Carreira

Como a inteligência artificial afeta a perspectiva de futuro da nova geração?

Em artigo, Sofia Esteves explica a importância da comunicação da empresa sobre o uso e transição de carreira com a IA

Sofia Esteves: mesmo sendo nativa digital, a juventude não está imune aos anseios com relação ao futuro do mercado de trabalho. Diante disso, cabe às empresas se posicionarem sobre como os humanos e as tecnologias podem atuar em conjunto, mostrando o caminho para os futuros talentos  (Getty Images/Divulgação)

Sofia Esteves: mesmo sendo nativa digital, a juventude não está imune aos anseios com relação ao futuro do mercado de trabalho. Diante disso, cabe às empresas se posicionarem sobre como os humanos e as tecnologias podem atuar em conjunto, mostrando o caminho para os futuros talentos (Getty Images/Divulgação)

Sofia Esteves
Sofia Esteves

Fundadora e Presidente do Conselho Cia de Talentos/Bettha.com

Publicado em 8 de agosto de 2023 às 12h43.

Última atualização em 8 de agosto de 2023 às 13h34.

Normalmente, quando pensamos no impacto das novas tecnologias, costumamos falar sobre o presente. Sobre quais profissionais estão preocupados com uma possível substituição, quais funções parecem ameaçadas, quais áreas estão sendo completamente automatizadas…

Mas, recentemente, escutei uma pergunta que me fez refletir sobre o impacto emocional e psicológico da inteligência artificial sobre a nova geração: você está ficando com medo da IA?

Eu estava no Instituto Ser+, organização que fundei em 2007 para promover o desenvolvimento pessoal, social e profissional de jovens em situação de vulnerabilidade, quando um jovem de 16 anos compartilhou essa dúvida comigo. Junto com ela, o rapaz soltou uma confissão: ele, sim, estava temeroso.

Não se tratava de um temor sobre um recurso digital, a insegurança de usar uma nova funcionalidade, um medo do desconhecido. Até porque, no Ser+, o ensino e o uso da tecnologia são preocupações em todos os nossos programas.

A questão era sobre o que ele faria no futuro.

Será que restaria algum trabalho? Quais oportunidades ainda existiriam quando ele entrasse no mercado?

Escutar essas dúvidas me fez pensar sobre como nós, líderes, estamos comunicando as mudanças recentes não só para as pessoas que atuam na nossa empresa, mas para o entorno.

Será que parte do medo da juventude está relacionada a uma falta de comunicação? Nós deixamos claro qual é o posicionamento da nossa empresa sobre o assunto? Como será a adoção da inteligência artificial dentro de casa e como isso vai impactar o mercado?

Afinal, qual é o caminho para que o futuro não cause medo, e sim motive os novos talentos?

Sabemos que esse temor diante da introdução de novas tecnologias não é novo — é só lembrarmos dos ludistas quebrando máquinas na primeira Revolução Industrial. Porém, fico me perguntando se, de lá para cá, aprendemos a fazer uma boa gestão da mudança.

Se tomarmos por base o caso recente do CEO que fez um tuíte sobre a substituição de 90% da equipe de suporte por IA, a resposta, infelizmente, é não.

O direcionamento vem de cima

É que, há algumas semanas, Summit Shah, fundador da Dukaan, uma empresa de plataforma para e-commerce, fez um comentário um tanto quanto infeliz — para dizer o mínimo. Ele escreveu no Twitter que, apesar de a decisão de desligar 90% de uma área ter sido dura, o chatbot melhorou drasticamente o tempo de resposta inicial e ajudou a reduzir os custos — o que levou a várias críticas sobre a falta de sensibilidade do executivo comemorando o feito após uma demissão em massa.

Veja, a questão aqui não é a adoção da inteligência artificial em si, mas como ela foi introduzida e comunicada.

No seu caso, as pessoas sabem o que a empresa pensa sobre o uso de IA? Como ela planeja incorporar? E qual o plano para o futuro de cada profissional na organização?

Mais do que isso: elas estão sendo preparadas para essa transição?

A hora de colocar o lifelong learning em prática

É fundamental que as pessoas sejam protagonistas de sua própria carreira, eu sei. Que elas incorporem o conceito do lifelong learning e entendam que a jornada do conhecimento é contínua.

É um caminho que tem começo, mas não tem fim.

Porém, tão importante quanto isso é ter uma liderança que deixa claro esse caminho. Uma liderança que mostra o que ela vê para o futuro da companhia e que explica quais competências serão necessárias para chegar lá.

Quando o jovem me fez aquela pergunta, tentei acolher seus sentimentos e respondi que entendia a sensação de insegurança. Porém, também expliquei que, para mim, é necessária uma parceria para lidar com esse sentimento.

De um lado, cabe aos jovens talentos buscar o conhecimento sempre, não ficar apenas nos assuntos de interesse ou que são confortáveis, e desenvolver o prazer pelo aprendizado.

Do outro, cabe a nós, executivos e executivas, criar um cenário que verdadeiramente comporte todos os novos talentos que vêm por aí. E, pela minha experiência no Ser+, na Cia de Talentos e no Bettha.com, eu sei que esses talentos são muitos!

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