Home office: (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Victor Sena
Publicado em 16 de novembro de 2020 às 14h51.
Última atualização em 16 de novembro de 2020 às 16h21.
No Brasil, cerca de 10% da população empregada mantém-se em trabalho remoto de acordo com o IBGE, mesmo que a pandemia do novo coronavírus tenha dado sinais de queda no país.
Mas a falta de fronteiras entre a vida pessoal e o trabalho tem levado essas pessoas a trabalharem mais. Uma pesquisa da Harvard Business School com 3,1 milhões de pessoas mostrou que a carga de trabalho aumentou 48,5 minutos. O estudo também apontou que aumento no número de e-mails trocados e de tempo em reuniões
A opinião do brasileiro sobre o home office também ficou menos otimista ao longo da pandemia. Um levantamento de comentários em redes sociais feito pela Orbit Data Science mostra como isso mudou: em janeiro, quando o isolamento social ainda não havia sido implantado no Brasil, cerca de 70% das pessoas elogiam a prática. Entre abril e junho, a aprovação chegou a 45%.
Especialistas em carreira ouvidos pela EXAME ressaltam que planejar o dia, exercitar o foco para cumprir as metas de entrega e ter diálogo com a chefia, no caso de exageros, são o caminho para que o home office não vire problema, em vez de solução.
Para os especialistas em carreira ouvidos pela Exame, o foco é um dos principais desafios de quem se mantém em home office, e a sua falta está por trás de uma eventual baixa produtividade. E isso pode atrapalhar na definição dos limites.
A pesquisa da Harvard Business School mostra que muitas vezes as pessoas trabalham horas a mais para compensar momento de distração, ou que tiveram interrompidos durante o dia.
Susanne Andrade, coach e autora de livros sobre carreira, destaca que colocar limites para evitar ser interrompido pela família é fundamental. Esses limites também são importantes para garantir saúde mental.
“A pessoa tem que ter disciplina para entrar no horário que gostaria, mas também para ter espaço para a vida pessoal. Se não, a pessoa começa a negligenciar seu lado pessoal”. “Assim como no trabalho muita gente tem foto da família, e coisa do tipo, no home office tem que fazer o contrário. É importante o profissional se olhar se algum aumento de produtividade é sustentável, ou se ele está se acabando agora com medo de alguma demissão. Para isso, ele precisa ter esses cuidados."
O foco é importante para a definição dos limites porque uma razão que também foi apontada pela Harvard Business School como motivo pelo qual as pessoas trabalham horas mais são as distrações, interrupções e pausas durante o dia.
Para trabalhar melhor (o que não significa trabalhar mais), Susanne Andrade e a coach e consultora em gestão organizacional Lucedile Antunes também destacaram o conhecimento sobre o próprio corpo.
Assim, a produtividade é melhor e a brecha para distrações, e o trabalho se acumular até tarde da noite, cai.
“É importante a pessoa se conhecer, para entender o ritmo de cada um. Para quem tinha o hábito de ir para o trabalho, é importante a pessoa criar um ritual parecido, em que ela tome banho e troque de roupa e isso sirva de gatilho de que ela começou a trabalhar, criar um espaço para trabalhar”, defende Susanne.
Lucedile Antunes também acredita que cuidar da autoestima, se arrumando para trabalhar, garante mais produtividade.
Além disso, definir o horário em que o trabalho começa e o horário em que ele termina reforça essa questão de encarar o home office como o trabalho normal.
“O trabalho de home office requer essa capacidade de identificar qual momento do dia seu corpo funciona melhor. E isso vai ajudar a pessoa a colocar trabalhos que precisam de mais foco no momento em que vai ter menos interrupções.”
Ao focar em metas “entregáveis”, o colaborar pode conseguir reforçar os limites e as fronteiras de até que horário vai trabalhar.
Lucedile Antunes aposta que, ao mostrar seu planejamento para a chefia, também é possível garantir uma boa impressão, além disso ser fundamental para explicar como gostaria que seu trabalho fosse acompanhado ao longo do dia.
Susanne Andrade defende a responsabilização por si mesmo como um comportamento que os colaboradores precisam desenvolver. Em vez de esperar que o líder ou a empresa aja, tomar a iniciativa de comunicar seus problemas.
Para mostrar para a chefia que está descontente com exageros na quantidade de trabalho, mensagens fora do horário, é importante dar feedback.
“É papel do líder fazer o acompanhamento da equipe, mas o profissional não pode ficar esperando. Ele tem que dizer os horários em que ele não conseguirá dar a atenção ao trabalho. Então tem que fazer com negociação, reflexão e auto responsabilidade.”
Lucedile Antunes reforça que é preciso fazer isso com estratégia.
“A conversa deve ser franca, de alinhamento, mas com estratégia. Para alinhar as expectativas, a agenda durante o dia e conciliar as dinâmicas. Tudo isso sendo negociado e combinado. O problema é que muitos colaboradores têm medo. Mas se não tiver essa conversa, a vida dele vira um inferno. Ele mantém o emprego, mas perde o casamento. Não tem fórmula mágica”
Para Marcelo Arone, especialista em recolocação executiva, a definição dos limites também é papel da liderança e do setor de Recursos Humanos.
“O líder que se formou nessa pandemia é de um perfil que saiba delegar, de acordo com a entrega de cada funcionário. O tipo de cobrança e demanda tem que ser de acordo com as particularidades de cada um. A cultura corporativa vai ter que adaptar as políticas de Home Office. RH e líderes têm que estipular alguns limites, e deixar claro que devem ser respeitados, salvo em caso de exceções.”