A lógica por trás de cada resultado da bolsa pode trazer lições pertinentes para sua carreira (Getty Images)
Talita Abrantes
Publicado em 25 de setembro de 2012 às 14h59.
São Paulo – Quando olhadas na superfície, as horas dedicadas diariamente para a sua carreira podem parecer apenas os meios para conseguir uma remuneração digna no fim do mês e, como consequência, a conta da subsistência e a construção do patrimônio individual – ou aquilo que no jargão financeiro é chamado de “ativos”.
Mas erra feio quem aposta nesta lógica. Mais do que o salário no fim do mês e todos os recursos que ele pode comprar, a carreira é o principal ativo de um profissional, segundo Joseph Teperman, sócio da Flow Executive Finders.
Por conta disso, para ele, cada decisão de carreira deveria ser tratada com os mesmos critérios e cuidados que um bom investidor tem ao lidar com uma aplicação financeira.
Veja os principais itens que podem ser aplicados diante de uma decisão crucial na carreira, como aceitar ou não uma oportunidade profissional:
O que você quer e em quanto tempo
De acordo com Luiz Claudio Binato, CEO do INSTIAD (Instituto de Administração), toda decisão que envolve aplicações financeiras deve ser baseada na interação entre três conceitos chaves do vocabulário financeiro: rentabilidade, segurança e liquidez.
“Rentabilidade é o ganho líquido que você tem com a decisão. Segurança está ligada ao menor risco que você está disposto a correr e liquidez indica a capacidade de transformar o ativo em dinheiro”, afirma o especialista.
“Quando você vai fazer uma aplicação financeira, você tem que considerar quais destas três coisas você quer em determinado tempo. Ou você vai ter uma coisa ou você vai ter outra. Apenas no longo prazo, é possível ter as três juntas”, diz.
O mesmo vale para a trajetória de um profissional. E ter claro o que você quer da sua carreira é essencial na hora de tomar decisões. Por isso, se a meta é ter uma remuneração mais robusta, a segurança nem sempre pode ser garantida. Afinal, quanto maior o risco, maiores os ganhos.
Se a meta é segurança e certeza de que o emprego estará lá para todo o sempre (ou quase), a liquidez (ou a facilidade para transitar por carreiras e empresas diferentes) tende a ser menor, compara o especialista.
Decidido qual tipo de interação (ou não) entre estas três variáveis você quer, analise cada proposta de emprego ou projeto com base nestes princípios.
E internamente? Como a companhia em questão se resolve?
“Um analista sempre olha o negócio da empresa. Se é viável, se a margem é interessante, qual o valor agregado dos produtos e a posição frente aos competidores internos ou externos. Tudo para ver se o negócio é sustentável no longo prazo”, afirma Teperman.
Segundo ele, o mesmo tipo de questionamento deveria pautar as decisões de carreira. Os planos de negócios no longo prazo, a maneira como os recursos são empregados e até a visão dos líderes da companhia devem entrar na conta. E, detalhe, no caso das empresas abertas é possível encontrar todas essas informações nas páginas de relações com investidores ou no site da CVM.
Teperman conta que, há algum tempo, conheceu um profissional que recebeu uma proposta de emprego com salário de 1 milhão de reais. Mas uma conversa com o presidente da companhia – e a percepção do direcionamento que ele tinha para os negócios – fez o candidato recusar a proposta.
Algum tempo depois, conta Teperman, a percepção do profissional se concretizou: os negócios da empresa (como consequência da visão do presidente) começaram a ir mal.
Qual é o contexto macro que a proposta está inserida
Mas não dá para avaliar a direção que a empresa quer seguir sem ter noção da estrada. O contexto macroeconômico que ela está inserido é essencial para decisões de investimentos financeiros e profissionais.
“Um investidor sempre pondera o que acontece se o dólar subir, se o mercado retrair. Ele mensura os riscos envolvidos naquela aplicação”, diz Teperman.
Da mesma forma, os impactos econômicos no setor que a companhia está inserida, as características dos concorrentes nacionais e internacionais, bem como outros fatores macroeconômicos, também devem entrar na sua conta.
Lucro? Nem sempre
“O investidor, em essência, busca retorno absoluto, lucro. Um profissional deveria ponderar pela própria felicidade”, afirma o especialista da Flow. “Você vai trabalhar durante 40 anos, todos os dias. Esse trabalho trará rendimento para você viver sua vida? Para cuidar da sua família?”.