Rafael Campos, 24 anos, da Vtex: persistência para convencer (Ricardo Benichio / VOCÊ S/A)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2013 às 19h31.
O administrador Rafael Campos, de 24 anos, de São Paulo, hoje sócio da Vtex, desenvolvedora de software para comércio eletrônico, entrou na empresa como estagiário há três anos. Em seis meses de trabalho, percebeu que um sistema que a companhia estava criando não daria retorno.
A partir daí, passou a sugerir mudanças no projeto para os líderes. Como moral de estagiário costuma ser baixo, Rafael precisou insistir muito até ser ouvido. De dez reuniões que agendava, oito eram desmarcadas. Quando finalmente emplacou sua ideia, ganhou o respeito dos líderes.
Estimulado, fez outras sugestões e, pouco mais de um ano depois, recebeu o convite para ser sócio. "Tenho automotivação suficiente para não desanimar"”, diz Rafael.
Hoje, novas ideias valem muito para as organizações porque ajudam tanto na inovação quanto na redução de custos. É comum encontrar lugares que estimulem o funcionário a indicar melhorias, inclusive oferecendo prêmios como dinheiro, bônus, produtos e vale-compras.
Além dos ganhos para o negócio, existe a percepção de que ver uma proposta aprovada motiva o empregado, o que contribui para sua permanência no emprego. Uma pesquisa da firma de recrutamento Michael Page com 200 profissionais brasileiros mostra que 63% deles reconhecem iniciativas de estímulo a novas ideias onde trabalham.
"É o tipo de jogo em que todo mundo sai ganhando", diz Lilian Graziano, professora de gestão de pessoas da Trevisan Escola de Negócios, de São Paulo. "A companhia economiza porque retém e deixa as pessoas mais satisfeitas", diz. A pesquisa mostra que 87,7% dos profissionais sentem-se estimulados a dar contribuições.
Mesmo que não exista um prêmio material envolvido, propor alternativas traz um outro tipo de benefício ao funcionário: o ganho de visibilidade, que deixa seu nome em evidência e pode definir uma decisão de aumento ou promoção. Isso só vai ocorrer, no entanto, se a ideia for verdadeiramente boa.
"Quando a empresa cria estímulos para obter sugestões, o número de besteiras aumenta tanto quanto o de material aproveitável", diz Marisabel Ribeiro, consultora de capital humano da Mercer. Para não entrar na lista dos projetos que vão para o lixo, a recomendação é levar o assunto a sério e atentar para os processos que fazem parte de sua rotina. A ideia que pode mudar uma rotina ou um produto talvez esteja nos detalhes.
Por conhecer bem suas atividades, o profissional está numa posição privilegiada para identificar oportunidades de melhoria. Pequenas medidas que trazem ganhos de eficiência, redução de custos ou maior velocidade são as que mais chamam a atenção.
"As organizações têm dificuldade de enxergar onde estão os obstáculos e, se o profissional faz isso, já recebe a atenção do gestor", diz Remulo Farias, diretor de ações estratégicas da Associação Brasileira de Recursos Humanos na Bahia. Quanto mais números você puder reunir (tempo perdido, recursos desperdiçados etc.), maiores as chances de acerto de sua inovação.
Um cuidado importante na hora de vender uma ideia é explicar quem vai se beneficiar com ela e por quê. Buscar essas informações é tarefa do profissional interessado em participar da gestão. Quanto mais claros forem os dados, maior será a certeza de que a ideia realmente vai produzir a melhoria imaginada.
E quem trabalha num lugar que não tem canais de comunicação ou mesmo processos definidos para receber a opinião do funcionário? Nesse caso, uma saída é propor o assunto ao chefe. Mas cuidado. Planeje a apresentação de maneira que seu trabalho seja reconhecido pelo restante da organização e o mérito fique apenas com seu líder.
"Dependendo do chefe, você corre o risco de ele reivindicar a autoria do projeto", diz Antonio Carlos Teixeira, autor do livro Inovação: Como Criar Ideias que Geram Resultados (Ed. Qualitymark). Uma saída é informar outro responsável, além do chefe. Pode ser o RH. Assim a ideia fica mais protegida de um eventual roubo.