Marcelo Gleiser: "na ciência, você está sempre sendo desafiado pelo desconhecido" (Reprodução/Youtube)
Camila Pati
Publicado em 14 de novembro de 2016 às 15h46.
Já pensou se fosse possível aprender sobre teorias da relatividade, mecânica quântica, buracos negros, Big Bang, entre outros temas complexos, sem necessariamente entender de fórmulas matemáticas?
Essa é a proposta do brasileiro Marcelo Gleiser, professor de física e astronomia em Dartmouth College, nos Estados Unidos. Lá, ele ministra um curso conhecido como Física para poetas, que aborda uma de suas especialidades: a cosmologia (estudo da estrutura e evolução do universo). “O curso é aberto para estudantes de várias idades e áreas do conhecimento. O único pré-requisito para assistir às aulas é ter curiosidade”, diz, em entrevista exclusiva aos portais Na Prática e Estudar Fora.
Marcelo é conhecido por disseminar conceitos da ciência de forma simples, inclusive para leigos. Aos 57 anos, já escreveu mais de 100 artigos, dezenas de ensaios e oito livros sobre seus objetos de estudo. Em sua obra mais recente, A simples beleza do inesperado: um filósofo natural em busca de trutas e do sentido da vida (2016), recupera recordações e memórias de viagens que fez pelo mundo para, através de metáforas, compartilhar seus aprendizados.
“Na ciência, você está sempre sendo desafiado pelo desconhecido. Ao longo da vida, você também tem que se reinventar como pessoa e se criar novos desafios”, compara. “No meu último livro, a pesca é um símbolo disso, uma metáfora do conhecimento. Nessa altura da minha vida, estou começando algo novo e me redescobrindo como pessoa. A técnica fly é complicada e me coloca no lugar de aprendiz. Isso traz uma humildade muito grande, entre outras lições.”
Também com o objetivo de democratizar a ciência, Marcelo lançará em 31 de janeiro de 2017 o curso online gratuito Questione a realidade!, em inglês e português, em que discorrerá sobre como a física e a filosofia mudaram nossa perspectiva sobre a natureza do universo, da matéria e da mente ao longo do tempo. “Tenho uma postura iconoclasta em relação ao poder da ciência. Ela é obviamente um modo de explorar e entender o mundo, mas não é o único e tem limites fundamentais. Por ser um método de conhecimento criado por nós, é, consequentemente, falível.”
Uma das principais críticas de Marcelo é que a ciência ainda se limita ao meio acadêmico. “O papel do pensador científico é informar as pessoas de forma que elas possam pensar criticamente e individualmente sobre o que está acontecendo no mundo e tomar melhores decisões para suas próprias vidas e para o futuro da sociedade como um todo”, diz. “Ciência é muito mais do que construir uma nova sonda para marte ou desenvolver um novo iPhone. Ela é uma parceira no processo de autoconhecimento e de posicionamento em relação ao mundo.”
Assista a outros trechos da entrevista a seguir:
*Este artigo foi originalmente publicado pelo Na Prática, portal de carreira da Fundação Estudar