Networking (Zurijeta/Thinkstock)
Claudia Gasparini
Publicado em 5 de dezembro de 2017 às 15h00.
Última atualização em 5 de dezembro de 2017 às 15h24.
São Paulo — Na cabeça de muitos profissionais, networking ainda é sinônimo de falsidade. Conhecer pessoas em eventos, trocar cartões e marcar cafés teria o objetivo de “fabricar” amizades que poderiam render vantagens profissionais no futuro. A tática pode até render benefícios pontuais, mas na prática nunca traz a estabilidade que se esperaria de uma sólida rede de contatos.
De acordo com Gabriel Toschi, diretor executivo da consultoria STATO, a saída para a velha prática do "uma mão lava a outra", que instala um clima de hipocrisia vazia para todas as partes envolvidas, pode estar na evolução do conceito de networking: o chamado "netweaving".
Formado pelas palavras “net” (rede, em inglês) e “weave” (tecer, entrelaçar), o termo apareceu pela primeira vez em 2003, em um livro do consultor americano Robert Littell, “The heart and art of netweaving”, e propõe uma nova forma de enxergar as relações humanas como meio de obter oportunidades profissionais.
A ideia do netweaving é cultivar laços de amizade divorciados de interesses materialistas de curto prazo — que viraram a tônica do networking nos últimos anos. “Quem pratica netweaving se aproxima do outro de forma descompromissada, com o objetivo de trocar experiências e ideias, sem esperar algo em troca no curto prazo, como uma indicação ou um emprego”, explica Toschi.
A vantagem de transformar contatos profissionais em amizades verdadeiras é que elas podem acompanhar a sua vida por muitos anos. Mas esse tipo de relação não será necessariamente útil no curto prazo.
“Ajudar uma pessoa de forma descompromissada pode trazer recompensas para você agora, daqui a muitos anos, ou nunca”, diz o diretor da STATO. “O grande benefício é saber que você fez o bem para alguém, que deixou um legado, o que traz muito significado e propósito para a carreira”.
E qual seria a diferença entre o novo termo da moda em inglês e a velha conhecida generosidade? Nenhuma, responde Toschi. A palavra é apenas uma proposta de ressignificação do ato de fazer networking, que finalmente deixaria de ser interesseiro para se tornar interessado.
Demonstrar vontade genuína na vida do outro, e ajudá-lo sem esperar nada em troca, não é algo que exclui a possibilidade de obter algo em troca. “A roda sempre gira”, afirma Maurício Cardoso, fundador do Clube do Networking. “Mais cedo ou mais tarde, quem colabora com uma pessoa acaba também recebendo uma colaboração, seja da própria pessoa, seja de alguém ligado a ela”.
Com um detalhe: ainda que as relações construídas pelo netweaving nunca se revelem úteis, o eventual sentimento de frustração será menor, ou nem existirá, já que não havia expectativas nesse sentido desde o princípio.
E mais: ainda que o contato não renda uma oportunidade profissional, os ganhos para o seu bem-estar continuarão existindo.
Um estudo de neurologia publicado pela prestigiada revista científica “Nature” revelou que a prática de atos generosos desencadeia mecanismos no cérebro associados à sensação de felicidade.
“Dizer a verdade e construir uma rede de conexões sinceras é algo que faz bem para a saúde e também para a carreira”, diz Cardoso. “Em ‘netweaving’ existe a palavra ‘weave’, que significa tecer, isto é, recuperar a malha social, feita de laços, e isso é algo de que todos estamos precisando”.