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Antes restritos à apresentação institucional, os vídeos caíram no gosto das empresas como instrumento de treinamento, vendas e engajamento de funcionários

Claudia Formiga (de frente), gerente de comunicação para a América Latina da GE, durante uma produção de vídeo: a websérie sobre cultura organizacional da empresa foi vista por mais de 2.500 funcionários (Marcelo Spatafora / VOCÊ RH)

Claudia Formiga (de frente), gerente de comunicação para a América Latina da GE, durante uma produção de vídeo: a websérie sobre cultura organizacional da empresa foi vista por mais de 2.500 funcionários (Marcelo Spatafora / VOCÊ RH)

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Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2014 às 10h13.

São Paulo - Há aproximadamente seis anos, Vinicius Saraceni, sócio-fundador da Geodinâmica, empresa que desenvolve metodologia de ensino e materiais didáticos para redes privadas e públicas, se viu diante de um enorme desafio. Ele teria pouquíssimo tempo para fazer uma apresentação para o vice-presidente de uma multinacional, até então seu único cliente.

Se fosse explicar tudo em Power Point, levaria pelo menos meia hora. Talvez uma hora de reunião não fosse suficiente para que ele conseguisse transmitir de forma genuína e convincente um dos principais valores da metodologia de ensino que criou. “O programa tem como propósito o engajamento de professores e alunos. Como eu explicaria isso?”, diz Saraceni.

O empresário encontrou a resposta no vídeo — e no poder da síntese da edição. “É difícil traduzir valores subjetivos em palavras ou números. No vídeo, pudemos ouvir pessoas relatando o valor do material e da metodologia que produzimos.”

Ao perceber que era mais fácil explicar seus produtos e resultados apresentando depoimentos de usuários, Saraceni passou a usar o vídeo como ferramenta oficial para captar mais clientes. Tem dado certo. No começo, a Geodinâmica atendia apenas uma cidade. No fim deste ano, estará presente em mais de 430 municípios.

Assim como a Geodinâmica, outras empresas já perceberam as dezenas de possibilidades trazidas pelos vídeos e vêm se curvando à era YouTube. Não poderia ser diferente. Um estudo da Pixability, empresa de análise de dados de mídias sociais e YouTube, mostra que os vídeos são compartilhados 1.200 vezes a mais do que os links e textos somados.

No mundo, 1 bilhão de pessoas assistem a mais de 6 bilhões de horas de vídeos por mês somente no YouTube. Se tanta gente assiste a tantos tutoriais, esquetes, palestras e todo tipo de gravação, por que restringir a ferramenta à apresentação institucional da empresa?

O Bradesco foi um dos que perceberam que poderiam ir muito mais longe se usassem a plataforma audiovisual para outras finalidades. No final do ano passado, o banco fez a Sipat Digital, com 20 vídeos de aproximadamente 2 minutos cada, e transformou a convencional semana interna de proteção a acidentes no trabalho num evento muito mais atraente.

De acordo com Glaucimar ­Petikov, diretora de recursos humanos do Bradesco, houve mais de 60.000 visitas aos vídeos e 3.000 comentários foram registrados. O banco já usava essa plataforma para treinamentos de seus funcionários. No ano passado, os 39 vídeos disponíveis foram visualizados 129.000 vezes.

A ferramenta é usada, inclusive, para complementar a preparação dos funcionários para o exame da certificação em produtos de investimento (a CPA), exigida por resolução do Conselho Monetário Nacional. Nesse curso, que combina aulas presenciais e virtuais, os vídeos têm uma função de resgatar conteúdos e reforçar o aprendizado.

“Os vídeos dão um resultado muito positivo na preparação dos funcionários para os exames de CPA”, diz Glaucimar. “Eles agregam, destacam os pontos mais importantes e contribuem para a fixação do conteúdo.”

Fortalecer a assimilação do conteúdo e tornar mais simples o entendimento de determinados temas são os principais objetivos (e ganhos) das empresas que usam o vídeo como uma plataforma de treinamento e vendas. A Alelo, empresa de gestão de benefícios, como vale-alimentação, desenvolveu um vídeo só para auxiliar a área comercial na hora de explicar um de seus serviços, o Gestão de Vale-Transporte.

“Como esse é um produto complexo, muitas vezes os clientes tinham dificuldade para compreender todas as funcionalidades e aplicações do serviço”, afirma Eduardo Gouveia, presidente da Alelo. “O vídeo, então, surgiu como principal ferramenta dentro de uma ação maior para auxiliar os profissionais da equipe de vendas na apresentação do produto aos clientes.”

Segundo Gouveia, de setembro a dezembro de 2013, o número de propostas emitidas cresceu mais de 100% em relação às emissões feitas entre janeiro e agosto do mesmo ano. “Confeccionar esse material foi extremamente positivo para os nosso negócios”, afirma.

