Thakur S. Powdyel, ex-ministro da educação do Butão: "Precisamos entender que a felicidade não é um luxo, mas uma necessidade que deve ser contemplada em qualquer ambiente profissional. Funcionários felizes são mais dedicados, criativos e mais produtivos" (Renato Alves/Agência Brasília/Divulgação)
Repórter
Publicado em 2 de novembro de 2024 às 15h32.
Última atualização em 2 de novembro de 2024 às 15h45.
Em um mundo que muitas vezes associa progresso ao crescimento econômico, o Butão oferece uma perspectiva diferente, onde o verdadeiro desenvolvimento é medido pela Felicidade Interna Bruta (FIB). Esse conceito criado no país asiático busca medir o desenvolvimento de uma sociedade de forma mais ampla do que o Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto o PIB foca apenas na produção econômica, a FIB leva em consideração aspectos que afetam diretamente o bem-estar e a felicidade da população, como saúde, educação, meio ambiente, preservação cultural e equilíbrio psicológico.
O ex-ministro da educação do Butão, Thakur S. Powdyel, compartilhou suas reflexões a respeito da FIB e sobre a importância de expandir a felicidade como valor social no mundo durante o evento “Felicidade Exponencial”, 1º Lab Internacional de Felicidade e colaboração, realizado em Curitiba pela The World Happiness Foundation e a FairJob, nesta sexta-feira, 1, no Espaço Namata, um local rodeado pela natureza. A EXAME teve acesso exclusivo ao evento, que recebeu mais de 15 palestrantes internacionais e nacionais, para falar especialmente sobre felicidade no mercado de trabalho.
Para o ex-ministro do Butão, a felicidade é uma aspiração comum que transcende barreiras culturais, geográficas e temporais, refletindo o desejo universal de todos os seres humanos.
"Todos nós queremos ser felizes, e isso é algo que atravessa fronteiras, culturas e épocas. Vejo este evento como um convite para que mais pessoas conheçam essa cultura e se juntem nessa jornada”, diz Powdyel.
O Butão lançou o conceito de Felicidade Internacional Bruta nos anos 1970, quando o quarto rei, propôs uma alternativa ao Produto Interno Bruto (PIB). A visão do rei foi criar uma sociedade em que o bem-estar fosse priorizado, respeitando a natureza e promovendo a satisfação humana.
"A FIB é uma visão única, mas também universal," diz o ex-ministro. "Embora tenha nascido no Butão, ela toca em um desejo comum de todos os povos."
A diferença entre a FIB e o PIB é significativa, segundo o ex-ministro. Enquanto o PIB foca em bens e serviços materiais, a Felicidade Nacional Bruta busca um desenvolvimento holístico, considerando as necessidades emocionais e espirituais das pessoas.
"O modelo convencional de desenvolvimento, baseado no PIB, é limitado," afirma Powdyel. "Nós somos mais do que consumidores, temos necessidades mais profundas que não podem ser atendidas apenas por bens materiais."
O objetivo da FIB, segundo o ex-ministro de educação do Butão, é inspirar as novas gerações a buscarem uma vida equilibrada, onde o material não seja o único parâmetro de sucesso.
"Para as futuras gerações, a felicidade será ainda mais relevante. Precisamos ensinar nossos jovens que o sucesso não se limita à acumulação de bens, mas sim à busca por um equilíbrio entre o material e o espiritual," afirma.
Além de inspirar jovens, ele acredita que o primeiro passo para uma mudança de paradigma é fortalecer o ambiente doméstico e educacional.
"A mudança começa em casa, nas escolas e nas nossas comunidades," diz Powdyel. "Precisamos criar ambientes de paz e harmonia, onde a confiança e o respeito sejam valores centrais."
O papel dos líderes corporativos também é enfatizado como fundamental para a promoção desse modelo de desenvolvimento. Segundo o ex-ministro, eles devem ir além dos ganhos financeiros, criando condições que permitam o florescimento da felicidade nas sociedades.
"Líderes têm o poder de transformar," conta Powdyel. "Eles podem e devem criar condições para que os trabalhadores se sintam valorizados, onde possam crescer pessoal e profissionalmente, e onde o sucesso do indivíduo seja tão importante quanto o sucesso da organização".
Ao priorizar a felicidade no ambiente de trabalho, as empresas podem não apenas elevar a satisfação dos funcionários, mas também aumentar a produtividade e o engajamento, afirma o ex-ministro.
"Precisamos entender que a felicidade não é um luxo, mas uma necessidade que deve ser contemplada em qualquer ambiente profissional. Funcionários felizes são mais dedicados, mais criativos e, por consequência, mais produtivos", afirma.
O conceito da FIB, segundo o ex-ministro, é ainda mais crucial em um mundo com recursos naturais limitados, porque incentiva uma abordagem de desenvolvimento sustentável – não é à toa que o país asiático considera o meio ambiente como um dos 9 indicadores de avaliação:
Para Powdyel, precisamos questionar a obsessão por produção e consumo, que leva à exaustão dos recursos naturais e humanos.
"A FIB nos convida a olhar para o desenvolvimento de forma mais ampla, considerando o impacto que deixamos para as futuras gerações, afinal, a felicidade é o verdadeiro propósito do desenvolvimento, e é possível alcançar um progresso mais justo e humano ao valorizar a paz, a harmonia e a sustentabilidade.”
O Butão, conhecido como o "Reino da Felicidade", fica na região do Himalaia, fazendo fronteira com a China e a Índia, e é um dos menores países da Ásia, abrigando hoje uma população de menos de 850 mil habitantes. A economia butanesa é caracterizada por uma das menores da Ásia, com um PIB per capita de 3.490 bilhões de dólares, mas há sinais de avanço na área econômica, para além da felicidade. Neste ano, o governo butanês demonstrou sinais de abertura econômica, como a recente decisão de permitir a importação de carne de frango do Brasil.