(AndreyPopov/Thinkstock)
Camila Pati
Publicado em 12 de janeiro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 12 de janeiro de 2018 às 06h00.
Sete segundos. É o tempo que um empregador médio leva para ler um currículo, de acordo com a Harvard Business Review. Em mercados de trabalho cada vez mais disputados, um currículo bem feito, além de agregar valor à sua candidatura, pode se tornar também uma vantagem competitiva.
Especialista em carreiras e especialmente atenta aos millennials, Eline Kullock já viu milhares de CVs ao longo da carreira.
Entre bons, ruins, médios e terríveis, ela conclui que não existe atalho para criar um documento infalível. E é justamente aí, na busca por uma receita rápida, que os jovens ficam presos.
“A Geração Y é implementadora, mas planeja pouco”, explica. “Por isso, sempre sugiro que o jovem pare e planeje seu currículo. Não faça de qualquer jeito, porque é importante para você.”
Laszlo Bock, vice-presidente sênior de Operações Pessoais do Google, já desabafou que dar de cara com CVs ruins é frequente. O que o perturba é quando é possível ver que o candidato tem potencial. “O mais deprimente é que consigo entender que muitas pessoas são boas, às vezes ótimas”, disse.
Investir tempo na criação de um currículo, portanto, é algo que dá retorno. “É preciso refletir sobre sua carreira e não só sobre seu CV”, aconselha Eline. “Tente pensar em como transmitir, clara e honestamente, que você absorveu coisas novas.” Sem televisão ao fundo ou celular nas mãos, pense com calma no que viveu e no que vale a pena expor aos possíveis empregadores.
A questão da trajetória, fundamental na hora da entrevista, deve transparecer no currículo. Por isso, é possível incluir também trabalhos universitários ou voluntários entre suas experiências. Mesmo que não tenham sido projetos remunerados, merecem destaque se ajudaram a aprimorar habilidades como trabalho em equipe ou visão estratégica, por exemplo.
“Se estiverem fora da ‘linha’ de carreira, é algo que vai suscitar uma pergunta na entrevista e servir de gancho para desenvolver a resposta”, diz ela.
A mesma lógica vale para quem tem muitas experiências e pouco espaço: escolha as mais formadoras e que façam parte da sua narrativa. Eline compara um currículo com jogar uma pérola na mesa: tendo fisgado o interesse do empregador, você terá tempo para completar as lacunas e mostrar pessoalmente o que mais sabe fazer.
É tentador inovar no formato de um currículo, mas a não ser que seja essa sua linha de trabalho (algo como design, artes, etc.), melhor se ater ao básico. O estilo ideal ainda é papel branco, margens fixas e fontes tradicionais na cor preta e em tamanho legível.
Para facilitar a leitura, use um espaçamento consistente e experimente com itálicos, sublinhados, e negritos para destaque. Conclua exportando o documento no formato PDF, para não perder a formatação.
Parte 1: Objetivo
Logo após seus contatos pessoais, descreva seu objetivo em uma ou duas frases. Deve ser algo curto, simples e refletir brevemente sua expertise, como se fosse um ‘pitch de elevador’. Essa frase inicial pode ser customizada de acordo com cada candidatura e deve aliar claramente sua experiência com as necessidades da vaga.
Eline frisa a importância de não listar suas próprias habilidades aqui, como “administrador com boas relações interpessoais”. É comum, mas errado. “Não cabe a você se autoavaliar porque quem vai fazer isso é seu entrevistador”, resume.
É algo que salta aos olhos, já que um bom currículo é aquele que foca em ações e resultados. Portanto, elimine o polêmico campo ‘Habilidades’ do seu arquivo e guarde essas informações para um encontro em pessoa.
Parte 2: Experiência
Em seguida, é hora de preencher o campo mais temeroso para alguns. A ordem cronológica deve ser inversa, do posto atual ou mais recente ao mais antigo. Se estiver na mesma função há vários anos, invista em mais espaço para mostrar como cresceu por lá.
O que colocar como experiência é uma dúvida recorrente, especialmente entre os mais jovens com pouca ou nenhuma atuação no mercado. “É importante mostrar que você foi à luta, que cresceu e que absorveu coisas novas”, sintetiza Eline, lembrando novamente que aqui cabem diversos tipos de atividades, como estágio de férias ou voluntariado. “O que vai ali é o que te enriqueceu como profissional.”
Quem dispuser de números e dados que quantifiquem resultados, como ‘número de visitantes cresceu 50%’ ou ‘o portfólio de clientes dobrou’, deve fazê-lo. Isso porque é mais importante descrever suas conquistas que suas responsabilidades. Como você fez a diferença? Que metas atingiu? Que projetos criou ou implementou?
