Carreira

A pergunta mais importante da sua vida, segundo Tim Cook

Falando a formandos do MIT, CEO da Apple disse que se perguntou sobre propósito durante 15 anos da carreira, até que conseguiu uma resposta

Tim Cook: "quando você trabalha para algo maior que você mesmo, encontra significado, encontra propósito" (Youtube/MIT/Reprodução)

Tim Cook: "quando você trabalha para algo maior que você mesmo, encontra significado, encontra propósito" (Youtube/MIT/Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 8 de agosto de 2017 às 15h00.

Última atualização em 8 de agosto de 2017 às 17h16.

Tim Cook já havia atuado como CEO temporário algumas vezes antes da morte de Steve Jobs, quando o chefe tirava licenças médicas. Mesmo Jobs, sempre difícil de agradar, considerava que ele estava indo bem.

Por isso, quando a decisão precisou ser tomada de vez pela Apple, em 2011, a escolha de um sucessor foi rápida. Cook pode não ter a mesma habilidade de empolgar os outros que Jobs tinha, mas é claramente tão apaixonado pela empresa quanto seu cofundador fora.

Em um discurso aos formandos do Massachussetts Institute of Technology (MIT) – uma tradição conhecida como commencement address –, uma das instituições de ensino superior mais prestigiadas do mundo, ele relembrou sua trajetória e como se sentiu aliviado ao se ver em harmonia com os valores da Apple.

Pensando no papel cada vez mais importante da tecnologia no futuro da humanidade, ele também pediu aos recém-formados – muitos deles trabalham no ramo – que não se esqueçam de trazer humanidade às suas criações.

“A tecnologia é capaz de fazer coisas incríveis. Mas não quer fazer coisas incríveis. Não quer nada. Esse aspecto precisa de todos nós”, avisou.

Abaixo, você pode assistir ao discurso na íntegra e ler os melhores momentos em português, em tradução do Na Prática:

O discurso de Tim Cook no MIT

Haverá dias em que você vai se perguntar: “Onde tudo isso está indo?”, ”qual é o meu propósito?”

Serei sincero: me perguntei a mesma coisa por quase 15 anos.

Talvez falando sobre minha jornada hoje eu possa economizar algum tempo para vocês.

A luta para mim começou logo cedo. No ensino médio, pensei que tinha descoberto o propósito da minha vida quando pude responder a seguinte pergunta: ”O que você quer ser quando crescer?” Não foi o caso.

Na faculdade, pensei que tinha descoberto quando consegui responder: “No que você vai se formar?” Não.

Pensei que talvez eu tivesse descoberto quando encontrei um bom trabalho. Então pensei que só precisava obter algumas promoções. Isso também não funcionou.

Eu continuei me convencendo de que estava no horizonte, na próxima esquina. Nada funcionou. E isso realmente estava me afetando. Parte de mim continuou empurrando para a frente. E a outra parte perguntou: “Isso é tudo mesmo?”
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Fiz minha pós-graduação na Duke University em busca de respostas. Tentei meditar. Busquei a religião para me guiar. Li grandes filósofos e autores. E, num momento de indiscrição de juventude, posso até ter experimentado um Windows PC – o que obviamente não funcionou.

Após inúmeras idas e vindas, finalmente, há vinte anos, minha busca me trouxe à Apple. Ao mesmo tempo, a empresa estava lutando para sobreviver. Steve Jobs tinha acabado de retornar e lançado a campanha ‘Think Different’.

Ele queria empoderar os malucos – os desajustados, os rebeldes, os que causam problemas, os parafusos redondos nos buracos quadrados – para que fizessem seus melhores trabalhos. Se pudéssemos fazer isso, Steve sabia que realmente mudaríamos o mundo.

Antes daquele momento, eu nunca tinha encontrado um líder com tanta paixão ou encontrado uma companhia com um propósito tão claro e atraente: servir a humanidade. Era simples assim. Servir a humanidade.

E foi naquele momento, após 15 anos de busca, que algo clicou.

