Incompatibilidade cultural: equipes enxutas e em estágio inicial tornam a aderência cultural um filtro central
Repórter
Publicado em 27 de novembro de 2025 às 18h00.
O faturamento médio das startups brasileiras chegou a R$ 736 mil em 2025, segundo o novo levantamento da Abstartups.
O número reflete um amadurecimento do ecossistema, com 3.650 empresas ativas mapeadas, crescimento fora do eixo Sul-Sudeste e uma maior presença em áreas como saúde e educação.
Apesar do avanço financeiro, startups enfrentam dificuldades para contratar e manter profissionais.
A incompatibilidade cultural foi o principal motivo para desligamentos no último ano, à frente de cortes de gastos e reestruturações internas, segundo o Mapeamento do Ecossistema de Startups 2025.
Em 44,7% dos casos, o choque de cultura ou valores levou à saída de funcionários, segundo o estudo. O motivo superou reestruturação (27,7%) e mudanças imprevistas de colaboradores (17,7%).
A questão se torna ainda mais relevante ao considerar que 88,2% das startups têm até 20 colaboradores.
"Startups têm uma cultura forte por resultado. Muitas vezes, as pessoas não acompanham essa mentalidade", diz Lindomar Góes, presidente da Abstartups. "As startups trabalham numa linha tênue entre receitas e despesas, saldo negativo e positivo, e precisa lidar bem com esses dados".
Equipes enxutas e em estágio inicial tornam a aderência cultural um filtro central, mas também um ponto de tensão para a retenção de talentos.
Mesmo com 56,1% das startups tendo aberto vagas em 2025, 40,1% delas não conseguiram contratar por falta de profissionais com as skills exigidas.
Hoje, 424 cidades brasileiras contam com startups ativas.
A maioria das startups continua no Sudeste (60,2%), mas o crescimento nas regiões Norte e Nordeste chama atenção.
O Nordeste teve aumento de 11% no número de empresas mapeadas, enquanto a participação do Norte subiu de 4,6% para 5,4%.
No modelo de negócios, o foco segue sendo o ambiente corporativo. 82,2% das startups desenvolvem soluções para outras empresas (B2B ou B2B2C).
O modelo SaaS (Software as a Service) permanece como o mais utilizado, representando 39,2% dos casos.
Entre as verticais, as healthtechs e soluções de Life Science cresceram e assumiram a segunda posição no ranking, com 9,4% das startups. Elas ultrapassaram as fintechs, agora em quarto lugar.
A liderança continua com as edtechs, seguidas por tecnologias de desenvolvimento de software.
O acesso a investimento segue concentrado em redes próximas: 68,5% das startups receberam capital de sua cidade ou estado.
O investidor-anjo é o mais presente, em 36,8% dos casos. Programas de aceleração (14,1%) e recursos vindos de familiares ou amigos (11,5%) completam o cenário.
Mesmo com uma leve alta, o investimento estrangeiro representa apenas 2,7% do total. O valor médio investido ao longo da trajetória das startups é de R$ 1 milhão.
Mulheres representam 19,9% entre os fundadores de startups — uma ligeira alta em relação ao ano anterior (19,2%).
Pessoas negras (pretas e pardas) são 24,3%, e a maioria dos fundadores (69,1%) está na faixa etária entre 31 e 50 anos.
Embora 62,9% das startups tenham interesse em atender o setor público, apenas 9,6% de fato prestam serviços a órgãos governamentais.
O principal obstáculo apontado é a burocracia no processo de contratação (45%), seguida por inseguranças jurídicas e financeiras.
O dado reforça a necessidade de simplificação de processos e revisão de políticas públicas, caso o setor público queira aproveitar a inovação local para resolver problemas estruturais.