Carolyn Taylor: em entrevista, a especialista fala sobre as mudanças causadas pela pandemia no trabalho (Divulgação/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 18 de agosto de 2021 às 07h00.
Última atualização em 18 de agosto de 2021 às 17h50.
Responsabilidade, comprometimento, confiança. O comportamento que será mais importante para o trabalho híbrido pode ser definido com essas três palavras ou resumido a um termo em inglês: Accountability.
“Accountability é um relacionamento entre duas pessoas, onde uma pessoa pede a alguém para entregar algo e a outra pessoa entrega isso. Pode ser entre o chefe e um de seus membros da equipe, entre o cliente e um de seus fornecedores, entre dois colegas”, diz Carolyn Taylor, especialista britânica de cultura organizacional, em entrevista para a EXAME.
É como um "contrato invisível" de confiança mútua nas relações. O funcionário sabe suas responsabilidades, o chefe confia que o trabalho está sendo bem feito, o cliente fica tranquilo que terá o resultado esperado.
Ela é autora de um dos livros mais importantes sobre liderança, o clássico "Walking the Talk - A Cultura Através do Exemplo". Agora, ela lança um novo livro para guiar o mundo empresarial: "Accountability no trabalho: como comprometer-se e cumprir o prometido e conseguir que outros façam o mesmo".
Com a mudança do trabalho presencial para o remoto e o híbrido, esse conceito simples de passar confiança mútua nas relações de trabalho vai se integrar a cultura das empresas.
A especialista explica que a pandemia foi um período em que muitos repensaram sua relação com o emprego. Além disso, as empresas vão precisar renovar sua forma de engajar e motivar seu público interno. A distância torna a confiança mais difícil. E ter “Accountability” vai ajudar na transição para a cultura híbrida.
“Fomos forçados a uma situação de maior empoderamento e, dentro do empoderamento, vem a accountability. Empoderamento sem accountability é abdicação, é caos”, afirma Taylor.
Nesta quarta-feira, Taylor vai dar uma aula online e gratuita sobre o conceito junto com as escolas Sputnik e Perestroika. O evento acontece às 19h30. Se inscreva pelo site.
Para explicar a importância desse elemento na cultura, Felipe Anghinoni, professor, sócio-fundador da Sputnik e da Perestroika, dá como exemplo o Brasil durante a pandemia. Segundo ele, vivemos uma crise de accountabilty.
“Temos uma liderança com quem definitivamente não estamos podendo contar num dos momentos mais sensíveis possíveis: uma crise sanitária”, diz.
O professor é didático na forma de descrever o sentimento que a falta dessa cultura causa: “está tudo dependendo das atitudes dessa outra pessoa. Mas algo me diz que não vai dar certo”.
É ruim não poder contar com um colega de trabalho. Ou até mesmo com um parceiro ou amigo, uma vez que esse traço também vale para as relações pessoais.
“A ansiedade com certeza é uma consequência clara e definitiva de um ambiente onde não é possível contar com terceiros. A escalada nos índices de depressão e burnout que estejamos presenciando são sinais inequívocos dessa falta. Como diz o meme: SIGNIFICA.”, afirma.
Carolyn Taylor: Todos nós aprendemos muito sobre o que realmente importa em nossos relacionamentos com outras pessoas no trabalho, então há uma oportunidade de pegar esse aprendizado e fazer as coisas de forma diferente, permanentemente, quando estamos juntos novamente, ou em situação híbrida ou ainda trabalhando em casa.
Creio que o que aprendemos em particular é que temos que ter cuidado para não nos tornarmos transacionais, temos que lembrar que algumas das melhores coisas que acontecem entre as pessoas no trabalho ocorrem espontaneamente, acontecem em tempo não planejado, fora de reuniões formais. Precisamos ter certeza de que estruturamos o tempo para que essas coisas ainda ocorram.
Em segundo lugar, todo o senso de identidade mudou. Antes a identidade estava muito ligada a entrar no meu local de trabalho e ver as pessoas e aí estava a minha identidade. Agora as empresas têm que ser muito mais conscientes sobre como constroem a identidade de uma equipe, como você faz as pessoas pertencerem, como você faz as pessoas entenderem o que significa se encaixar nessa cultura, ser um de nós, como você planeja eventos em que pessoas e as equipes se sintam assim entre si, sejam elas virtuais ou não virtuais. Temos que começar a ser muito específicos sobre quais atividades que definitivamente sabemos são feitas melhor olho no olho - brainstorming, conhecer uns aos outros, dar às pessoas feedback cara a cara, etc.
Carolyn Taylor: O que muitos funcionários fizeram foi realmente repensar tudo sobre o trabalho. Muitas pessoas estão perguntando: 'isso é realmente o que eu quero?'. O número de pessoas que estão mudando de emprego aumentou astronomicamente nos últimos meses. As empresas de recrutamento têm recebido tantos pedidos de clientes em busca de novos talentos porque as pessoas estão sentindo que querem mudar ou talvez queiram deixar o trabalho formal, ou querem trabalhar em termos diferentes.
As pessoas realmente tiveram que repensar o que é trabalho, qual é seu propósito na vida e o que eles querem, e esses tipos de grandes choques emocionais são um daqueles momentos em que as pessoas talvez aceitem tomar mais decisões corajosas, se essa decisão corajosa possa significar mudar seu trabalho.
Portanto, é um momento em que não podemos tomar nada como garantido, em que temos que lembrar que somos abençoados por nossos funcionários quererem estar conosco e precisamos fazer deste um lugar especial para eles. Precisamos torná-lo um lugar intencional onde as pessoas sintam que seu trabalho tem um significado, onde sintam que podem se conectar com outras pessoas, onde sintam que podem ver que estão alcançando resultados.
Carolyn Taylor: Accountability é um relacionamento entre duas pessoas, onde uma pessoa pede a alguém para entregar algo e a outra pessoa entrega isso. Pode ser entre o chefe e um de seus membros da equipe, entre o cliente e um de seus fornecedores, entre dois colegas. No passado, quando estávamos frequentemente juntos, era mais fácil olhar por cima do ombro de alguém para ver se o trabalho que pensávamos que as pessoas estavam fazendo estava sendo feito ou não. Agora, se as pessoas estão distantes, talvez confiemos menos se elas estão realmente fazendo seu trabalho ou não.
Fomos forçados a uma situação de maior empoderamento e, dentro do empoderamento, vem a accountability. Empoderamento sem accountability é abdicação, é caos. Saber como responsabilizar as pessoas e ser claro sobre o que pede às pessoas, sobre o seu pedido e, em seguida, receber delas um compromisso sobre o que podem entregar. Ter essas conversas de compromisso realmente ativas torna-se muito mais importante quando você está distante do que mesmo quando está cara a cara. Abordo isso em profundidade em meu livro “Accountability no trabalho: como comprometer-se e cumprir o prometido e conseguir que outros façam o mesmo”.
Pela primeira vez, a EXAME Academy, plataforma de educação da EXAME, se juntou com a FRST Falconi (fala-se First), aceleradora de pessoas e learning tech (empresa de educação & tecnologia) criada por uma das maiores empresas de consultoria de gestão do Brasil. A parceria deu origem ao Programa Líderes do Agora.
Os participantes terão acesso a conteúdos relacionados a Liderança, Mindset de Inovação e Gestão para Resultados. E poderão desenvolver as cinco competências essenciais para a liderança atual:
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