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Da Redação
Publicado em 17 de maio de 2013 às 16h36.
São Paulo - O Brasil está namorando a condição de país com pleno emprego. Está cada vez mais fácil conseguir financiamento para trocar de carro ou adquirir a casa dos sonhos. O brasileiro também está com mais dinheiro no bolso. O resultado destas três variáveis é um aumento do consumo em um patamar nunca antes visto.
O bom é que a taxa de inadimplência está abaixo da média histórica, o que significa que as pessoas estão comprando mais e pagando em dia. Os economistas acreditam que não há nenhum fator que possa alterar o cenário do país nos próximos anos. Na pior das hipóteses, se tudo der errado, o consumo diminuiria um pouco.
Já que neste momento é possível comprar tudo o que você quer, é bom seguir algumas recomendações para não gastar dinheiro à toa. A primeira dica dos especialistas é olhar para a taxa de juro do crédito ao consumidor, que ainda está alta, embora tenha havido um recuo nos últimos anos.
Segundo dados do Banco Central (BC), o juro médio para a pessoa física caiu a 39,9% ao ano, em agosto. Em 2006, a taxa era de 55,7% ao ano. Com juros elevados, a recomendação é economizar para comprar à vista. “O crédito serve para antecipar a compra e os juros são o custo da antecipação desse sonho, o preço da impaciência”, diz Alexandre Andrade, economista da Tendências Consultoria, de São Paulo.
Mas uma boa parte dos consumidores está disposta a pagar esse preços para ter o que deseja imediatamente. Quem tem paciência para economizar durante anos e comprar um carro zero à vista? Poucas pessoas. Os dados do BC mostram que os maiores aumentos nas linhas de crédito foram para a compra de veículos, casas e crédito consignado. Como nessas modalidades de empréstimo há sempre uma garantia, a inadimplência é baixa.
Se você deixar de pagar a casa ou o carro, o banco pode tomar o seu bem. E as parcelas do crédito consignado são descontadas diretamente do contracheque, portanto, não há como dar calote. Com isso, a taxa de maus pagadores ficou em 6,2% em agosto, abaixo da média histórica, que é de 7,1%. “E deve continuar assim. Só mudaria se algo ameaçasse o mercado de trabalho ou o custo dos financiamentos, mas isso não está no radar”, diz Alexandre.
Nos últimos três anos, 30 milhões de consumidores ingressaram na economia. São pessoas que não estavam acostumadas a comprar com tanta facilidade nem fazer crediários, e podem se endividar além da capacidade de pagamento.
“Elas têm necessidades reprimidas, pouca experiência e podem cair na inadimplência, mas o número não é representativo”, diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Atualmente, não há nada que impeça você de realizar seus sonhos de consumo. A dica, porém, é comprar com parcimônia e não se jogar no consumismo.
Consumo ou Consumismo?
Consumir é bom para todo mundo. Permite que a economia se movimente, gerando riqueza para as empresas e para o país. Além disso, a neurociência tem mostrado que comprar faz o corpo liberar dopamina, uma substância que produz a sensação de prazer e motivação.
Porém, Márcia Tolotti, psicanalista e coordenadora de programas de educação financeira in company, faz um alerta: comprar também vicia. E isso não é só uma expressão. Ela garante que a dependência é igual à provocada por álcool e psicotrópicos, como maconha e cocaína.
Especializada em marketing, Márcia diz que a sociedade de consumo formou-se a partir da década de 50 e já foi superada. Dos anos 90 para cá, vivemos a era do hiperconsumo, em que é comum as pessoas deixarem de ser consumidoras para se tornarem consumistas.
"Elas criam a ideia de que precisam de algo, sem pensar. Usam a desculpa de que merecem, e consomem a partir desse conceito frágil de necessidade", afirma a psicanalista.
Para ter consciência de seu papel de consumidor, o primeiro passo é assumir que suas necessidades são bem restritas e que tudo aquilo que é adquirido além disso é um desejo. Num segundo momento, é recomendável avaliar se o ato de comprar funciona como uma bengala para frustrações, inquietudes ou inseguranças.
"Saber por que compramos é muito importante", diz Márcia, acrescentando que a pessoa é dependente do consumo quando busca prazer para aplacar algum outro sentimento desagradável, e nada passa a ser melhor do que comprar.
Dependência
Um sinal claro de dependência do consumo é o endividamento. A fatura do cartão foi parcelada, o limite do cheque especial estourou e aquela circuladinha pelas lojas continua a todo vapor. Até que surge a inadimplência.
Quem não tem problemas financeiros também corre riscos. Confundir os momentos de lazer com oportunidades para comprar é outro sintoma da dependência do consumo. "Se os passeios acabam sempre no shopping e as viagens são para fazer compras, algo está errado", alerta Márcia.
