Relógio: o que é considerado tempo à disposição do empregador é que mudou na CLT (DeanDrobot/Thinkstock)
Camila Pati
Publicado em 12 de janeiro de 2017 às 15h00.
Última atualização em 12 de janeiro de 2017 às 15h00.
São Paulo – “O tempo é democrático. Um dia tem 24 horas tanto para um presidente de um país, como para um morador de rua”, escreve Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza no prefácio do livro da especialista em produtividade Tathiane Deândhela “Faça o Tempo Trabalhar por Você” (Editora Sermais).
Se a quantidade de tempo em um dia é invariável, o que muda é a relação das pessoas com o passar das horas. Enquanto uns têm mais controle sobre a agenda diária, outros são vítimas do relógio.
Para Tathiane, há uma ligação íntima entre produtividade e autoconhecimento. “Muitas pessoas fazem milhares de coisas que não precisariam fazer durante suas vidas”, diz ela. Confira trechos da entrevista:
Exame.com: por que administrar o próprio tempo é tão complicado para algumas pessoas e para outras não é?
Tathiane Deândhela: aquelas pessoas que têm clareza de seus objetivos e prioridades conseguem gerir melhor suas atividades e energias dentro do tempo de 24 h que todos nós temos. Do que adianta sermos eficientes na execução de uma atividade se essa atividade talvez nem precisasse ser feita? Muitas pessoas fazem milhares de coisas que não precisariam fazer durante suas vidas, simplesmente por não saber exatamente aonde querem chegar e o que é importante para elas. Por isso o autoconhecimento é tão crucial neste cenário.
Exame.com: o que você vê acontecer, na prática, que mostra a relação entre autoconhecimento e administração do tempo?
Tathiane Deândhela: isso acontece com frequência entre os estudantes ao definirem o curso para o vestibular. Já assisti a várias pessoas começando três cursos diferentes e parando no meio do percurso frustadas porque não se encontraram ainda. Depois de 6, 10 ou 20 anos, conseguem se encontrar e então a vida começa a seguir em uma velocidade e intensidade digna de garantir resultados notáveis.
Exame.com: como acontece com os profissionais?
Tathiane Deândhela: conheço muitos profissionais que trabalham com o que amam, mas durante o dia se perdem em meio a tantas propostas que não conseguem fazer o principal. Como Steve Jobs certa vez disse: “profissional de sucesso é aquele que tem a capacidade de dizer não a boas ideias”. Em meu livro eu o parafraseei, com base em minha experiência, afirmando que profissional de sucesso é aquele que consegue dizer não a propostas tentadoras.
Exame.com: o que levar em conta para não errar na hora de decidir dizer não a uma proposta tentadora?
Tathiane Deândhela: se a proposta não levá-lo em direção aos seus objetivos, ela não serve, por mais interessante que pareça ser. Quando falamos de produtividade, estamos falando de resultado e eficácia com foco. A máxima que devemos levar em consideração é nunca confundir estar ocupado com ser produtivo.
Exame.com: quais são as reclamações mais comuns dos seus clientes em relação à administração do tempo?
Tathiane Deândhela: as reclamações mais comuns são de não conseguir conciliar a vida pessoal com a vida profissional, impactando no tempo de qualidade para filhos, família e atividades de lazer. De um lado a cobrança para ser um profissional de destaque, de outro lado, como ser um bom pai/ mãe, esposo/ esposa, e ter tempo para si mesmo.
Exame.com: o que você indica?
Tathiane Deândhela: atuação contínua para eliminar ou minimizar os ladrões da produtividade. Dentre os principais ladrões da produtividade, temos redes sociais em excesso, procrastinação, centralização, interrupções, dentre outros. Aprendermos a delegar da maneira correta, construirmos processos que façam com que a empresa funcione naturalmente sem que precisemos estar lá o tempo todo, e atuarmos na prevenção para termos menos incêndios e crises, com certeza já farão com que o tempo renda mais.
Exame.com: por onde começar?
Tathiane Deândhela: O primeiro passo é você mapear o seu dia, perceber qual o seu ou seus principais ladrões do tempo e trabalhar um plano de ação para se proteger deles. Ladrões da produtividade são como unha, devem ser cortados com frequência porque só crescem. Todos os dias surgem novos hábitos prejudiciais.
Exame.com: qual o erro mais comum na administração de tempo?
Tathiane Deândhela: o mais comum é a multitarefa, ou seja, ter a ilusão de que fazer várias coisas ao mesmo tempo garantirá mais produtividade. A ironia é que ocorre exatamente o contrário: em uma pesquisa realizada pela Fuze, ficou comprovado que pessoas que fazem várias coisas ao mesmo tempo demoram 50% mais para concluírem a tarefa e erram 50% mais. Depois essa pessoa se estressa por ter tanto retrabalho.
Outro estudo realizado na Universidade de Stanford comprovou que pessoas multitarefa diminuem a capacidade no cérebro de concentração, o que diminui também o poder de reflexão e criatividade, abalando nossa inteligência emocional e ficamos mais viciados em irrelevâncias.
Exame.com: tem alguma dica prática para os multitarefas?
Tathiane Deândhela: em vez de traçar 30 tarefas para fazer em um só dia, veja quais são as três indispensáveis. Quais são as três atividades ou realizações do dia que precisam ser executadas para falar que o dia valeu a pena? Essa é uma pergunta que sempre devemos nos fazer, pois imprevistos ocorrem e muitas vezes ficamos frustados por chegar ao fim do dia sem cumprirmos metade do que tinhamos proposto.
Tony Robbins trouxe uma reflexão interessante neste sentido, quando ele disse que nós superestimamos nossa capacidade para um ano e subestimamos nossa capacidade para 10 anos. Ou seja, as pessoas não possuem o hábito de planejar suas vidas para daqui 10 anos por acharem que está longe demais e que estarão fora do controle, mas na verdade em 10 anos bem trabalhados, poderemos conquistar o que parecia impossível aos nossos olhos. Já nos planejamentos de um ano, colocamos tantas coisas que dificilmente um ser humano conseguiria atingir, mas queremos dominar o mundo em 1 ano, sem fazer muito esforço para isso, onde entra a contradição.