(VectorInspiration/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 08h00.
A pandemia do coronavírus impôs desafios pessoais e profissionais até para as pessoas que já estavam habituadas a desempenhar várias tarefas, mas se antes bastava apostar na organização, agora a crise sanitária nos lembra de que é preciso saber a hora de descansar.
Sobre esse e outros assuntos que envolvem produtividade, a voluntária da Fundação Estudar, Maria Guerra, conversou com dois profissionais superprodutivos no terceiro dia da Super Week, uma semana de encontros exclusiva para participantes dos cursos da instituição.
Nascida em Sertãozinho, no interior de São Paulo, Flávia Faugeres fundou a Learn to Fly – plataforma digital de mentoria – e, atualmente, se dedica a um programa acadêmico sobre Impacto Social na Universidade de Harvard. Já o publicitário e escritor carioca Daniel Bovolento, autor do blog Entre todas as coisas e finalista do prêmio Jabuti, se dedica, além da Literatura, também ao trabalho em agência.
A condutora do bate-papo define produtividade como a tentativa de “fazer o máximo de coisas possíveis no tempo que se tem disponível, sem perder a qualidade”.
Mas como vencer a procrastinação? Para Flávia, a principal dica é ter rotina até mesmo para ler e-mails – hábito ao qual ela dedica 30 minutos de manhã e mais meia hora à noite, sempre. Ao organizar a agenda, porém, é fundamental eleger prioridades e ter os pés no chão.
“Sabe aquela noção de que você vai conseguir fazer tudo na vida? Não vai rolar!”, diz. A empreendedora também reforça a importância dos momentos de pausa. “Descansar é parte imprescindível de produzir.” Na mesma linha, Daniel complementa que ser produtivo não significa dar conta do todo, mas fazer o que deve ser feito, no tempo que se tem.
Se por um lado o isolamento social modificou a forma como nos relacionamos, por outro a pandemia intensificou o uso da tecnologia, o que impactou a educação, impulsionando aulas online. Para melhorar o desempenho e conseguir conciliar a alta carga de leitura de Harvard com o papel de mãe e executiva, Flávia conta que inverteu o jeito de aprender, passando a estudar, sozinha, os temas de que mais gostava no curso. Aí, quando chegava o momento, o encontro virtual funcionava mais como uma revisão. “Fui criando um jeito de ficar mais ativa que a própria aula”, afirma.
Na visão da fundadora da Learn to Fly, comprometimento é indispensável – e as pessoas comprometidas costumam ter também outras duas características: disciplina (ligada a cumprir regras da maneira como são estabelecidas) e empenho (que é como ela chama a capacidade de se dedicar a algo com paixão, “deixar fluir”).
No entanto, a sinceridade consigo é outro ponto que merece atenção: não adianta agendar uma aula em um horário que você sabe que não vai render (como nas primeiras horas do dia, no caso de quem não consegue acordar cedo).
O acesso maciço à informação também acaba intensificando a falta de foco. Pessoas muito curiosas, que têm interesses diversos e que por isso acabam se perdendo devem aprender a ser produtivo com a própria curiosidade. Flávia exemplifica que não adianta comprar vários livros e não ler nenhum, ou se inscrever em diversos cursos e não fazer sequer um deles.
A sugestão é tirar um período do dia para saciar a sede de conhecimento, escolhendo o que – de um leque imenso de opções – realmente será pesquisado. Para auxiliar na gestão do tempo, a dica é usar técnicas como a Pomodoro, que divide as tarefas em intervalos de 25 minutos.
Durante o bate-papo, um consenso entre os participantes é de que a associação direta entre workaholics e pessoas superprodutivas (ou entre “produzir muito” e “ser rico”) pode ser perigosa, já que, a longo prazo, preocupar-se apenas com a entrega de resultado não é saudável.
“Existem, sim, essas rotinas loucas de trabalho, mas produtividade está em tudo, incluindo as relações pessoais”, diz Daniel.
Na rotina do autor, é comum, por exemplo, só ter uma hora por dia para se dedicar a um próximo livro, fato que encara com praticidade: “Vou demorar mais para escrever. E tá tudo bem.” O escritor recomenda que, embora o trabalho geralmente consuma a maior parte do dia, é preciso deixar espaço na rotina para outras atividades.
“Este ano [por causa da pandemia] entramos num estado de não funcionar tão bem quanto antes”, complementa Flávia, que reforça, ainda, a necessidade de não perder de vista os horários que precisam ser reservados para se alimentar, dormir bem e aproveitar parte do tempo com quem faz parte do nosso convívio mais íntimo. “Ser produtivo é ter tempo para abraçar nossas prioridades”, define a empreendedora.
Por mais contraditório que pareça, saber adequar a agenda de modo que sobre tempo para outras atividades prazerosas fora daquelas obrigatórias passa por saber dizer “não” a convites que tirem o foco. Isso significa, nas palavras de Daniel, “nunca se obrigar a entrar num compromisso só para não magoar alguém”. Se tem um trabalho para entregar à tarde, por exemplo, não adianta aceitar almoçar com um colega de última hora. Para Maria Guerra, negar-se a fazer algo que certamente vai bagunçar o comprometimento com as obrigações da agenda “traz um reforço do que realmente importa”.
Este artigo foi originalmente publicado pelo Na Prática, portal da Fundação Estudar.