Final da Copa do Mundo de 2002: há exatos 20 anos o Brasil era campeão mundial pela última vez (Shaun Botterill/Getty Images)
Há um mês, estreou na Netflix o documentário "Brasil 2002 – Os Bastidores do Penta", sobre a vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo há exatos 20 anos.
Do diretor Luis Ara, que também dirigiu o filme Para Sempre Chape, de 2018, sobre a tragédia da Chapeconse, o filme traz imagens inéditas gravadas pelos próprios jogadores. Além de entrevistas com os craques da seleção de 2002 como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos e Cafu.
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O longa-metragem de 1h30 conta a trajetória da seleção que começou a Copa do Mundo de 2002 desacreditada e acabou campeã. Mas, ao invés de começar com a vitória, a obra escolhe dar um passo atrás e mostrar o caminho que a seleção brasileira teve de percorrer antes que Cafu levantasse a taça.
Nas primeiras cenas, somos levados para 1998, durante a derrota do Brasil para a França, com o clima de tensão acerca da saúde de Ronaldo Fenômeno, que teve convulsões poucas horas antes da partida final.
Logo em seguida, relembramos os dilemas que a seleção enfrentou durante as eliminatórias da própria Copa de 2002, com a troca de dois técnicos e um desempenho que quase a deixou fora do mundial da Coreia do Sul e Japão.
Na última metade do filme, relembramos os principais confrontos do Brasil durante o campeonato além de ouvir depoimentos dos principais rivais das partidas, como David Beckham (capitão da Inglaterra), Oliver Kahn (goleiro e capitão da Alemanha) e Marc Wilmots (capitão da Bélgica). Até Pierluigi Collina, italiano responsável por apitar a final, também aparece.
Por fim, encerramos com a vitória do Brasil contra a Alemanha por 2x0. Além de ser um bom esquenta para a Copa do Mundo do Catar, o documentário “Brasil 2002 – Os Bastidores do Penta”, também é uma boa oportunidade para refletir sobre a carreira.
A pedido de EXAME, Rodrigo Vianna, CEO da Mappit, separou quatro lições que podemos aprender com a trajetória de ascensão da seleção durante o campeonato.
"Felipão como comandante daquele esquadrão sempre se pautou em construir um grupo de jogadores complementares em campo mas diferentes fora dele. Acreditou sempre que nas suas equipes, pessoas multidisciplinares e com perfis diferentes formavam um grupo mais coeso e complementar.
"Ali, naqueles 22 jogadores tínhamos grupos distintos, que fora do campo eram mais próximos mas dentro do campo sem nenhuma distinção jogavam juntos e se doavam pensando num bem maior. Essa EQUIPE na sua essência foi fundamental para o sucesso em 2002 – Todos jogaram (Exceto Kaká, Dida e Rogério Ceni) e foram recompensados com o Penta", diz Viana.
Algo pouco comum nas equipes profissionais naquela época se tornou uma marca daquela seleção: a liberdade com responsabilidade o que, no jargão corporativo atual, significa tratar as pessoas como adultas entendendo que elas possuem consciência das suas escolhas.
"A liberdade consciente. Os jogadores eram premiados e recompensados a cada jogo com o direito de fazer o que bem entender nas folgas, bem como ao final dos jogos poder celebrar a vitória como num Happy Hour. Isso era algo que Felipão colocou na cabeça de todos os atletas, que com liberdade era possível unir o profissionalismo com o lado pessoal dos atletas", afirma o especialista da Mappit.
"Diferente da Copa de 2006 em que eu estive presente e próximo da seleção, em 2002 não havia “distinção” dos atletas no time. Todos tinham o mesmo tratamento, sem regalias para uns e não para outros. A hierarquia nesse sentido funcionou muito bem, pois dava poder a comissão técnica, mas colocava todos os atletas num mesmo patamar. Desde o Capitão até o Artilheiro e melhor do Mundo, como aos reservas e que pouco entraram em campo", afirma Viana.
Além de começar desacreditada, como em qualquer Copa do Mundo, o Brasil enfrentou partidas muito desafiadoras. E foi preciso que os jogadores suportassem a pressão e tivessem "nervos de aço", controlando as emoções para não sucumbir diante dos desafios.
"Foi assim logo na estreia, mas 2 jogos marcantes foram contra a Bélgica e Inglaterra. Em ambos os adversários saíram mais fortes, pressionando muito o time e no caso da Inglaterra até com um gol com uma falha do Lucio, que era um dos nossos mais sólidos defensores. Logo o talento individual de uma seleção mágica fazia diferença, mas que sem esse equilíbrio e força mental poderia ter sido trágico para nossos objetivos", completa o especialista.