Executivo no ringue: veja como lidar com a agressividade, velada ou não, de um companheiro de trabalho (Thinkstock/shironosov)
Claudia Gasparini
Publicado em 22 de janeiro de 2016 às 05h00.
São Paulo - Onde há interação humana, há potencial para desencontros e conflitos. Os ambientes de trabalho não são exceção a essa regra.
Entre os inúmeros desafios da convivência, um dos mais delicados é lidar com a agressividade de um colega de trabalho. Ainda mais se esse comportamento não tiver nenhuma explicação plausível.
O primeiro passo para lidar com a situação, aliás, é justamente confirmar se de fato não existe nenhum motivo por trás da hostilidade do outro, diz Yuri Trafane, sócio da Ynner, empresa especializada em treinamentos corporativos.
“Antes de tudo, é fundamental fazer um exercício de autocrítica”, afirma ele. “Você pode não perceber, mas faz algo que o irrita ou magoa, gerando uma reação desagradável".
E se não há mesmo nenhuma razão concebível para a atitude do seu colega? Pode ser um caso de bullying - quando a responsabilidade pertence inteiramente ao agressor, e não à vítima.
A situação não é rara: mais de um terço dos profissionais já sofreram bullying no trabalho, segundo uma recente pesquisa da consultoria Robert Half. E o pior: entre eles, apenas 32% confrontaram diretamente o colega que causava desconforto.
A primeira resposta à violência gratuita é criar barreiras de proteção, diz Carlos Aldan, CEO da empresa de treinamento Kronberg. Quanto menos convivência, menos oportunidades o outro terá para praticar as suas provocações.
E se o contato for inevitável? Surge então a necessidade de chamar do colega em questão para uma conversa - mas não sem tomar algumas precauções.
De frente com o agressor
Na hora de questionar a atitude de um companheiro de trabalho agressivo, a primeira recomendação de Aldan é não vestir a pele de vítima. “É preciso perguntar, de forma objetiva e firme, o porquê do comportamento dele”, explica.
Um ponto essencial para que o diálogo seja produtivo é o planejamento. “Prepare o que você vai dizer, tanto para usar as palavras certas quanto para reduzir a sua própria ansiedade”, recomenda o especialista.
Na hora H, é fundamental manter o controle emocional. Segundo Trafane, a palavra-chave é assertividade: ser duro com os fatos, mas suave com o interlocutor. “A pior reação a uma grosseria é devolver na mesma moeda”, diz ele. “Além de empoderar o agressor, isso faz com que os outros deixem de ficar do seu lado”.
Diversas técnicas de comunicação não-violenta, um campo de estudo desenvolvido pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, podem ser aplicadas nessa situação.
O ideal é adotar uma postura empática e evitar ataques ou acusações. Em vez de dizer “Você é agressivo comigo”, por exemplo, funciona melhor usar uma expressão mais indireta, colocando a si próprio como o centro da questão, como “Eu me sinto mal quando…” ou “Eu não sei se é evidente, mas…”.
De acordo com os especialistas ouvidos, esses sutis recursos da linguagem operam grandes transformações na conversa. Pode parecer contraintuitivo, mas demonstrar uma certa cumplicidade pode desmontar as defesas do agressor.
Em raros casos, “subir o tom” também pode ser uma saída. “Conheço muitas histórias de executivos que eram grosseiros com certos colegas, até o dia em que foram enfrentados pelas suas vítimas”, diz Trafane. “Só tome cuidado para não descer ao nível dele e ser igualmente inadequado”.
E quanto ao “passivo-agressivo”?
Nem toda hostilidade se manifesta ostensivamente nos ambientes de trabalho. Às vezes, o mal-estar está nas entrelinhas: o seu colega tem atitudes claramente agressivas, mas jamais verbaliza ou admite esse fato.
Silencioso e sutil, esse tipo de desconforto é mais difícil de solucionar, mas as técnicas para a sua abordagem são parecidas com as aplicadas a conflitos mais escancarados.
A principal diferença ao lidar com um “passivo-agressivo” está no maior risco de achar que o problema está com você - ou que você está apenas imaginando coisas.
Acreditar que você é o culpado pelas agressões, ou que tudo não passa de paranoia, não é uma postura inteligente, segundo os especialistas. “Se a pessoa está atrapalhando o seu bem-estar e a sua produtividade, a situação não pode ser ignorada”, diz Trafane.
Último recurso
Se você passou por todas as etapas já descritas e a postura do seu colega não mudou, talvez caiba uma providência mais extrema: acionar o seu gestor ou até o departamento de RH da empresa.
A postura vale inclusive quando existe risco de agressão física, por exemplo. Em qualquer caso, é importante documentar todas as ocorrências e buscar ter sempre algum colega como testemunha, orienta Aldan.
Na opinião de Trafane, o chefe deve ter uma postura proativa diante dos conflitos entre seus subordinados. “Se ele vê um agredir o outro numa reunião, por exemplo, precisa chamar o funcionário em questão para dar um feedback, sempre de forma cuidadosa”, diz.
Para Aldan, os gestores devem evitar as interferências. O chefe, diz ele, é como um pai ou uma mãe: se “socorre” os filhos a cada vez que eles brigam, eles nunca aprenderão a resolver suas diferenças sozinhos. “Um envolvimento na questão só se justifica se houver um impacto direto do conflito sobre o desempenho e os resultados dos liderados”, conclui.