Também é preciso otimizar suas chances. Como a maioria das candidaturas e pesquisas por parte dos recrutadores são feitas online, ter um currículo alinhado com as palavras-chave do momento é fundamental.
Um bom recurso é a página de competências mais buscadas no Linkedin, em que é possível pesquisar termos populares dentro de sua própria profissão.
Parte 3: Formação
Neste campo ficam todas as informações educacionais e diplomas, como escolas, universidades e outros cursos acadêmicos, como especializações, extensões e intercâmbios. Seja sucinto e inclua nome da instituição, tipo de diploma, curso, cidade e ano de conclusão.
É aqui também que ficam as informações sobre outros idiomas. “Por favor, coloque os níveis corretamente e não diga que é fluente se não for”, pede Eline, que vê exageros com frequência.
“A pior coisa que você pode fazer é mentir no seu currículo, então prefira ser comedido para na hora poder se explicar.”
Parte 4: Referências
Encerre o CV com uma lista de três referências, com nome, cargo, telefone e e-mail de cada uma. Se a relação entre vocês não estiver clara, será possível fazer a ponte numa futura entrevista.
Sobre a inclusão de links de portfólio ou envio de trabalhos para avaliação, vale o bom senso. “É preciso olhar para sua área e para onde você está se candidatando”, fala a especialista.
1. Incluir uma foto sua ou outros dados desnecessários
“A não ser que você trabalhe como modelo, ter sua foto ou gênero no currículo é totalmente desnecessário”, ri Eline.
Também são desnecessários dados em excesso, como RG e CPF, e endereços de e-mail pouco profissionais: tenha um com seu nome ou palavra neutras, sem adjetivos, apelidos ou diminutivos.
2. Erros de digitação e/ou gramática
Em seguida, é preciso ler e reler o arquivo em busca de erros de digitação e português, que dão grande desgosto aos recrutadores e praticamente garantem que o currículo vá parar no fim da fila.
3. Esquecer de incluir alguma coisa
É uma boa ideia enviar o CV para olhos frescos de amigos, mentores e colegas mais experientes antes de usá-lo profissionalmente. Peça feedback tanto ortográfico quanto crítico e faça perguntas para preencher as lacunas.
Seu currículo chama atenção positiva ou negativamente? Há algo que você fez que não esteja lá e deva estar (ou vice-versa)? Está legível ou confuso?
4. Omitir informações
Outro erro comum é a omissão de informações que o candidato considera desfavorável, como tempo de permanência curto. Como a experiência foi suficientemente relevante para garantir um lugar no currículo, não tem problema colocar ali que durou pouco.
Esforce-se na descrição para demonstrar o que foi conquistado ali e, caso a duração vire assunto na entrevista, esteja pronto para responder o que aconteceu.
A mesma lógica se aplica a pessoas que têm hiatos longos, às vezes de anos, entre uma experiência profissional e outra. Ninguém fica quatro anos sem fazer coisa alguma – e o buraco chama a atenção de quem está lendo.
Existem pessoas totalmente desligadas das redes sociais e, se você for uma delas, pode pular essa seção. Caso contrário, é hora de refletir sobre sua presença online.
Perfis em redes pessoais como Facebook, Twitter e Instagram associados ao seu nome são parte da triagem profissional com frequência cada vez maior, então é preciso estar atento às mensagens que transmitem.
Isso não significa que não é mais possível se expressar livremente, mas que o bom senso é vital quando se trata de quem pode ver o quê.
Se o candidato está em plena busca por emprego, enviando currículos e participando de processos seletivos, é uma boa ideia deixar perfis no modo privado ou ajustar as configurações de privacidade.
Laszlo Bock, do Google, oferece um teste bastante útil em tempos de exposição múltipla. “Se você não quer ver algo ligado ao seu nome na página principal do ‘The New York Times’, não coloque no currículo”, escreveu ele.
Opiniões fortes, notícias falsas, informações confidenciais de outras empresas, fotos não profissionais… Tudo isso pode influenciar um avaliador.
O exemplo é extremo, mas instrutivo. Pense em seus perfis como uma extensão audiovisual do seu currículo: se houver alguma coisa ali que você não quer ver ou comentar durante uma entrevista de emprego, apenas não deixe visível para qualquer um.
Por fim, alinhe seu currículo novo com a versão online do LinkedIn, que deve estar sempre atualizada e profissional.
“Ali, é possível ir além do currículo, integrar grupos de discussão e pesquisar empresas pelas quais você se interessa”, lembra Eline. “É uma forma de se comunicar com o mercado que envolve pensar estrategicamente.”