Casa Dinamarca: conheça a história da iniciativa dinamarquesa que vem se espalhando pelo Brasil (Imagem: Divulgação / Casa Dinamarca)
Publicado em 30 de julho de 2025 às 14h52.
Última atualização em 30 de julho de 2025 às 18h48.
Na edição de 2023 do Hacktown, um festival de inovação que toma as ruas de Santa Rita do Sapucaí (MG), um espaço inesperado atraiu atenção do público. Ali, em meio a tantas marcas, palcos e pitchs, nasceu a Casa Dinamarca: um projeto voluntário que cresceu e virou referência em reflexão crítica, troca de experiências e criação coletiva.
Idealizada por Jesper Rhode, executivo dinamarquês radicado no Brasil há mais de 25 anos, a Casa Dinamarca surgiu como “um espaço de reflexão, de diálogo sobre tecnologia, inovação e bem-estar”. Com uma trajetória profissional marcada por projetos de conectividade na Amazônia e cargos de liderança na Ericsson, Jesper levou à Casa uma inquietação pessoal: como a tecnologia pode melhorar a vida das pessoas.
“Não é para vender um país. A ideia é inspirar um olhar, um pensamento e tentar transportar isso para a realidade brasileira”, explica. “A gente entende que o mundo é complexo e polarizado, mas o diálogo é o que pode nos unir para encontrar soluções reais”.
Jesper Rhode já está no Brasil há mais de 25 anos (Imagem: Divulgação/Casa Dinamarca)
O Hacktown, evento que inspirou a Casa, é conhecido por sua proposta descentralizada e imersiva. Ao ocupar casas, bares, escolas e praças da cidade, ele cria um ambiente colaborativo, próximo das pessoas e livre das fórmulas convencionais dos grandes festivais de inovação.
Foi nesse espírito que a Casa Dinamarca encontrou espaço para florescer. O impacto foi imediato.“A ideia era fazer só uma edição em 2023, mas as pessoas começaram a perguntar: ‘onde fica a Casa Dinamarca?’, como se fosse algo fixo”, conta Jesper. “Hoje, somos uma plataforma itinerante”.
Desde então, a Casa expandiu seu alcance para além de Santa Rita. Em São Paulo, promoveu eventos como “Conectando Pensamentos”, com debates sobre urbanismo e cultura nas transformações do Largo da Batata, e experiências gastronômicas como a fusão entre a pizza paulistana e uma versão inventiva de pizza dinamarquesa: sem queijo nem tomate.
“A gente prefere que as pessoas tenham uma experiência, e depois discutam a teoria. Essa é a lógica do flip classroom: primeiro viver, depois refletir”, resume Jesper.
Apesar do impacto crescente, a Casa Dinamarca segue sendo 100% voluntária. “O valor que me move é a inovação que transcende o negócio e se torna praticamente um estilo de vida”, afirma Sérgio Macera, um dos apoiadores da iniciativa. “Cada discussão é um convite à reflexão e ao crescimento. E o melhor de tudo é ver isso se materializando em projetos realizados”.
Esse sentimento é compartilhado por Maria Lygia Molineiro, psicóloga que se encantou com os “Diálogos Urbanos” realizados pela Casa no Largo da Batata. “Era um ambiente muito provocador, que me levou a pensar e entender a cidade sob uma perspectiva social e ambiental diferente do que estamos acostumados”.
Ela reforça a metáfora que norteia a missão do grupo: “Vejo a Casa Dinamarca como um farol para pensar a cidade. Um farol feito por pessoas generosas que trazem sua visão de mundo e aplicam isso para desenvolver o nosso presente, a nossa proposta de viver nas cidades”.
Ricardo Garrido, empreendedor da gastronomia e sócio-fundador da Cia Tradicional de Comércio, também se envolveu após conhecer Jesper e participar de uma ação conjunta em sua pizzaria Bráz. “Os projetos da Casa Dinamarca têm propósito e profundidade. Reúnem temas e pessoas relevantes. Os encontros saem do lugar comum e parecem estar sempre um passo à frente dos debates do dia a dia”.
A Casa Dinamarca foi criada em 2023 e segue expandindo suas atividades (Imagem: Divulgação/Casa Dinamarca)
Apesar do nome, a proposta da Casa Dinamarca não é divulgar a cultura escandinava, mas sim inspirar-se em seus princípios para repensar os desafios locais. “A Dinamarca tem uma tradição de mais de 200 anos de escolas criadas para elevar o fundo da pirâmide social. Lá, acredita-se que a sociedade só cresce se você eleva todos, e não só uma elite. É essa lógica que queremos discutir aqui”, afirma Jesper.
A programação da Casa vai além da tecnologia. Entre os temas debatidos estão saúde mental, segurança psicológica, medo do futuro, desigualdade, novas formas de trabalho, arquitetura, inteligência artificial e experiências educacionais para professores da rede pública.
Entre os próximos passos, a Casa pretende ampliar seu raio de ação com eventos em São Paulo, projetos itinerantes voltados a educadores, workshops para pequenos varejistas e até uma possível atuação na própria Dinamarca.
“A gente quer contar histórias de brasileiros que foram para a Dinamarca e dinamarqueses que vieram para o Brasil. Mostrar o que aprenderam, quais portas se abriram, e o que podemos construir juntos”, conclui Jesper.