A carreira não linear é um conceito em que o profissional não deseja seguir uma linha reta (em busca de ascensão) no mesmo cargo ou área de formação, mas sim fazer movimentos laterais e intensionais (Nuthawut Somsuk/Getty Images)
Repórter
Publicado em 12 de dezembro de 2024 às 18h16.
Por décadas, construir uma carreira em uma única empresa era visto como o ápice da realização profissional. Essa trajetória, pautada pela estabilidade e longevidade em uma única organização, representava segurança e sucesso. Entretanto, a visão da Geração Z, que valoriza a qualidade de vida e a satisfação pessoal, trouxe uma nova perspectiva: a carreira não linear. Esse modelo permite trajetórias diversificadas, onde flexibilidade e propósito são o centro das decisões.
Guilherme Camargo, 48, seguiu um caminho profissional pouco convencional, ou seja, uma carreira nada linear. Formado em publicidade pela ESPM, iniciou a carreira na Heublein (atual Diageo) em 1997 e, paralelamente, se destacou como baterista da banda Street Bulldogs, com turnês pelo Brasil, América do Sul e Europa. Em 2000, ingressou na Microsoft e, em 2006, liderou o lançamento do Xbox 360 no Brasil, sendo o primeiro funcionário da divisão de games no país. O desejo de empreender veio em 2022, quando ele decidiu fundar o SX Group, uma consultoria de desenvolve startups nas área de marketing, tecnologia e games.
“Meu maior desafio foi gerenciar o tempo e as oportunidades sem esquecer as prioridades de cada momento. Quando mais jovem, conciliava férias com turnês da banda e shows aos fins de semana. Cheguei a ser questionado em avaliações de desempenho sobre meu interesse em crescer na hierarquia corporativa, não por performance, mas por ter outras atividades paralelas”, relembra. “Com o tempo, me frustrei com a banda e decidimos parar. Isso abriu espaço para novos projetos, além de gerenciar melhor meu tempo e priorizar família e carreira.”
Ter uma carreira não linear não significa mudar de área ou de propósito a todo momento, mas ter a oportunidade de escolher novas atividades profissionais de acordo com os talentos adquiridos, tempo disponível e propósito a ser alcançado.
"A carreira não linear é um conceito em que o profissional não deseja seguir uma linha reta (em busca de ascensão) no mesmo cargo ou área de formação, mas sim fazer movimentos laterais intencionais e planejados como mudanças de setor, área, interrupções e recomeços", afirma Luiz Eduardo Drouet, presidente da ABRH-SP (Associação Brasileira de Recursos Humanos).
Outros exemplos também ilustram esse conceito. O ator Marcello Antony, famoso por novelas icônicas, reinventou sua carreira como corretor de imóveis de luxo em Portugal. Antony combina suas experiências como ator com as exigências do mercado imobiliário europeu, mantendo-se aberto a novas oportunidades. “Encaro cada fase como um desafio e busco equilíbrio entre as três áreas”, comenta.
A carreira não linear pode ser adotada por profissionais de diferentes gerações, como acontece com o Guilherme Camargo e Marcello Antony, mas já é uma tendência que se fortaleceu com a Geração Z e seguirá para a Alfa, afirma Dado Schneider, especialista em Geração Z e Alfa e em cooperação intergeracional.
“Os jovens viram seus pais em carreiras tradicionais, trabalhando muito, acumulando bens, mas vivendo pouco. Eles não querem isso, mas sim flexibilidade, poder de escolha para estar em ambientes que façam sentido com o que acreditam e, claro, viver experiências”, conta.
Apesar de a carreira não linear permitir o desenvolvimento de muitas habilidades e proporcionar experiências diferentes ao longo da vida, o mercado de trabalho ainda é resistente ao ver profissionais jovens com currículos extensos e experiências em áreas diferentes.
“Muitos enxergam como falta de comprometimento ou instabilidade, o que é uma percepção equivocada, mas isso está mudando aos poucos e quando as empresas passarem a estudar e conhecer mais sobre as novas gerações, irão se adaptar e evoluir consideravelmente”, afirma Schneider.
Para inspirar e encorajar sobre as possibilidades de carreira não-linear, Guilherme, que passou pelo processo e hoje fatura R$ 50 milhões com seu negócio, dá algumas dicas.
"Construir uma carreira não linear exige visão estratégica e flexibilidade. É fundamental gerenciar bem o tempo, que é nosso ativo mais precioso, e avaliar com cuidado os riscos e benefícios de cada mudança. Além disso, a resiliência é indispensável - não podemos nos apegar ao passado, mas sim aprender com ele e seguir em frente com coragem e determinação".
À medida que o mercado de trabalho evolui, empresas que acolhem essa diversidade de trajetórias têm mais chances de se destacar, atraindo talentos que buscam experiências e flexibilidade, afirma Schneider. “Para os profissionais, o recado é claro: o sucesso não está em seguir um caminho predefinido, mas em construir uma história que reflete paixão, curiosidade e dedicação.”