Carreira

As dicas deste CEO de multinacional que tem (só) 32 anos

Conversamos com José Piccolotto, o jovem presidente da multinacional americana Kemin na América do Sul


	José Piccolotto, da Kemin: "a gente tem que tentar sempre fazer diferente"
 (Fred Chalub)

José Piccolotto, da Kemin: "a gente tem que tentar sempre fazer diferente" (Fred Chalub)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 29 de junho de 2016 às 09h43.

São Paulo – Fosse a Medicina a vocação de José Piccolotto, presidente para a América do Sul da Kemin - empresa global de biotecnologia - ele certamente teria sido aqueles garotos que abrem a barriga de sapo para ver o que tem dentro. Mas, como ele sonhava ser um homem de negócios, sua grande diversão era ajudar no comércio da família.

A vontade de trabalhar era tão grande que seu pai tinha que pedir para que ficasse menos com ele na loja. Chegou até a proibir que o menino, que já sabia que queria ser executivo, ficasse por lá mais de um período do dia. “É que eu queria ir de manhã e de tarde”, conta.

Toda essa dedicação tinha ares de vocação e, segundo ele, foi o ingrediente essencial do sucesso que conquistou tão rápido na carreira. “Sabia que a pirâmide era estreita e eu tinha essa vontade e essa ambição de chegar lá”, diz Piccolotto.

Aos 31 anos, chegou ao posto de CEO de uma multinacional. Desde novembro de 2014, comanda toda a operação da Kemin, que é especializada na fabricação de microingredientes para uso na nutrição e saúde animal, na América do Sul.

Hoje, com 32 anos e 19 meses completos na cadeira de presidente, já acumula bons resultados. O crescimento de 40% no ano passado da empresa é um deles, assim como o aumento em 10 pontos percentuais da satisfação interna dos funcionários da Kemin.

Com EXAME.com, o jovem executivo, formado em administração pela Facamp e com MBA pela FGV,  falou da sua trajetória, do que considera fundamental na atividade como presidente de empresa.Também falou do seu estilo de liderança e deu algumas dicas de carreira para quem quer ter sucesso rápido, como ele quis (e conseguiu). A seguir confira trechos da conversa:

EXAME.com: Ser presidente de empresa era um objetivo de carreira?

José Piccolotto: Sempre quis ser executivo. Minha família tem comércio e, desde pequeno, eu via a imagem do homem de negócios. Sempre me encantou pensar em ter uma posição de liderança, de destaque numa empresa, o que, consequentemente, é ser o presidente.

EXAME.com: O que foi essencial na sua trajetória para que chegasse a presidente de uma multinacional com pouco mais de 30 anos?

José Piccolotto: O que foi essencial - e o que muita gente tem - é a dedicação. Também tem uma parte importante que são os valores e princípios, e para isso não tem um curso ou faculdade, você aprende com a família, desde pequeno. Com certeza eu acertei muito mais do que eu errei, e esse então foi resultado positivo da equação. Mas, o ponto principal foi que eu sabia que queria ser diferente. Sabia que a pirâmide era estreita e eu tinha essa vontade e essa ambição de chegar lá.

EXAME.com: E o que você fez, na prática, para que isso acontecesse?

José Piccolotto: Como eu percebi isso desde pequeno, já trocava parte das minhas férias para ir trabalhar com meu pai no comércio da minha família. Ele até tinha que pedir para eu parar, porque eu queria ir de manhã e de tarde, era criança e queria ajudar no recebimento, no pacote, no embrulho. Via alguma coisa que não estava funcionando e não aceitava. Isso continuou nas outras empresas em que eu trabalhei. Nunca me acomodei em só fazer o que era inerente à minha função. Não é porque não estava na descrição da minha função que eu não ia fazer. Fazia minhas tarefas, mas sempre estava de olho no que estava acontecendo em outro departamento, para onde o mercado estava indo, estava atento às movimentações. Aí você acaba criando um bom relacionamento dentro da empresa em que você trabalha e, consequentemente, é lembrado quando tem alguma oportunidade.

EXAME.com: Quais os principais acertos da sua carreira?

José Piccolotto: Um dos acertos da minha carreira foi eu ter aceitado desafios e ter começado a trabalhar cedo. Quando estava na faculdade, que era integral, eu já trabalhava meio período. Foi uma escolha que eu fiz de terminar com mais experiência que meus pares e olhando para trás eu vejo que fiz a escolha certa. Abri mão de muita coisa, muita gente ia para o bar depois da aula, para as festas e eu tinha que trabalhar. Mas depois eu vi que para ser melhor eu tinha que me dedicar mais do que os outros, vi a oportunidade de me desenvolver profissionalmente.

EXAME.com: E que erros foram importantes no seu processo de crescimento profissional?

José Piccolotto: O sucesso da equação é errar e aprender com o erro. Uma coisa que me fez crescer muito na minha carreira é que já fui mandado embora. Aprender a lidar com essa frustração é um grande aprendizado. Aconteceu no começo de carreira e logo aprendi o que não podia fazer.

EXAME.com: Essa visão de aprendizado vale para o fracasso?

José Piccolotto: Para crescer a gente precisa arriscar. O segredo é tentar calcular o máximo do risco, mas ao arriscar, você vai errar. O que não pode é continuar errando. Eu acho que a gente tem que tentar sempre fazer diferente. Um dos sucessos da Kemin está ligado à mudança da gestão, da velocidade de tomada de decisão. Fazendo o mesmo a empresa estava crescendo 6%, 8%. Com a mudança passamos a crescer 40%.

EXAME.com: Você já chegou na Kemin como presidente para a América do Sul. Você trabalhava onde quando surgiu essa oportunidade?

