Carreira

A trajetória Carlos Saldanha, de A era do Gelo

Como o esquilo de A Era do Gelo, o cineasta trabalhou obstinadamente até chegar a Hollywood

O diretor brasileiro Carlos Saldanha e os personagens do filme Rio: "Ter talento e ser muito bom em uma coisa não é suficiente. Você tem que correr atrás, tomar muito na cabeça e não desistir” (Melinda Lerner/EXAME.com)

O diretor brasileiro Carlos Saldanha e os personagens do filme Rio: "Ter talento e ser muito bom em uma coisa não é suficiente. Você tem que correr atrás, tomar muito na cabeça e não desistir” (Melinda Lerner/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 21 de março de 2013 às 16h01.

São Paulo - Em junho deste ano, estreará no Brasil o filme A Era do Gelo 4, nova sequência da série criada pelo cineasta carioca Carlos Saldanha, de 43 anos. O sucesso da franquia, que teve início em 2002, consagrou seu diretor como o brasileiro de maior sucesso em Hollywood em todos os tempos, ao menos em termos de bilheteria.

Os dois primeiros longas arrecadaram mais de 1 bilhão de dólares. Carlos ainda dirigiu outro blockbuster,  Rio (2011), que ele considera seu maior projeto até hoje. O cineasta não envolveu-se com  A Era do Gelo 4 — está desenvolvendo outro projeto, ainda sigiloso, que segundo o site especializado Imdb é a animação do clássico infantil O Touro Ferdinando.

Assim como Scrat, o esquilo dentuço de A Era do Gelo, que persegue obstinadamente uma noz, Carlos lutou muito para escrever seu nome no rol dos grandes diretores.  “Nunca fui o melhor em nada”, diz. “Não era o que desenhava melhor  nem o que entendia mais de computação, mas talvez eu fosse o que mais queria estar ali.” 

Apesar de não se considerar o melhor desenhista, ele tem talento para a coisa. Ainda no jardim de infância, desenhava televisões em perspectiva. Na adolescência, quando teve pela primeira vez contato com um computador, passou a ver a possibilidade de misturar as duas coisas e torná-las sua profissão.

“Sempre quis fazer algo relacionado à arte”, conta. No entanto, não era muito encorajado pelos pais, que na época não acreditavam ser possível viver de arte no Brasil. Como a computação vivia seu despertar no país, Carlos decidiu seguir pelo caminho da informática, que lhe parecia mais promissor. “Hoje sei que foi uma boa escolha”, diz o diretor.

Fez graduação em processamento de dados no Rio de Janeiro e, autodidata, na faculdade fazia trabalhos particulares para os amigos e conhecidos que já tinham computador. “Sempre gostei de me virar e aprender as coisas sozinho.” Carlos estagiou na Shell e, por falar inglês e francês fluentemente, foi trabalhar em uma multinacional americana instalada no Brasil, a Pecten.

Aos 20 anos, no início da década de 1990, a vontade de fazer arte voltou a coçar. A computação gráfica começava a surgir no Brasil nas vinhetas de programas de televisão. Carlos procurou cursos na área e só os encontrou nos Estados Unidos. Matriculou-se em um curso de animação em computação gráfica na renomada School of Visual Arts, de Nova York.

Foi o momento de mudança — havia acabado de ficar noivo de Isabela, hoje sua esposa, de 42 anos. Para apoiar o sonho do parceiro, ela, que cursava graduação em matemática na PUC do Rio de Janeiro, largou a faculdade. Estavam a seis meses de se mudar para os Estados Unidos. “Fiz alguns trabalhos freelancers e ela foi trabalhar em loja para juntarmos dinheiro”, lembra Carlos. Às vésperas da viagem, a grana que reuniram não pagava a aventura. Para resolver, decidiram se casar, ele com 21 e ela com 20 anos. No lugar de eletrodomésticos, pediam o valor dos presentes em espécie. “Os amigos nos ajudaram com o dinheiro da viagem.”

 Por ser um curso de extensão, a maioria dos alunos nem sequer aparecia nas aulas, mas Carlos ralava. “Fui com o objetivo de aprender porque estava pagando com dinheiro suado, então ficava lá dia e noite”, recorda. Para testar o aprendizado, mesmo sem fazer parte do currículo, o diretor fez várias produções de animação sozinho. 

“Meu professor Bruce Wands viu, gostou e disse que, se eu fizesse mestrado em Final Arts, teria futuro nessa carreira.” O casal resolveu ficar e arriscar. A companheira de sonho só colocou uma condição: depois que ele terminasse o curso, seria sua vez de voltar a estudar. Depois do mestrado dele, ela acabou cursando matemática estatística nos Estados Unidos. 


Depois de quatro meses, novamente sem dinheiro e pensando em voltar, resolveram encarar a barra e seguir no sonho americano. “Ter talento e ser muito bom em uma coisa não é suficiente. Você tem que correr atrás, tomar muito na cabeça e não desistir”, afirma Carlos.

Uma amiga da mãe de Isabela, Ana Maria, apareceu como fada madrinha. Deixou o jovem casal morar de graça em seu apartamento e emprestou dinheiro para bancar o mestrado. “Com o tempo, Ana Maria tornou-se nossa família no exterior. Hoje nossos filhos a chamam de vó.”

Os quatro meses iniciais tornaram-se 22 anos, e a família Saldanha nunca mais voltou a morar no Brasil. Nasceram em território internacional quatro filhos: Manoela, de 13 anos, Sofia, de 10, Julia, de 3, e Rafael, de 1 ano e meio. Eles estão na mesma faixa etária do público-alvo do pai, mas não dão muito palpite durante a produção — o diretor não gosta de levar trabalho para casa.

Carreira ascendente

Durante a especialização, Carlos fez os curtas-metragens As Aventuras de Korky, o Saca-Rolha e Time for Love (1994). Os dois ganharam vários prêmios em festivais, e ele se formou com honra. Chris Wedge, fundador do estúdio Blue Sky, com quem codirigiu A Era do Gelo 1, o conheceu no mestrado e o convidou para trabalhar com ele. “O estúdio era pequeno, éramos 20 pessoas, hoje somos 500”, lembra o diretor.

“Na época nem fazíamos cinema. Eu cresci lá dentro.” Em 1998, a empresa foi vendida e se tornou subsidiária da Fox. A grande oportunidade de carreira do brasileiro se deu quando ele fez o curta-metragem do esquilo Scrat, o Gone Nutty (2003), indicado ao Oscar em 2004. Prestigiado, Carlos recebeu a oportunidade de dirigir A Era do Gelo 2 (2006) sozinho e fez um sucesso enorme.

Fez a Era do Gelo 3 (2009) e Rio. A animação passada nas florestas e morros cariocas sempre foi o grande projeto dos sonhos dele. “Compraram a ideia facilmente. Mas, para realizá-lo, antes tive de fazer os dois outros filmes e torná-los um sucesso. Aí, sim, me deram a chance de desenvolver meu projeto, que foi um investimento de 100 milhões de dólares em uma ideia.”

O próximo desafio do diretor é tocar um projeto em live-action, ou seja, com atores reais. “Durante minha vida, eu fui me colocando objetivos e consegui conquistar um a um. Agora, quero realizar um próximo sonho, que é fazer um filme legal de live-action e aprender um pouco sobre isso”, afirma Carlos Saldanha.

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