Glaucimar Petikov, diretora de RH do Bradesco: a Sipat Digital, desenvolvida pelo banco, recebeu mais de 60.000 visitas e 3.000 comentários (Fabiano Accorsi / VOCÊ RH)

Poder de conexão

O meio audiovisual tem também atendido a outra necessidade das empresas e, especialmente, da área de recursos humanos: a de engajar as pessoas para metas ou novas campanhas. No grupo Gerdau, os vídeos são usados, por exemplo, em esforços de comunicação interna, especialmente quando a empresa percebe a necessidade de transmitir uma mensagem global da liderança a todos os empregados distribuídos nos 14 países.

A companhia acredita que, ao ser dita diretamente pelos líderes, a mensagem, seja ela qual for, ganha mais força. De acordo com Maria Tereza Gomes, diretora da produtora Jabuticaba Conteúdo, o vídeo é realmente imbatível no quesito empatia.

“Quando você coloca um executivo contando a própria história, o resultado é muito diferenciado”, diz ela. Nessa situação, o espectador percebe o comprometimento, o brilho no olhar, a sinceridade — elementos impossíveis de aparecer num texto escrito em papel ou mesmo num e-mail.

Para aproveitar esse potencial de sensibilização que o vídeo proporciona, Duda Ferraz, sócio da produtora Samambaia Filmes, prefere gravar depoimentos espontâneos nas produções para seus clientes corporativos. Ferraz observa que as pessoas se identificam mais facilmente quando assistem a pessoas reais contando suas histórias do seu jeito.

“O vídeo tem um poder de conectar as pessoas muito maior do que outras mídias”, afirma Ferraz. “E, quando é feito como um documentário, a credibilidade também fica maior.”

Os documentários não são os únicos a agradar o universo corporativo. Maria Tereza, da Jabuticaba, tem produzido webséries e até talk shows. Entre suas produções, estão uma websérie de dez episódios e um programa de entrevistas no formato talk show para a GE.

Claudia Formiga, gerente de comunicação de engajamento para a América Latina da GE, conta que, em média, mais de 2.500 funcionários assistiram a cada um dos dez episódios da websérie sobre a cultura organizacional, carreira e valores da companhia. A série, disponível para a América Latina, é uma entre várias iniciativas da GE com vídeo.

Durante a penúltima semana de maio, a empresa realizou um fórum virtual em que funcionários de diversas localidades participaram de debates sobre desenvolvimento de talentos, atendimento ao cliente, entre outros temas variados.

Com o mesmo propósito de atingir mais pessoas com mensagens mais humanas, o banco HSBC também utiliza a plataforma audiovisual. Ela é, na visão da área de comunicação do banco, a melhor forma de conectar à liderança os 22.000 funcionários que estão espalhados em todo o território brasileiro.

“Em um país com dimensões como o Brasil, é muito difícil que a liderança de uma empresa consiga circular por todos os seus sites”, diz Julio Gama, superintendente de comunicação do HSBC. “Neste caso, o vídeo nos ajuda a aproximar empregados e líderes, independentemente da disposição geográfica.”

O HSBC também usa o vídeo para se relacionar com clientes atuais e potenciais. Neste ano, incrementou um projeto para clientes corporativos usando hangouts, encontros virtuais para debates em vídeo em que internautas podem interagir com os participantes.

De acordo com Renata Brasil, diretora de marketing para pessoa jurídica do banco, o objetivo desses encontros é levar conteúdo de qualidade e interagir com o mercado corporativo. Em 2014, serão oito hangouts ao vivo no canal do banco no YouTube.

A preferência por vídeos para determinadas situações não significa que o HSBC e as outras empresas não usem outras mídias. Felizmente para quem vive dos outros veículos de comunicação, tanto impressos quanto digitais, o vídeo não comporta todo tipo de conteúdo ou propósito, de acordo com os especialistas.

“Trabalhamos dentro de um contexto de comunicação interna multiplataforma, procurando desenvolver uma comunicação integrada, utilizando os diversos canais de acordo com o perfil e a necessidade de cada situação”, diz Gama, do HSBC. Assim como no banco inglês e nos treinamentos telepresenciais de empresas como o Bradesco e o hotel JW Marriott, no qual os vídeos são usados em 95% dos casos, a tendência é usar diferentes plataformas para os diferentes objetivos.

Dessa forma, o vídeo entra com uma alternativa inteligente de atingir diferentes públicos, mas não é o substituto perfeito para tudo. O jornalzinho da empresa, portanto, pode continuar sendo impresso para ser lido no trajeto para casa, dentro do ônibus sem precisar de wi-fi ou 3G.

A revista com o retrato do funcionário do mês também pode ser mostrada para a família, guardada para posteridade ou até mesmo emoldurada. E o café da manhã com o presidente não precisa ser substituído por um vídeo na intranet. Afinal, a imagem pode valer mais que mil palavras, mas a presença ainda é a forma mais poderosa de se conectar com as pessoas.

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