso focar nas experiências que você considera mais significativas e que melhor definem o profissional que você é”, conta Camila. “E lembre-se também de pensar se as experiências que está contando são significativas para a candidatura em questão.”
Autoconhecimento
Uma continuação da apresentação pessoal são as perguntas tradicionais, como principal conquista, principal erro, maiores aprendizados e seus pontos fortes e fracos, um clássico de processos seletivos.
“Vemos muitos jovens tentando encobrir os seus defeitos e o melhor é ser sincero”, fala Camila. “Responda que sabe qual é seu ponto fraco e que ações toma para desenvolve-lo e para que não impacte negativamente seu trabalho.”
Para quem não sabe por onde começar, ela recomenda a redação de uma lista de fortalezas e fraquezas e pedir feedback de amigos, familiares e colegas de trabalho sobre suas melhores características profissionais.
Para obter mais insights sobre esses assuntos, Leonardo também recomenda os testes de estilo de trabalho, personalidade e valores da Fundação Estudar, que são oferecidos gratuitamente online.
“Você vai entender mais sobre seu próprio perfil, saber se há alinhamento com a cultura de uma empresa e quanto você gostaria de estar num ambiente assim”, explica ele.
Esse tipo de conhecimento vai facilitar qualquer entrevista e apresentação, já que diminui surpresas, improvisos e falsificações.
“Ser honesto sempre vai te levar para frente”, afirma Sofia Esteves, fundadora da Cia. de Talentos e do Grupo DMRH. “Entender quais são suas características principais, mesmo aquilo que você não gosta e como vai correr atrás para melhorá-las, significa se respeitar.”
E mesmo quando uma mentira passa da primeira fase, apresentar uma faceta que não é verdadeira é um desastre esperando para acontecer. “Vão procurar no dia a dia aquilo que você não é”, continua.
Camila concorda. “Há pessoas que vendem aquilo que não são porque estão desesperadas para serem contratadas. Se você vende uma habilidade de trabalho que não tem e ela for exigida em alto nível logo no começo, pode não haver tempo para desenvolvê-la – e aí você pode ser visto como um profissional ruim.”
Munido dos insights de autoconhecimento e de informações sobre a empresa e o setor em questão – nunca subestime o poder da pesquisa –, o candidato estará mais preparado para fazer perguntas bem informadas e impressionar o recrutador.
É um ponto crucial. “Uma entrevista é uma mão dupla: você está sendo selecionado, mas precisa aproveitar para selecionar a empresa”, fala Sofia. “O pior erro, que é muito comum, é não saber o que perguntar ou mostrar claramente que não sabe nada sobre a empresa.”
Conforme a carreira avança, não é raro precisar falar sobre pretensão salarial – e chutar não causa boa impressão.
A boa notícia é que existem sites com esse tipo de informação, como Catho, Love Mondays e Hays, que disponibilizam pesquisas sobre salários por tipo de vaga, região e nível de senioridade.
“Chegue preparado”, resume Leonardo. “Entenda seu próprio perfil, o nível de senioridade em que você se encaixa e como funciona essa faixa média no mercado.”
OK, estar preparado e alerta claramente impressiona recrutadores. Mas como deixar uma impressão verdadeiramente boa?
“Perceber que o jovem está aberto a aprender e está disposto a crescer junto com a empresa faz brilhar os olhos”, conclui Sofia.