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Brasileira fez mestrado na Suécia sem ter terminado a graduação

Renata Hansen, gerente na multinacional Coloplast, realizou um Mestrado em Marketing enquanto ainda estudava administração no Brasil

Umeå University: mestrado em inglês (Facebook/ Umeå University/Divulgação)

Umeå University: mestrado em inglês (Facebook/ Umeå University/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2016 às 15h41.

Entre os pré-requisitos de quase todos os programas de mestrado no exterior está “graduação completa” ou, no mínimo, alguns anos de experiência na área. Quando embarcou para o seu período de estudos na Universidade de Umeå, na Suécia, Renata Queiroz Hansen não tinha nenhum dos dois.

“Estava no quarto ano da faculdade e a ideia era fazer seis meses de intercâmbio. Como estava próximo da conclusão, porém, conseguimos fazer algumas matérias do em Marketing”, relembra ela, que estudava Administração na Universidade de São Paulo. Um golpe de sorte – e uma boa dose de argumentação – lhe permitiu ficar para concluir o programa de mestrado na Suécia antes mesmo de concluir a sua graduação.

“Como fomos a primeira turma deste mestrado, vários dos meus colegas pediram para fazer as matérias que faltavam a fim de concluir o programa”, explica ela. A reação inicial foi negativa. Era impossível, segundo o Ministério da Educação sueco, permitir que estudantes undergraduate – ou seja, sem graduação completa – obtivessem um diploma de Graduate Studies, que era o caso do programa de Mestrado em Marketing da Universidade de Umeå.

A saída foi um “jeitinho”, possibilitado pela flexibilidade do sistema de ensino nórdico: “O Ministério abriu uma exceção e permitiu que nós terminássemos o mestrado, então voltássemos, terminássemos a graduação. Mas só quando terminei a graduação na USP meu diploma da Umeå foi liberado”, relembra ela, que hoje mora na Dinamarca e trabalha como Gerente de Marketing da multinacional Coloplast.

A experiência de um mestrado na Suécia

Renata não passou pelo processo de candidatura normal ao mestrado, uma vez que sua candidatura foi feita através da USP, que possuía convênio com a Universidade de Umeå. Com uma bolsa da Fundação Estudar, ela financiou os primeiros seis meses do intercâmbio; ao estender a duração para um ano, conseguiu obter uma bolsa da Universidade para arcar com suas despesas no país. Na Suécia, boa parte das universidades são públicas e gratuitas.

O ritmo do mestrado surpreendeu a paulista, que estava acostumada a uma carga horária intensa de aulas: “No Brasil, estava em sala de segunda a sexta, três ou quatro horas por semana. Lá, tinha três ou quatro horas de aula por semana, e muito trabalho de casa, tanto individual quanto em grupo”, observa. “Além disso, no Brasil recebemos as coisas um pouco mais mastigadas, o professor dá feedback a todo momento… Lá, precisava de muito mais disciplina”, completa.

O Programa de Mestrado era ministrado inteiramente em inglês, e a experiência foi enriquecida pelo contato com uma turma muito diversa: mais da metade dos seus colegas eram internacionais. Insegura quanto ao seu nível de proficiência no idioma, Renata ri ao se lembrar que levava um gravador para as aulas, caso perdesse alguma referência: “No fim, nem precisei usar”.

Uma brasileira escandinava

Em 2005, Renata obteve finalmente seus dois diplomas: de graduação, pela FEA-USP, e de Mestrado, pela Umeå. Os dois diplomas lhe davam a possibilidade de trabalhar em qualquer um dos dois países, e ela achou que seria interessante voltar para a Suécia – sem imaginar que encontrar um emprego lá não seria assim tão simples. Em todas as empresas que conversava, os entrevistadores se surpreendiam com a sua experiência. “A minha impressão é que eles não fazem tanto estágio como no Brasil, então não seria difícil arrumar trabalho… Isso, claro, se eu falasse sueco”, relembra.

A barreira da língua, que não a afetou durante o período de estudos, foi um empecilho grave durante a procura por trabalho. “Tanto é que assim que terminei o curso de sueco eu consegui um emprego”, afirma.

Entre 2005 e 2010, Renata morou em Upsalla e Estocolmo, atuando em empresas de cosméticos. “Na época, mudei de trabalho e estava em dúvida se voltava para o Brasil ou não. Então encontrei meu marido, que é dinamarquês”, relembra. Ao se casar, em 2010, ela se mudou para Copenhage, na Dinamarca – “uma capital mais cosmopolita, mais perto da Europa”, segundo ela. Seu mestrado na Suécia, em Marketing Internacional, a ajudou a conseguir uma posição de gerência na L’Oreal. “Empresas globais não podem fazer um plano de marketing e montar um portfólio sem se adequar aos diferentes públicos”, argumenta ela.

Hoje, além de atuar como Gerente de Marketing, Renata também cuida do filho pequeno e participa do conselho da ONG “Mulheres Multiculturais” – que visa motivar e empoderar mulheres de origens étnicas diferentes no mercado de trabalho dinamarquês. “Ainda há essa mentalidade de que o estrangeiro teria que fazer o trabalho que dinamarqueses não querem. Muita gente torcia a cara quando eu dizia que era Gerente de Marketing”, relembra.

Quando entrou no seu primeiro emprego, ainda na Suécia, ela era a única estrangeira entre os mais de 300 funcionários do escritório. “Meu chefe me contratou para meio que provocar um pouco”, explica. “Mas este cenário está mudando”, completa.

  • Este artigo foi originalmente publicado pelo Estudar Fora, portal da Fundação Estudar

 

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