A importância do 'não' na carreira: a proatividade em solucionar problemas pode interferir nos planos de quem quer ser visto como uma liderança em potencial (FG Trade/Getty Images)
Redator freelancer
Publicado em 20 de setembro de 2025 às 14h37.
Aprender a ajudar colegas de equipe costuma ser visto como uma virtude no ambiente corporativo. Profissionais que sempre dizem “sim” ganham fama de confiáveis, solucionadores de problemas e parceiros de última hora.
No entanto, segundo artigo na Forbes de Benjamin Laker, professor da Henry Business School e pesquisador de liderança no ambiente corporativo, essa postura pode se transformar em armadilha: sobrecarga, estagnação e desgaste emocional são consequências comuns de quem não sabe estabelecer limites.
“A verdade é que dizer ‘sim’ nem sempre é sinal de comprometimento. Às vezes, é sinal de medo. Medo de decepcionar os outros, de perder oportunidades ou de ser visto como menos dedicado”, diz o especialista.
No início, aceitar todas as demandas parece positivo. Gestores passam a considerar o funcionário indispensável, e colegas contam com sua disponibilidade.
Mas, com o tempo, o excesso de tarefas se concentra em poucas pessoas, criando desequilíbrio e gerando a sensação de que o “sim” deixou de ser escolha e virou obrigação.
Esse ciclo compromete o desempenho, segundo a pesquisa de Laker. Entregas atrasam, a criatividade perde espaço e o cansaço se acumula.
Em muitos casos, o colaborador que sempre ajuda acaba negligenciado em promoções, já que sua imagem fica restrita ao papel de executor — alguém útil para apagar incêndios, mas pouco lembrado para assumir posições estratégicas.
O professor chama esse fenômeno de “armadilha da competência”: quando a habilidade em socorrer o time se transforma em rótulo.
O resultado é um profissional visto mais como apoio operacional do que como liderança em potencial. Além disso, o excesso de disponibilidade pode ser interpretado como falta de prioridades, reduzindo o respeito dos colegas.
Por isso, saber dizer “não” é tão importante quanto estar disposto a colaborar. Recusar pedidos seletivamente não significa egoísmo, mas sim a preservação da capacidade de entregar o que realmente importa.
Mais do que isso, demonstra confiança e clareza de prioridades - o que é valorizado em cargos de maior responsabilidade.
“Pode parecer contraintuitivo, mas uma das estratégias de carreira mais poderosas é aprender a recusar pedidos. Dizer 'não' não é ser egoísta. Trata-se de proteger a capacidade de entregar o seu melhor trabalho. Quando você estabelece limites claros, os colegas passam a respeitar tanto o seu tempo quanto o seu discernimento”, afirma Laker.
Um “não” bem dado tende a aumentar a influência do profissional.
Ele sinaliza discernimento, firmeza e autonomia, características que reforçam a percepção de maturidade no ambiente de trabalho. Em contraste, o “sim” constante pode diluir a relevância de suas contribuições.
Estabelecer limites, porém, exige cuidado. A recusa seca pode soar como falta de colaboração. O ideal é comunicar prioridades de forma transparente, explicando o motivo do não e oferecendo alternativas.
Assim, a relação com o time se mantém positiva, enquanto a gestão do tempo ganha eficiência.
Outra estratégia é direcionar tarefas a colegas que estejam melhor posicionados para resolvê-las. Essa atitude demonstra disposição para ajudar sem comprometer o próprio desempenho.
"Por fim, é útil ser proativo. Ao compartilhar em que você está trabalhando e o que pode assumir de forma realista, você facilita para que os colegas compreendam seus limites. A transparência diminui o risco de mal-entendidos", recomenda o especialista.
Com o tempo, essa mudança de postura reconfigura a percepção dos demais. O colaborador deixa de ser visto como aquele que sempre aceita tudo e passa a ser reconhecido como alguém que faz escolhas estratégicas.
Essa transformação, defende o professor, abre espaço para novas oportunidades de crescimento.