Carlos Brito, CEO da AB InBev, fala durante um evento em Nova York, em outubro de 2013 (Peter Foley/Bloomberg)
Luísa Granato
Publicado em 14 de fevereiro de 2021 às 08h00.
Quem já esteve (ou está) em meio a um processo seletivo muito provavelmente se deparou com a fase de entrevistas. Embora algumas perguntas possam já ter caído em desuso, outras são rotineiras – e, talvez justamente por isso, podem parecer complexas de serem respondidas.
Foi pensando nisso que o Na Prática decidiu fazer perguntas de entrevistas de emprego a importantes executivos do Brasil. Além disso, trouxemos Patrícia Aguiar, Gerente de Redes e Seleção Massiva da Fundação Estudar, que irá analisar cada uma das respostas sob a óptica do recrutador.
Dando início a essa série, convidamos Carlos Brito, CEO da AB InBev, maior cervejaria do mundo e dona da Ambev no Brasil. Em uma lista elaborada pela Harvard Business Review em 2015, Brito aparece como o 16º melhor líder de empresas do mundo.
1. Porque devemos contratá-lo?
Carlos Brito: Como só se vive uma vez, eu gosto de pensar grande ao invés de perder tempo com coisa pequena. Acredito que, para realizar coisas grandes, preciso ser parte ou liderar um time de gente muito boa. Acredito em gente e na força de times. O desconforto de ter um sonho grande me motiva, me inspira. O fato de esticar a corda e estar sob pressão faz minha curva de aprendizado acelerar. Me considero uma pessoa com muita iniciativa, mas, ainda mais importante, tenho “acabativa”. Alguns exemplos na escola e no esporte, onde escolhi a opção mais dura, mas com mais potencial e resultados.
Análise: Em uma resposta sucinta, Carlos Brito demonstra características extremamente relevantes da sua identidade profissional que justificam a aposta na sua contratação: sonho grande e ambição elevada, não somente para si, mas ligada a um time excelente – que para ele atua como motivador e não como ameaça ou competição, e protagonismo em suas iniciativas e seu compromisso com entregas concretas. Brito também deixa claro que desempenha ainda melhor em um ambiente super desafiador não só no trabalho, mas também tem exemplos fora dele, no seu histórico acadêmico e pessoal.
2. Quais são seus objetivos de carreira?
Carlos Brito: Procuro um lugar onde eu trabalhe com pessoas que admire, com quem aprenda e evolua, que tenham valores/cultura semelhantes aos meus, e que tenha um esquema de sociedade onde eu possa participar como dono. Um lugar onde eu possa fazer algo relevante e que possa me orgulhar disso. Acredito que, quando você faz coisas relevantes e de impacto, a recompensa financeira vem automaticamente. Gostaria de liderar equipes que tenham impacto na companhia. No futuro, gostaria de fazer parte da alta liderança da companhia, pois serei parte de decisões importantes, tendo influência no futuro do negócio.
Análise: Sobre objetivos de carreira, Brito responde de maneira ampla e demonstra que, mais do que cargo ou remuneração, para ele é muito importante se desenvolver e evoluir com um ambiente desafiador, que suba sua régua e que esteja alinhado aos seus valores. Novamente, Brito demonstra sua ambição elevada, mas notem que ela não é uma ambição vazia – ele quer assumir alta liderança para participar da construção do futuro da empresa no longo prazo, legado do qual quer se tornar sócio.
3. Pontos fortes e fracos e como se posicionaria em uma equipe?
Carlos Brito: Me considero focado, resiliente, otimista, curioso, ético e trabalho duro. Além disso, me relaciono bem com as pessoas em geral. O que tenho que fazer melhor é controlar uma tendência de querer liderar e resolver as coisas imediatamente. Aos poucos fui aprendendo que vale a pena investir tempo em ouvir/inspirar/convencer os outros e fazer todos serem sócios/donos do plano ou da solução na medida do possível. Quando todos são donos da ideia, a chance de dar certo é maior. À medida que fui fazendo coisas maiores, onde eu precisava de outros, isso foi ficando mais claro.
Análise: Brito traz como pontos fortes características que são valiosas em qualquer equipe, como resiliência, ética, bom relacionamento interpessoal e curiosidade, nenhuma delas ligada a conhecimento técnico, demonstrando o valor do seu autoconhecimento. Apesar de a ansiedade para que o trabalho seja feito logo possa interferir na dinâmica entre o time e com seu líder, Brito demonstra que há protagonismo de sobra – “problema bom” que muitos líderes preferem lidar ao invés de tentar despertar responsabilidade e iniciativa em seus liderados. Não menos importante, Carlos Brito deixa claro que já refletiu e vem refletindo sobre seu ponto a melhorar, não só pelo seu próprio desenvolvimento, mas pelo impacto positivo que isso traz para o resultado final (e cada vez maior) que quer alcançar dentro da empresa e com as pessoas do time.
Esse conteúdo foi originalmente publicado pelo Na Prática, portal da Fundação Estudar.