José Piccolotto: Assumi a presidência da Kemim em novembro de 2014 por um convite do CEO e acionista para assumir a presidência da América do Sul. Antes, 80% da minha vida profissional trabalhei na EMS. Comecei como vendedor e fui sendo promovido, crescendo horizontal e verticalmente. A cada um ano, um ano e meio eu assumia novas responsabilidades. Isso me deu uma vivência grande do mercado e em todas as áreas. Antes de vir para a Kemin, eu estava responsável pela área internacional de desenvolvimento de negócios. Tinha a responsabilidade de iniciar a operação da empresa no exterior, o que me deu a experiência em tratar com outras culturas.

EXAME.com: Essa passagem na área internacional, ajudou em que quando assumiu a Kemin?

José Piccolotto: Ajudou o fato de eu já ter experiência com negócios internacionais, registro de produtos, comércio exterior, fabricação. Essa experiência me deu toda a bagagem que eu não tinha quando trabalhava só com o Brasil e ficava restrito a marketing e vendas. Quando você sai do Brasil tem que fazer tudo: operação, registro, logística, fabricação, parte financeira, análise de viabilidade para entender se o negócio é interessante no país ou não.

EXAME.com: O fato de você ser jovem muda alguma coisa no estilo de liderar, traz um desafio maior?

José Piccolotto: Muda. Comecei a trabalhar cedo e aos 22 anos eu já era chefe de outras pessoas, mais velhas, com mais experiência de vida e mais tempo na posição. Eu tive que aprender a lidar com essa situação.

EXAME.com: O que teve que aprender?

José Piccolotto: Primeiro, ter a humildade de reconhecer que a história e a experiência que as pessoas têm tanto no negócio como na vida e saber canalizar isso para tirar o melhor proveito com vontade, energia, inteligência e bom senso. Na Kemin, não foi diferente. Mudei de ramo, agora estou em um mercado mais técnico do que o farmacêutico. As pessoas envolvidas, na grande maioria, são zootecnistas, veterinários e minha formação em administração e marketing não tem nada a ver com a parte técnica, mas venho aprendendo e vem dando certo.

EXAME.com: Faz falta não ter formação técnica?

José Piccolotto: Eu preciso ser um bom administrador e preciso ter ótimos elementos no meu time de liderança que conheçam o mercado técnico. Minha formação me ajuda a gerenciar esse time técnico.

EXAME.com: Quais as características essenciais a um bom líder?

José Piccolotto: Precisa inspirar e servir o seu time, deixá-lo se desenvolver e criar, além de saber escutar as pessoas.

EXAME.com: Essa habilidade que você falou, de saber escutar, dizem que falta a muitos líderes. Você vê isso acontecer?

José Piccolotto: Eu aprendi a escutar por necessidade, precisava escutar sempre alguém que já tinha vivido aquela situação, que já tinha experiência para poder aprender alguma coisa e saber como tomar a liderança. Mas, ao longo dos anos, vi empresas e departamentos não tendo sucesso porque as pessoas não eram ouvidas.

EXAME.com: Como é sua rotina?

José Piccolotto: Trabalho bastante, gosto da adrenalina, da agitação do dia a dia, escritório movimentado. Passo praticamente 24 horas por dia conectado, mas quando quero fazer alguma coisa também sei me desconectar. Chego cedo ao escritório e vou embora um pouco depois da 20h. Não fico até muito tarde porque se não as pessoas acabam ficando lá para me fazer companhia e eu gosto que as pessoas tenham vida. Se preciso terminar alguma coisa, vou para casa e faço de lá para não incentivar os funcionários a ficar muito mais tempo.

EXAME.com: Faz muitas reuniões?

José Piccolotto: Como em qualquer empresa multinacional a carga de reuniões com a matriz é bem grande.

EXAME.com: Quais as atividades mais importantes para um presidente de empresa, na sua opinião?

José Piccolotto: Parte fundamental da agenda é a comunicação. A sua comunicação e da empresa tem que estar muito alinhadas com o time de líderes que fazem parte da equipe. Toda semana fazemos uma ligação e conferência por 20 minutos, em que cada um dos cinco líderes tem três minutos para fazer um resumo sobre suas atividades naquela semana. Isso economiza tempo e muitos e-mails, por isso é mandatório, independentemente de onde estamos nos conectamos porque isso facilita e destrava toda a semana.

EXAME.com: Que dicas você daria aos jovens que estão começando a carreira e querem ter sucesso rápido, como o seu.?

José Piccolotto: A pessoa tem que querer, tem que ter claro o objetivo. Não pode ser acomodado e esperar que alguém vá fazer algo por você. Muito comum quando a gente vai conversar sobre plano de sucessão na empresa é perguntarem qual o plano de carreira que a empresa oferece. E eu devolvo a pergunta: qual é o seu plano de carreira? Aonde você quer estar daqui a um ano, daqui a cinco anos? E 70% das pessoas respondem que não sabem. Se você não tem claro o seu plano de carreira, como que a empresa vai conseguir desenvolver um plano para você? A pessoas da minha idade querem crescer, têm ambição, mas, quando a empresa está ruim, já querem mudar de área. A tolerância ao tempo é diferente. Precisa ter um pouco de paciência, ter claro o que quer e fazer sempre mais do que o seu. Se você só fizer a sua parte, vai ser como todo mundo.

EXAME.com: E a sua carreira, você planeja? Quais os seus planos para o futuro?

José Piccolotto: Sim planejo, tenho planos ainda estou iniciando esse ciclo de transição para estabelecer o negócio da empresa no Brasil. A Kemin ainda é uma empresa relativamente nova no Brasil e eu tenho o objetivo e o compromisso de consolidá-la em uma posição de liderança no mercado de aditivos.

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