Home office e família: pesquisa da Fenabran revela como os brasileiros estão se dividindo (g-stockstudio/Thinkstock)
Marina Filippe
Publicado em 30 de junho de 2020 às 13h47.
A pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), causador da síndrome respiratória covid-19, está mudando a vida de todos. Com o distanciamento social, as dinâmicas de trabalho se alteram, e, consequentemente toda a rotina das famílias.
A consultoria Filhos no Currículo, em parceria com o Movimento Mulher 360, realizou uma pesquisa, entre abril e junho, para mapear as expectativas e a experiência de profissionais ao conciliar carreira e filhos antes, durante e depois da pandemia. Foram ouvidos 825 pais e mães (sendo 80,33% mães, por maior interesse delas em responder a pesquisa) com filhos de 5 anos em média.
Entre os entrevistados, um terço nunca fazia home office antes da pandemia porque a função (33,91%), o gestor (32,62%) ou a cultura da empresa (14%) não permitia. E 57% dos que iam até o trabalho levavam, em média, de 30 a 60 minutos de deslocamento. Dos 44% de respondentes que faziam home office de forma estruturada, 25% o praticavam uma vez por semana.
Mesmo durante o trabalho em casa, 84,47% dos pais e mães tinham algum tipo de suporte antes da pandemia, sendo a escola ou creche em 62% dos casos.
Agora, durante a pandemia, cresce o número de entrevistados que trabalham em casa, chegando a 89% deles em tempo integral.
A disparidade de gênero continua evidente num cenário no qual é preciso conciliar o trabalho com o cuidado das crianças. Enquanto 50% dos homens considera fácil conciliar filhos e carreira, apenas 33% das mulheres afirmar o mesmo.
“É preciso transformar a mentalidade de que cuidar dos filhos é uma responsabilidade exclusiva da mulher, engajar as empresas e a sociedade para essa discussão”, afirma Margareth Goldenberg, gestora executiva do Movimento Mulher 360.
Como mostra a reportagem de capa de Exame desta quinzena, o modo cultural como o trabalho doméstico é dividido entre homens e mulheres parece impactar apenas o microuniverso familiar, mas o Fundo Monetário Internacional estima que o produto interno bruto global cresceria pelo menos 4% se o trabalho não remunerado fosse mais bem distribuído.
Já a organização ONU Mulheres ressalta que triplica o número de trabalhos não remunerados para mulheres no isolamento social. Este dado é corroborado pela pesquisa na maneira diferente como pais e mães percebem o impacto da pandemia na gestão de seus papéis.
Atualmente, segundo a pesquisa da Filhos no Currículo e MM360, a falta da rede de apoio é uma grande barreira para um home office produtivo. Conciliar filhos e trabalho (70%), dar a atenção necessária aos filhos (56%), manter a produtividade no trabalho (51%) e cuidar de si (53%) são os maiores desafios, o que é ainda mais complexo para pais e mães de filhos de até 3 anos. Como resultado, 47% das pessoas com filhos nessa faixa etária afirmam que a produtividade diminuiu na pandemia.
“A sensação é que não consigo ser completa para o trabalho e nem para cuidar do meu bebê que depende totalmente de nós pais”, disse uma das respondentes.
Por outro lado, o momento tem estreitado os laços familiares e faz com que os pais desenvolvam novas habilidades em 98% dos casos. "A qualidade desta relação, o respeito e o afeto familiar têm impactos na autoestima, na confiança e na capacidade de expressar os sentimentos, assim como previnem depressão e ansiedade", diz Camila Antunes, especialista em parentalidade e cofundadora da Filhos no Currículo.
A dualidade é continua nessa relação. Enquanto a palavra positiva mais citada é felicidade, a negativa é cansaço. Nas respostas abertas da pesquisa, há dados interessantes para que as empresas consigam auxiliar as famílias de modo mais efetivo.
Entre as soluções que poderiam tornar o dia melhor, as mais relatadas, pela ordem, foram: atividades para entreter os filhos e dicas de brincadeiras; ajuda para organizar a rotina; apoio para se planejar melhor e alcançar mais produtividade; flexibilização e ajustes no horário de trabalho e redução da jornada. Foram apontados, ainda, desejo por menos reuniões e calls mais produtivas; demandas por cursos, palestras e treinamentos; conteúdo sobre como conciliar home office e filhos; suporte aos líderes; e uma educação em casa que funcione.
Quase 60% dos entrevistados gostariam de fazer mais trabalho remoto depois da pandemia. Entre aqueles que demoravam mais de 1 hora no percurso de casa ao trabalho, este percentual sobe para 74%.
Para os entrevistados, o home office ajudaria na produtividade e também no contato familiar. "Em um cenário normal, em que as crianças estejam na escola, a produtividade seria ainda melhor", diz um dos respondentes. "Gostaria de manter o home office, não de forma integral como atualmente, mas que fosse cumprido como parte da minha rotina, para manter essa proximidade com a minha família", afirma outro.
“É preciso desconstruir a ideia de que filhos são obstáculo na carreira. Pelo contrário, eles são potência e convidam diariamente profissionais a revisitarem e ampliarem suas habilidades no exercício diário da parentalidade”, diz Michelle Levy Terni, CEO e cofundadora da Filhos no Currículo.