Randi Zuckerberg, empreendedora de mídia e editora-chefe do site Dot Complicated (Jemal Countess/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 29 de junho de 2015 às 18h56.
São Paulo - A frase “equilíbrio trabalho-vida pessoal” é surpreendentemente polêmica, despertando debates acalorados entre funcionários dedicados, pais que trabalham duro e pessoas que se encaixam nos dois campos.
É um objetivo que vale a pena ser perseguido, uma ideia irreal e inatingível, ou algo totalmente diferente?
Em homenagem ao National Amazing Month (Mês Incrível, em tradução livre, promovido em maio pela rede de hotéis Fairfield Inn & Suites, nos Estados Unidos, para homenagear pessoas que influenciam a sociedade de uma maneira positiva), o The Huffington Post conversou com Randi Zuckerberg – empreendedora de mídia bem-sucedida, editora-chefe do site Dot Complicated e mãe orgulhosa – para descobrir o que ela pensa e o que faz em relação ao desafio de equilibrar sua vida diária.
Suas opiniões revelam que muitos de nós enfrentamos a mesma dificuldade, nos proporciona maneiras de lidar com isso e reconhece que, no final das contas, todos somos responsáveis em encontrar uma solução personalizada que funcione no nível individual.
Leia mais para saber como Zuckerberg chega ao equilíbrio, bem como as paixões que a mantêm energizada e motivada.
O que você pensa sobre o “equilíbrio trabalho-vida pessoal”? É possível?
Acredito que você possa ter uma ótima vida no trabalho e no âmbito pessoal, mas provavelmente não ao mesmo tempo.
Muitas pessoas colocam pressão sobre si mesmas para fazer tudo perfeitamente todos os dias — ser um ótimo amigo, ótimo no trabalho, ótima esposa, ótimo pai.
Minha filosofia tem mais a ver em me dar permissão de ser “bem desequilibrada”. Então alguns dias sou totalmente carreira, em outros sou totalmente família, e desde que isso se equilibre no longo prazo, me sinto bem e me permito viver minha vida daquela maneira em vez de sentir que tenho que dar metade de mim para todas aquelas coisas, todos os dias.
Seus colegas de trabalho e família são receptivos a essa filosofia?
Sim, meu tipo de carreira tem sido um pouco diferente porque trabalho na mídia. Praticamente todo ano tive um grande projeto que me fez pegar a estrada por cerca de dois meses, me afastando da família.
No final de 2013, estava em um tour [para divulgar] um livro em várias cidades; no ano passado, tive a incrível oportunidade de atuar na Broadway; e este ano estou na verdade indo e voltando para L.A. [Los Angeles] por causa do projeto de um filme.
Então acredito que minha família com certeza tenha se acostumado com isso, quando por um período de dois ou três meses, estou totalmente dedicada à minha carreira, e quando volto para casa nos fins de semana, ou tiro um período de descanso depois disso, sou totalmente voltada para a família.
Treinei as pessoas ao meu redor para que minha carreira seja um pouco diferente do que aquele trabalho das 9h-17h e, para mim, sinto que realmente me destaco quando posso me focar em uma coisa exclusivamente, seja minha carreira ou minha família.
E isso reforça a atual tese que explica por que não somos realmente capazes de ser multitarefa.
Totalmente. E há muitas pesquisas mostrando que isso também nos torna infelizes. Estava lendo um estudo que dizia que a melhor coisa que você pode fazer para ser mais feliz é parar de fazer muitas coisas ao mesmo tempo.
Conheço diferentes pessoas que trabalham de formas diferentes, mas eu realmente preciso me concentrar em uma coisa por um período prolongado, para liberar minha criatividade.
Se estou constantemente distraída por mensagens de texto e e-mails e cuidando de outras coisas, há espaço para não me aprofundar. Sou muito mais uma pessoa do tipo “um projeto por vez”.
Você menciona que mergulha “totalmente” no trabalho ou na família. Quando se dedica “totalmente” a si mesma?
Acredito que, infelizmente, para muitos pais que trabalham, essa é a primeira coisa que deixamos de lado. Para mim, tem a ver com várias pequenas coisas.