Finalmente me senti alinhado. Alinhado com uma empresa que uniu um trabalho desafiador e de ponta com um propósito maior. Alinhado com um líder que acreditava que a tecnologia que ainda não existia poderia reinventar o mundo de amanhã. Alinhado comigo mesmo e com minha própria necessidade profunda de servir algo maior.

Claro, não sabia nada disso naquela hora.

Só estava grato de ter dissolvido aquele grande peso psicológico.

Como posso servir a humanidade? Essa é maior e mais importante pergunta da vida.

Quando você trabalha para algo maior que você mesmo, encontra significado, encontra propósito.

Então a questão que espero que vocês carreguem daqui em diante é: como vocês vão servir a humanidade?

Mas a tecnologia por si só não é a solução. E às vezes é até parte do problema.

A tecnologia hoje é parte integral em quase todos os aspectos de nossas vidas e, na maior parte do tempo, é uma força do bem. Mas o potencial adverso está se espalhando cada vez mais rápido e cortando cada vez mais profundamente.

As ameaças à segurança e à privacidade, as fake news, as redes sociais que se tornam antissociais. Às vezes a tecnologia que deveria nos unir, nos divide.

A tecnologia é capaz de fazer grandes coisas. Mas não quer fazer grandes coisas. Não quer fazer nada. Esse aspecto precisa de todos nós. Precisa de nossos valores e nossos compromissos com nossas famílias, vizinhos e comunidades, nosso amor pela beleza e nossa crença de que todas as fés estão interconectadas, nossa decência, nossa gentileza.

Se você mantiver as pessoas no centro de tudo que fizer, pode ter um impacto enorme.

Isso significa um iPhone que permite que uma pessoa cega corra uma maratona. Significa um Apple Watch que capta uma condição cardíaca antes que vire um ataque. Significa um iPad que auxilia uma criança com autismo a se conectar com seu mundo.

Em resumo, significa que é a tecnologia unida aos seus valores que faz o progresso ser possível para todos.

O que quer que você faça em sua vida, e o que quer que façamos na Apple, precisamos infundir com a humanidade que todos temos de nascença.

A responsabilidade é imensa, assim como a oportunidade.

Há muito lá fora conspirando para nos deixar cínicos. A internet nos deu tantas possibilidades e empoderou muitas pessoas, mas também pode ser um lugar onde as regras básicas de decência estão suspensas e onde a mesquinhez e a negatividade prosperam.

Não permita que esse barulho te derrube.

Não se prenda aos aspectos triviais da vida.

Não escute os trolls e, pelo amor de Deus, não vire um.

Descobri que minha vida ficou maior quando parei de ligar para o que os outros pensavam de mim. Você vai ver que também será assim para você.

Mantenha-se focado no que realmente importa.

As pessoas vão tentar convencê-lo a deixar a empatia fora da sua carreira. Não aceite essa premissa falsa.

Numa reunião de acionistas há alguns anos, alguém questionou o investimento e o foco da Apple no meio-ambiente. Ele me pediu para prometer que a Apple só investiria em iniciativas verdes que pudessem ser justificadas com retornos sobre os investimentos.

Tentei ser diplomático. Apontei que a Apple faz muitas coisas, como recursos de acessibilidade, que não dependem de um retorno sobre investimento. Fazemos as coisas porque elas são as coisas certas – e proteger o meio ambiente é um exemplo fundamental.

Ele não largou o pedido e meu sangue subiu. Então eu disse: “Se você não consegue aceitar nossa posição, não deveria ter ações da Apple.”

Quando você está convencido que sua causa é certa, tenha a coragem de marcar sua posição.

Ao ver um problema ou injustiça, reconheça que só você pode consertá-lo.

Usem suas mentes e mãos e corações para construir algo maior que vocês. Lembrem-se sempre: não há uma ideia maior que essa.

Se se esforçarem para criar o melhor, oferecer o melhor, fazer o melhor para todos – não só para alguns –, então hoje a humanidade tem boas razões para se sentir esperançosa.

  • Este artigo foi originalmente publicado por Na Prática, portal da Fundação Estudar
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