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A Petrobras muda com o pré-sal, e seus empregos também

Estatal planeja se desfazer de 38 empresas no exterior para investir no pré-sal. Saiba como isso afeta os empregos no setor de óleo e gás


	Bacia de Campos: ao lado da bacia de Santos, ela deve ser o foco dos investimentos da Petrobras nos próximos anos
 (Bruno Domingos / Reuters)

Bacia de Campos: ao lado da bacia de Santos, ela deve ser o foco dos investimentos da Petrobras nos próximos anos (Bruno Domingos / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 23 de janeiro de 2014 às 10h35.

São Paulo - Desde que descobriu a camada do pré-sal, em 2007, a Petrobras vem diminuindo sua participação no exterior para investir na exploração de óleo em águas profundas no país.

Sob o comando de Graça Foster, a companhia já se desfez de 15 unidades internacionais desde 2012. até 2015, a Petrobras vai encerrar a participação em outras 38 empresas no exterior. 

"Essa é uma decisão que exige foco e cuidado. A desinternacionalização pode gerar um desgaste de marca e uma necessidade de reestruturação do relacionamento com os parceiros do mercado global", diz Cristiane Serpa, professora de negócios e negociações internacionais do Ibmec em Belo Horizonte.

O plano de negócios 2013-2017 da Petrobras prevê a entrada de 9,9 bilhões de dólares somente em 2013 graças às unidades das quais a companhia está se desfazendo, o que deve ajudar a empresa a reduzir seu endividamento e colocar suas contas em ordem. Em outubro, a agência Moody’s de classificação de risco rebaixou a nota da estatal por preocupações com o endividamento e com seu caixa negativo.

Entre as unidades internacionais que não pertencem mais à Petrobras está a da Colômbia, vendida em setembro por 380 milhões de dólares à franco-britânica Perenco. Da parte que ainda sairá do portfólio da companhia estão as seis unidades africanas de Nigéria, Angola, Gabão, Benim, Namíbia e Tanzânia.

A decisão de encerrar as atividades no exterior pode ter efeitos distintos sobre os postos de trabalho quando se trata de unidades produtivas ou de meras representações comerciais.

"No caso de unidades produtivas, se uma delas é fechada — e não repassada a outra empresa —, pode haver demissões, porque os postos de trabalho são fechados. Se forem escritórios, o impacto é menor e os empregados podem ser realocados", diz Cristiane Serpa.


Nas unidades negociadas até agora, o pessoal contratado tem sido absorvido pelas empresas compradoras. Já os funcionários  concursados da Petrobras podem retornar ao Brasil ou ser enviados a outros países.

"A estrutura da Petrobras no exterior é enxuta. Por isso não houve demissões nessa venda de ativos e também porque na África e na Colômbia, onde operações já foram vendidas, esse mercado está aquecido", diz Giovanna Dantas, gerente de operações da NES Global Talent no Brasil.

"Não é possível afirmar que não ocorrerão demissões, porque o futuro das unidades operacionais vai depender da política de quem compra, que pode querer reduzir o número de funcionários. Mas até agora não se ouviu falar que as empresas que compraram ativos da Petrobras tenham cortado funcionários", diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria especializada em serviços de inteligência e gestão de negócios no mercado de energia. 

Águas profundas

Enquanto isso, a Petrobras concentra seus investimentos no pré-sal. No início de novembro, um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) afirmou que, se o pré-sal vingar, o país poderá triplicar sua produção petroleira até 2035, tornando- se o sexto maior produtor de petróleo do mundo.

Em 2012, o Brasil foi o 13º maior produtor. O primeiro lei lão de exploração e produção de petróleo na camada do pré-sal aconteceu em outubro. Libra, considerado o maior campo de petróleo do Brasil, foi arrematado pelo consórcio formado por Petrobras, Shell, Total, CNPC e CNOOC.

Mercado complicado

Apesar do entusiasmo em torno da exploração em águas profundas, nos próximos cinco anos a geração de empregos no setor de óleo e gás deverá ficar estável.

"Do leilão até a extração da primeira gota de óleo, leva-se de sete a dez anos. Pode ocorrer a procura por profssionais específcos em cada etapa: primeiro, nas empresas de geociências, que vão precisar de geofísicos e geólogos.  Depois, as empresas de engenharia e perfuração começarão a recrutar. Só depois haverá uma demanda por profssionais ligados diretamente à produção e por aqueles que trabalharão no apoio logístico offshore", diz Bruno Stefani, gerente da divisão de óleo e gás da consultoria Michael Page.


Segundo Bruno, o impacto das rodadas de licitação que estão acontecendo agora começará a ser sentido em um ou dois anos. "O mercado está complicado. Esperávamos que já houvesse neste momento um alto número de contratações, mas isso não ocorreu porque não foram feitos os investimentos em infraestrutura e houve uma redução do fôlego da Petrobras. As empresas de perfuração
— cujos gastos com pessoal são de 40% do total de custos — demitiram recentemente cerca de 1.000 funcionários. Além disso, a crise do grupo EBX colocou um grande número de profssionais no mercado", afirma Giovanna Dantas, da NES.

Para Raphael Falcão, diretor da Hays, o impacto da produção de petróleo do pré-sal não se restringirá à área técnica. "Ainda que a entrada na Petrobras seja por meio de concurso público, a empresa movimenta toda uma cadeia. Os negócios do pré-sal vão demandar um grande volume de terceirização e o apoio de empresas de serviços, alimentação, transportes e logística", afirma.

Raphael observa ainda que o aumento da produção petroleira pode contribuir para que a indústria naval brasileira se torne mais robusta e competitiva.

"No caso da construção de plataformas, por exemplo, a iniciativa privada ainda pede um prazo maior por não ter estrutura sufciente, enquanto a Petrobras pede prazo de entrega e qualidade internacionais. O aumento da produção pode impulsionar essa indústria", diz.

Ainda que otimista com o futuro do setor, Fabio Porto D’Ave, gerente da divisão de óleo e gás da Robert Half, acredita que a busca da Petrobras pela redução de custos para regularizar seu caixa pode fazer com que leve mais tempo até que o mercado sinta o impacto positivo da produção no pré-sal.

"A Petrobras já sinalizou que vai disputar cada dólar e cada real. Os fornecedores vão sofrer com isso e terão de montar um quebra-cabeça para conseguir atender à demanda. Isso deve impactar o salário dos profissionais", diz. Porém, suprimentos e compras são áreas que devem fcar aquecidas, já que as empresas precisarão de profssionais que consigam diminuir custos.

Além disso, as áreas de qualidade, meio ambiente, saúde e segurança também devem ter boas oportunidades, já que fazem parte das exigências da Petrobras para seus fornecedores. "O futuro é promissor. Talvez apenas demore um pouco mais e seja mais difícil do que se esperava", afirma.

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