Tento registrar meus passos todos os dias, por isso, mesmo quando às vezes estou numa ligação, faço isso enquanto caminho. Tento me infiltrar, mas poderia ser muito melhor fazendo isso.
Sendo bem sincera, é a primeira coisa que desaparece. Existe muita culpa que acompanha o fato de você dividir seu tempo, especialmente se você trabalha e tem dois filhos bem pequenos.
Realmente sinto que, em qualquer momento em que não esteja trabalhando, devo estar focada na minha família. Não tenho certeza se aquela culpa de mãe desaparece um dia, mas com certeza torna mais difícil encontrar tempo para si mesmo.
Como você lida com a “culpa de mãe” no curto prazo?
Acredito que realmente tem a ver com estar cercado de pessoas que o apoiam, o incentivam e são úteis. Tenho muita sorte de ter um marido maravilhoso que, quando digo que vou embarcar nessas aventuras, nem pisca.
Ele diz: “Claro, vou entrar no circuito e assumir a cuidado dos filhos nesses meses”. E quando demonstro sentimento de culpa, ele diz: “Nem pensar, você está fazendo muito por sua família, está dando um exemplo para que seus filhos possam se espelhar”.
E penso que ter pessoas que te fazem sentir bem sobre suas escolhas e as valida, em vez de minimizá-lo e fazer com que você se sinta culpado, é simplesmente incrível. Me sinto muito agradecida em ter pessoas assim na minha vida.
Esse nível de comunicação e compromisso pode ser difícil de atingir em um casamento. Como você consegue?
Acredito que você sabe o que esperar de uma pessoa quando a encontra pela primeira vez. No nosso caso, sempre admiramos que nós dois somos muito ambiciosos e focados em nossas carreiras, e tem um pouco daquilo de dar e receber.
Quando estou nesses grandes projetos, ele diminui um pouco as viagens ou as coisas do trabalho e, quando estou de volta, sou a que fico mais em casa para que ele possa avançar na carreira.
Tem a ver com equilíbrio no longo prazo. Nós dois não precisamos ter coisas incríveis acontecendo todos os dias ao mesmo tempo, mas desde que não olhemos para trás depois de dez anos e pensemos que um de nós cedeu mais do que o outro, acredito que é realmente a chave para o sucesso.
Você com certeza tem várias prioridades constantemente tentando ir para o topo de sua lista. Como você lida com isso?
Tenho um mantra que levo comigo nos últimos anos. Toda manhã, quando levanto, sinto que tenho cinco categorias para escolher: trabalho, dormir, família, exercícios e amigos.
E, todos os dias, escolho três entre as cinco para cada dia. Você não tem como escolher todas as cinco — muitos pais se sentem dessa forma, não é realista ou possível. Você vai ficar esgotado.
Então escolha três, e você pode escolher três diferentes todos os dias. Sempre escolho trabalho e família e, quando possível, tento escolher dormir.
Apesar de que, com um bebê de 6 meses em casa, essa pode ser difícil. Mas realmente tento substituí-las às vezes, para evitar de sempre negligenciar os amigos ou a ginástica. Desde que se equilibrem no longo prazo.
Você tem uma maneira favorita de desestressar todo dia?
Minha forma favorita é comer via FaceTime com meus filhos. Parece realmente bobo, mas às vezes apenas abro meu computador e jantamos juntos, mesmo se estamos em diferentes partes do mundo.
Às vezes nem conversamos, mas sinto que somos uma família normal sentada na hora do jantar quando fazemos isso. E, no meu caso, amo correr.
Apenas comecei a retomar, porque a maior parte do ano passado estava grávida, mas, no ano anterior, corri 1.600 quilômetros no prazo de um ano, e espero voltar àquela marca, com uma média de 5km por dia.
Ano que vem, quero atingir 1.900km. É um objetivo alcançável, mas algo que você tem que fazer e pensar todos os dias.
E sobre meditação e gratidão?
Na nossa família, sempre praticamos a gratidão. Às sextas-feiras à noite, sempre estamos juntos. Enquanto jantamos, cada um diz duas coisas pelas quais se sente grato na semana.
Acredito que seja importante ter tempo para parar e se sentir agradecido pelas coisas que você tem na vida. Adoraria começar a incorporar mais isso.
(Entrevista foi editada por motivos de clareza e tamanho)