Anceli Marcos, da Pyxis (ao centro): proposta de criação de clube de investimentos só para mulheres (Alexandre Battibugli / VOCÊ S/A)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2013 às 12h39.
São Paulo - Sexo frágil? Nem tanto. A mulher pode até ser um bicho esquisito, como celebrou Rita Lee décadas atrás, mas ganha cada vez mais espaço no mercado de ações, um ambiente em que, por enquanto, os homens ainda são maioria.
O número de mulheres com participação ativa na BM&FBovespa mais do que quadruplicou nos últimos seis anos e hoje já representa 25% do total das 572.000 pessoas que aplicam na bolsa no Brasil.
E pode chegar a 50% se seguir o caminho de mercados maduros, como os Estados Unidos. Lá, não tem essa de que pregão e homebroker são coisa de macho. As americanas acompanham pari passu tudo o que acontece no mercado de capitais e são tão agressivas (no sentido de ousadas) quanto eles.
Ao que tudo indica, as brasileiras seguem a mesma direção. Apesar de ainda conservadoras (a maioria das mulheres prefere a poupança segundo pesquisa do instituto Sophia Mind), elas estão cada vez mais bem informadas sobre investimentos de maior risco e carregam particularidades que as fazem ser vistas com respeito por especialistas desse meio.
São cautelosas por natureza, estudiosas e, consequentemente, mais assertivas do que os homens. Isso porque demoram mais a entrar na bolsa, mas, quando entram, se preparam melhor antes de escolher o produto financeiro.
"A mulher busca conteúdo aprofundado e bons fundamentos sobre a empresa em que irá investir", diz Hélio Pio, gerente da Ágora Invest, uma das maiores corretoras de valores do mercado nacional.
Lá, 30% de seus 130.000 investidores ativos já são mulheres. "O lado racional e detalhista predomina entre as mulheres, que também não se deixam levar por boatos quando o assunto é dinheiro."
Corretagem zero
De olho no público feminino, as corretoras de valores criam iniciativas para fisgar a investidora. A Spinelli, por exemplo, resolveu zerar a taxa de corretagem para as mulheres que fizerem qualquer tipo de movimentação ou aplicação financeira em 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Na prática, elas (e só elas, não eles) deixarão de pagar o equivalente a 16,90 reais por ordem de compra executada no lote padrão. Para quem costuma realizar várias operações num único dia, esse valor pode atingir a casa de centenas de reais. "É um presente para as mulheres", diz Rodrigo Puga, responsável pelo homebroker e pela carteira de 10.000 investidores da Spinelli.
Há quatro anos, o público feminino representava 10% de seus clientes. Hoje já soma 25% do total. "O que mais me impressiona é que mesmo em ano de crise na bolsa, como foi 2011, quando muitos investidores abandonaram suas aplicações, as mulheres ampliaram seu espaço." E isso só se explica porque elas pensam no longo prazo e não saem correndo no primeiro susto.
Só para mulheres
Os clubes de investimentos, que pipocam em todo o país e ganharam regras especiais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no ano passado (veja quadro acima), também têm sua versão feminina. Esses clubes são uma forma inteligente de ganhar dinheiro com baixo volume individual de aplicação, diversificação dos investimentos, menores taxas de administração e de corretagem e troca de experiências e conhecimento.
Quando se trata de mulher, isso é essencial. A carioca Sandra Blanco, de 44 anos, foi uma das pioneiras ao montar com outras três amigas, em 2004, o Mulherinvest, clube que começou com 600 reais de investimento. Hoje são 87 participantes com idades que variam de 20 a 60 anos, que administram 850.000 reais em volume financeiro.
Elas se reúnem uma vez por mês para discutir os rumos da carteira, que conta com papéis de empresas como Petrobras, Vale, Hering, BRMalls, BR Foods, Cemig, Itaúsa, Grendene e OGX. "Falamos sobre a rentabilidade das ações, economia, política e seus reflexos na bolsa" diz Sandra.
Mas como será que as mulheres estão se preparando para entrar nesse mundo nervoso e cheio de riscos? Muitas buscam cursos e palestras especialmente desenhados para elas.
É assim no projeto Bolsa & Batom, em Campinas, no interior paulista, onde temas como inteligência financeira, controle de gastos, aposentadoria, investimentos de risco e premissas para se escolher uma ação são debatidos em sala de aula. Cerca de 120 mulheres participam mensalmente das atividades realizadas por lá.
"Damos suporte educacional para quem quer investir, com alguns projetos só voltados à bolsa", diz Anceli Marcos, sócia-diretora da Pyxis Academia de Investimentos e idealizadora do projeto. Ela observa que muita gente jovem tem procurado se informar sobre o mercado financeiro.
A maior busca se concentra na faixa de 26 a 35 anos, mas, em volume de recursos, há grande presença de investidoras com mais de 60 anos.
"O interesse é tão grande que estamos formando um clube de investimentos. Já temos 30 interessadas. Só falta aprovar o pedido com a CVM", diz Anceli, biomédica de formação, com especialização em gestão empresarial pela Unicamp.