Carreira

Brilhando no escuro

Os chamados braços direitos são figuras freqüentes no mundo corporativo. Funcionam meio como conselheiros, meio como substitutos e, quase sempre, como amigos. Não é à toa que muitos executivos, alçados a novos desafios, pensam imediatamente em levar consi

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h34.

NEM É PRECISO CHECAR

Roberto Trinconi começou a trabalhar na EDS em 1985 como operador de computadores. Em 1996, já era diretor de uma área de negócios. No ano seguinte, assumiu a presidência da Unigraphics, um braço da EDS que se tornou independente. Levou com ele dois gerentes da EDS, Luiz Carlos Pereira, da contabilidade, e José Carlos Moraes, de relacionamento com a engenharia. Na empresa menor, ambos se tornaram diretores.

TRINCONI: "Logo que assumi a presidência, tinha em mente o nome do Pereira e o do Moraes para vir trabalhar comigo. Além de confiar na capacidade deles, eu poderia delegar qualquer trabalho sem ter de checar se estavam fazendo bem-feito ou no prazo. Além disso, eu precisava de pessoas que entendessem a necessidade de comprar canetas e pagar conta em banco, porque a realidade agora é outra. Grande parte dos profissionais que trabalham aqui chega por indicação de alguém".

MORAES: "Em uma empresa menor, você se sente mais importante como profissional. Não trabalho para mim, mas para um grupo de amigos. Isso me motivou a aceitar a proposta do Trinconi".

PEREIRA: "Não titubeei em aceitar o convite. Precisava aceitar um desafio, e conhecer o trabalho de quem está do outro lado ajuda a tomar esse tipo de decisão".

MESMAS MANIAS, MESMAS METAS

Sílvio Strauss era o executivo responsável pela área de informática no escritório de propaganda industrial Dannemann Simsem Digler e Ipanema Moreira. Em 1990, foi para a empresa de seguros Icatu, no mesmo cargo. Dez anos depois, transferiu-se para a Canada Life, do mesmo setor. Em todas as mudanças, levou Gino Bruno, que começou a carreira como seu estagiário, em 1983, e é hoje gerente de TI da Canada Life.

STRAUSS: "O Gino é meu braço esquerdo (porque sou canhoto). Ele foi criado com minhas manias e temos alguns objetivos profissionais iguais. Somos eternos insatisfeitos com o que fazemos. Essa harmonia ajuda o trabalho em equipe. Eu sei que posso largar alguma coisa no meio do caminho que ele vai resolver. Posso contar com ele em qualquer problema. Essa confiança só dá para conquistar depois de algum tempo de convivência. Ser meu amigo há 20 anos não vai me impedir, porém, de demiti-lo algum dia. Se eu o carregasse como meu fantoche, ele perderia o brilho próprio. É muito bom trabalhar com quem já confiamos, mas tenho plena consciência de que algum dia o Gino pode ir para outro lugar. Ele não precisa de mim para crescer. E é bom sempre deixar claro que, embora ele seja meu braço direito, aqui dentro somos dois profissionais independentes".

BRUNO: "Sempre tentei me espelhar no trabalho do Sílvio. Toda vez que ele me convidava para trabalhar, eu sabia que só poderia ser algo bom para minha carreira".

CONHECIMENTO PROFUNDO DO MERCADO

O administrador Antonio Santiago é diretor comercial da TeleListas, a maior editora de listas telefônicas do país. Nesse setor, Santiago já passou pelas editoras LTB, GTB e Editel, sempre procurando trabalhar com pessoas de confiança. Hoje, diz ter 12 braços direitos espalhados pela TeleListas. Um deles é Laerte Marquezini, superintendente comercial, com quem trabalha há 18 anos. Outro é o gaúcho Luiz Antonio Tieppo, gerente regional de vendas, que começou como assistente administrativo há 16 anos.

SANTIAGO: "Esses dois executivos possuem um conhecimento profundo dos mercados de vendedores e de clientes. Como conhecem bem sua área, são garantias de negócios por si próprios. As pessoas não são insubstituíveis, mas até os novos executivos aprenderem como os negócios funcionam, a empresa pode quebrar".

TIEPPO: "A decisão de trabalhar com pessoas que conhecem bem o mercado em que atuam é bem-sucedida porque, em muitos casos, os clientes têm mais confiança no nome do executivo que na empresa".

MARQUEZINI: "Conheço o Antonio há muitos anos, somos amigos, mas o profissionalismo está acima disso. Ele sabe que pode contar conosco e que o trabalho vai sair correto".

AFINIDADE DE VALORES

O presidente da Lojas Renner, José Galló, é um aficionado do trabalho de RH. Seu primeiro contato com o assunto foi em 1982, na extinta Imcosul, onde conheceu Clarice Costa, a responsável pela área. Quando abriu a empresa Modacasa, em 1987, convidou-a para a empreitada. Na Renner, novamente chamou-a para uma experiência. Em 1992, ela foi efetivada como gerente de RH.

GALLO: "Eu não preciso ditar todo o capítulo para a Clarice. Digo o título e ela já sabe o resto. Essa afinidade de valores ajuda a reduzir possíveis atritos e aumenta a produtividade. Quando o profissional já conhece sua postura e seu jeito de trabalhar, ele sempre vai entregar um trabalho mais próximo daquilo que você pensou. Por isso, se tenho um problema e conheço a pessoa que pode me ajudar, por que não correr atrás dela? Isso não quer dizer que iria levar sempre o mesmo grupo de pessoas para trabalhar comigo. O que prevalece é a lógica, e não o favorecimento".

CLARICE: "Costumo dizer que só mudo de emprego, nunca de chefe. Trabalho com o Galló desde 1982 e sempre fui uma admiradora do trabalho dele. Todas as vezes que aceitei seu convite, estava seguindo a figura de um líder. Se ele sair daqui um dia e me oferecer uma nova proposta de trabalho, só posso dizer uma coisa: estou indo".

COMPETÊNCIAS QUE COMPLEMENTAM

Durante quase uma década, Fernando Terni foi o responsável pela área de negócios na ABB. Saiu para presidir a Intelig, em 1999. Em janeiro de 2002, migrou para a Nokia. Nas duas mudanças, levou o diretor de RH Marcos Cominato, que conheceu na ABB.

TERNI: "Eu identifico no Marcos competências que não tenho. Ele reconhece, com mais facilidade, quais são as deficiências de um profissional e sabe corrigi-las. Em 1999, a Intelig estava começando. Era necessário construir uma cultura, contratar pessoas sem perder tempo e sem correr risco de fracassar. Precisava de alguém que soubesse fazer isso e, imediatamente, pensei no Marcos. Com ele, eu teria certeza de que os contratados estariam alinhados com o negócio. Em fevereiro de 2002, vim para a Nokia. Eu precisava novamente mexer nos valores da empresa, mas não teria tempo de trabalhar com a liderança. Claro, pensei no Marcos".

COMINATO: "Aceitar o convite para a Intelig foi bem difícil. Eu tinha 20 anos de ABB, uma empresa que valorizava o tempo de casa. Teria ainda de transferir minha vida para o Rio de Janeiro. O que realmente me chamou para a Intelig foi o desafio de construir uma empresa do zero. Lá seríamos só eu e o Fernando; não precisaríamos pedir a bênção a ninguém. A decisão de ir para a Nokia foi mais fácil. Duro foi passar pela rigorosa seleção. A empresa favorece a diversidade e não via com bons olhos a relação antiga que eu já tinha com o Fernando. Tive de participar de mais de 20 entrevistas em áreas diferentes e ficar três dias em Dallas sendo avaliado por executivos".

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