Fernanda Barrocal, CFO da Kraft Heinz Brasil: “A tendência de mulheres na liderança é irreversível” (Kraft Heinz /Divulgação)
Repórter
Publicado em 7 de dezembro de 2024 às 08h01.
Última atualização em 7 de dezembro de 2024 às 10h41.
“Você já reparou que estamos acreditando mais em você do que você mesma?”. Essa foi a frase que a engenheira Fernanda Barrocal ouviu de um mentor e marcou sua carreira. Desde o ano passado, ela assumiu o cargo de CFO da Kraft Heinz, se tornando a responsável por cuidar das finanças da multinacional americana. O avanço até o cargo de CFO só aconteceu por causa desse primeiro passo.
"Percebi que estava me autossabotando, achando que eu não estava preparada, sendo que o meu superior conseguia ver em mim um potencial que eu mesma não conseguia enxergar. Isso tudo porque eu era muito crítica comigo", afirma a executiva.
O que Barrocal menos buscava na vida era perder oportunidades. O desejo de avançar na carreira, mesmo com receios, a estimulou a deixar de lado a dúvida e começou a aceitar mais desafios. “Decidi mudar minha atitude, encarar as oportunidades de forma mais positiva e estar mais aberta ao novo”.
Barrocal faz parte das mulheres que estão avançando em cargos de C-Levels e assumindo a diretoria financeira. Segundo o estudo do Insper em parceria com a consultoria Assetz, a representatividade feminina em posições de CFO (chief financial officer) no Brasil cresceu, mesmo que de forma lenta, passando de 13% em 2023 para 18% em 2024.
Com 43 anos, casada, e mãe de uma menina de 9 anos, a paulista ocupa pela primeira vez o cargo de CFO, que já vê o setor mais inclusivo do que na época em que se formou em engenharia.
“Quando olho para 15 anos atrás, a presença feminina em cargos de liderança era muito menor. Tive a sorte de estar em empresas que adotaram agendas intencionais para aumentar a representatividade das mulheres. Ainda assim, é desafiador e precisamos ser intencionais”, afirma a executiva que reforça que o apoio dos homens em cargos de C-Levels são fundamentais para que essa agenda de inclusão aconteça nas empresas.
A Kraft Heinz, por exemplo, tem implementado iniciativas para aumentar a participação feminina em cargos de liderança, afirma Barrocal. “Nossa meta é alcançar 50% de mulheres em posições de liderança até 2026. Hoje, estamos em 46% no Brasil. Temos programas de aceleração de carreiras, mentoria específica para mulheres e ações afirmativas como licença-maternidade estendida e benefícios para mães,” afirma.
Fernanda também reforça que a busca pela equidade não é apenas quantitativa. “Não é sobre percentuais, mas sobre desenvolver as mulheres para que estejam preparadas para essas funções. Isso é uma responsabilidade da empresa, mas também de cada mulher em se capacitar,” afirma.
Para Barrocal, uma das lições de sua carreira para outras mulheres que buscam a liderança é diversificar suas experiências, estabelecer relacionamentos dentro e fora das empresas e priorizar o autodesenvolvimento.
“Estude, mantenha-se atualizada e construa uma visão ampla do negócio. Isso abre portas e cria flexibilidade para movimentações futuras,” diz a CFO.
Equilibrar as responsabilidades profissionais e pessoais também é essencial para uma carreira de sucesso. “Tenho um tempo focado com a minha equipe, assim como para a minha família. Por exemplo, gosto de levar a minha filha à escola três vezes por semana e bloqueio esse horário na agenda. São momentos pequenos, mas que fazem muita diferença. A prioridade precisa ser clara nas duas partes,” diz a executiva.
Foi na corrida que a CFO encontrou uma válvula de escape e uma forma de aprimorar habilidades. “Completei minha primeira maratona este ano. É um exercício que combina superação pessoal com estratégia, algo que levo para minha vida profissional também,” conta.
A maratona no corporativo parece que segue firme quando o assunto é inclusão. Para Barrocal, o setor financeiro está caminhando para abraçar a diversidade do Brasil. “A tendência é irreversível. As mulheres começaram a se enxergar nesses cargos, e as empresas perceberam os benefícios de uma liderança mais diversa,” afirma.