Adquirir coisas que não serão usadas também é um sinal que merece atenção. “Tem gente que possui roupas com etiquetas no armário, que nunca foram usadas, e mesmo assim continua comprando”, diz Márcia. Outro ponto a ser observado é a frequência com que as sacolinhas balançam em suas mãos. Segundo a especialista, não é normal uma pessoa ter o hábito de todas as semanas se presentear com objetos que não sejam essenciais.
Uso Consciente
Para consumir o que você quiser de um jeito consciente, é preciso refletir na hora de comprar, de usar o produto e também no momento de descartá-lo. O conceito de consumo consciente, que se difunde cada vez mais, busca minimizar os efeitos negativos das aquisições e aumentar os pontos positivos. Ele não quer acabar com as compras.
"O consumo consciente é voltado à sustentabilidade, para que se possa comprar hoje e no futuro também", diz Hélio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, em São Paulo.
Na hora de comprar, o consumidor consciente não vacila em adquirir um produto cuja produção terá menor impacto no meio ambiente, que foi feito por uma companhia que utiliza práticas de responsabilidade social. Parece complicado e trabalhoso, mas não é. Ao procurar por uma geladeira, por exemplo, é possível optar por um modelo que tenha menor consumo de energia, pois esse detalhe está especificado nas características técnicas do produto.
Quanto ao fabricante, não é difícil saber quais são as empresas que promovem ações sociais. Geralmente, elas estão na lista dos melhores lugares para trabalhar e desenvolvem programas de redução de emissões de carbono, por exemplo. Essas companhias fazem questão de divulgar suas atividades.
Uso certo
O uso correto de um produto é mais fácil ainda de ser feito. Só depende de você. Aparelhos eletroeletrônicos não devem ficar em stand by. Para ter uma ideia do desperdício, Hélio Mattar diz que uma televisão gasta 25% da energia que consumiria ligada quando o modo stand by está acionado.
Outra regra: não troque de modelo à primeira avaria ou sempre que um fabricante anunciar o lançamento de um produto novo. "Não devemos ficar atraídos por qualquer mudança em um bem durável. A lógica é: quanto menos se troca de produto, menos desgaste provocamos na natureza", diz Hélio, acrescentando que essa atitude pode diminuir a criação de novos empregos industriais, mas aumenta os postos de trabalho no setor de serviços, equilibrando a economia.
No que se refere ao descarte dos produtos, o princípio básico é optar pela reciclagem. Quando o assunto é lixo doméstico — descarte de embalagens e outras pequenas coisas —, é mais fácil porque existe a coleta seletiva em várias cidades e outras regiões dispõem de postos fixos, onde é possível depositar o lixo do dia a dia. Já produtos como pilhas, lâmpadas ou bens duráveis podem exigir mais empenho. Para isso, a dica é consultar os sites da Secretaria do Meio Ambiente da sua cidade ou acessar o site do Instituto Akatu (www.akatu.org.br).
Consumo profissional
Nos últimos anos, o consumo adquiriu papel de destaque na formação da identidade dos executivos e muitas das compras estão associadas à própria atividade profissional. São roupas para trabalhar, aparelhos eletrônicos como notebooks e celulares, além de livros e cursos para aperfeiçoamento.
Além disso, há aqueles itens que estão ligados ao que se espera de um executivo: um bom apartamento, carro novo e viagens ao exterior. Mesmo com essas evidências, Renata Cavalcanti Sid Rodrigues, psicóloga pós-graduada em administração, esperava outro resultado quando começou a pesquisar sobre a importância do consumo na formação da identidade dos executivos para sua tese no curso de pós-graduação em administração de empresas do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead).
Ela garante que, apesar de o consumo ter adquirido grande importância nas últimas décadas, não é o fator principal da construção de uma carreira.
O consumo divide as honras, lado a lado, com o trabalho. "Existe a percepção de que o consumo é mais forte e que o trabalho é só instrumento para consumir, mas na minha pesquisa não foi isso que apareceu." Depois de entrevistar 16 executivos de grandes empresas nacionais e multinacionais instaladas no Brasil, Renata concluiu que o acesso ao consumo é grande e há prazer nisso, mas a satisfação com o que se faz continua sendo fundamental para o executivo.
Ela explica que o trabalho descrito pelos entrevistados tem perfil diferente daquele de um passado não tão remoto. "Hoje as pessoas não citam uma organização. Elas falam das atribuições e do prazer que têm de trabalhar, ressaltam as atividades que exigem desenvolvimento pessoal, dinâmicas e mudanças", afirma Renata.