Caito Maia, fundador e CEO da Chilli Beans: “Não se contente em fazer o que todo mundo faz. Tenha coragem. Tenha atitude. Faça diferente. É assim que você se destaca no mercado.” (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter
Publicado em 12 de maio de 2025 às 08h08.
Última atualização em 12 de maio de 2025 às 10h37.
“Meu sonho era ter uma banda, estourar, fazer show, mas a necessidade fez eu trocar a paixão da música pelo empreendedorismo”, diz Caito Maia, que ganhou fama sendo o dono e CEO da da Chilli Beans, uma das marcas mais irreverentes do varejo brasileiro.
“A música me deu identidade. E isso se traduziu na personalidade apimentada da Chilli Beans”, diz ele, durante o podcast “De Frente com CEO”.
Criado em uma família sem histórico de empreendedorismo, com pai músico e mãe que fazia tricô, Caito conta que vendeu seus primeiros óculos para pagar as contas da vida artística. Mas o "instinto de muambeiro", como ele define, virou negócio, e hoje a empresa soma 1.400 lojas, R$ 1,4 bilhão de faturamento anual e planos ousados de crescimento.
“Temos uma meta clara: chegar a 3.200 lojas nos próximos cinco anos”, afirma. O plano envolve a expansão da Chilli Beans Vermelha, da Ótica Chilli Beans (voltada ao mercado de grau), e do projeto Eco Chilli, com contêineres sustentáveis em cidades com menos de 50 mil habitantes.
A nova geração traz desafios e tendências para o mercado de trabalho, mas Caito se preocupa com os jovens que estão entrando no mercado.
“Vejo uma geração muito startup: quer ser milionária, quer escalar rápido. Mas falta paciência, falta identidade com a empresa.”
Ele defende que os jovens precisam ser mais como Cazuza, seu ídolo brasileiro - inclusive no mercado de trabalho.
“Cazuza era atitude pura. Hoje as pessoas têm medo de dizer o que pensam, com medo de cancelamento. Mas é isso que faz você sair da curva. É isso que falta: coragem,” diz.
A guerra comercial entre EUA e China, não deve trazer impactos para a Chilli Beans, mas uma mudança já aconteceu: com exclusividade à EXAME, Caito conta que pela primeira vez pagou um fornecedor em moeda chinesa.
“De forma alguma é uma estratégia pontual. Queremos continuar mantendo esta prática. A ideia é que o uso do dólar não volte nunca mais”, afirma. “Esse momento abriu portas. Temos um ganho considerável e queremos fazer todas as transações diretamente com a China: em termos de moeda, compra, comércio, tudo.”
A Chilli Beans já tem uma relação comercial de décadas com parceiros chineses. “Fomos levados para lá, apresentados às fábricas e temos os mesmos fornecedores há 25 anos. É uma parceria ética, saudável e ganha-ganha. A China nos ajudou e acreditou em nós.”
Segundo Caito, a mudança foi natural. “Essa guerra comercial nos forçou — de modo natural — a recalcular a rota. E já temos ganhos em câmbio.”
Além disso, a marca quer intensificar a presença no continente asiático. “Já estamos na Indonésia, com 10 pontos espalhados, e vamos colocar energia nessa expansão.”
Quando o assunto é liderança e cultura organizacional, Caito acredita que, liderar é acima de tudo saber lidar com pessoas.
“Não adianta ter uma mesa de ping-pong se o time está estressado. O que importa é respeitar as pessoas como elas são. Quer trazer o gato, o cachorro? Traz. Porquinho, se for o caso, também. O importante é ser verdadeiro”, diz o CEO.
A Chilli Beans, segundo ele, adota o modelo híbrido com flexibilidade de horário, mas valoriza a convivência. “A gente não abre mão de almoçar junto, rir junto. Isso fortalece a identidade da empresa.”
Após a pandemia, Caito criou uma Diretoria de Felicidade, com foco em escuta e bem-estar. “As pessoas precisam de cuidado muito mais do que a gente imagina. Abrimos canais para ouvir, sem grandes fórmulas. Só ouvir, olhar para o lado e perguntar: ‘Tá tudo bem com você?’. Isso faz a diferença,” afirma.
Conhecido também por sua atuação no Shark Tank Brasil, Caito revelou um novo projeto: o programa Efeito Shark, que acompanha empreendedores que passaram pelo reality — com ou sem investimento.
“Eu aprendo mais do que ensino. Ver uma hamburgueria bombando dentro de Paraisópolis, com aplicativo próprio, é inspirador. Não é só dinheiro que ajuda. É dividir experiência.”
Caito também falou sobre seu livro “Se parar, o sangue esfria”, que reúne histórias reais dos bastidores da Chilli Beans, com depoimentos do próprio time.
“Eu não sou empreendedor de palco. O livro mostra a vida real. E nem sempre a vida é bonita, mas é ela que ganha o jogo,” diz.
Hoje, o empresário busca equilíbrio entre vida pessoal e profissional. “Quero ser um empresário que respeita as pessoas, a natureza e que deixa um legado do bem.”
Para os jovens, o conselho é claro: “Tenha paciência. Demorei 10 anos para dar certo. Tomei muita porrada. Não desista em dois anos. E mais: existem setores arcaicos esperando por inovação. Dá para vender até ovo com história e atitude,” diz.
Com personalidade forte, autenticidade e foco em gente, Caito Maia reforça um conselho para quem busca se destacar no mercado com empreendedor ou líder de uma empresa:
“Não se contente em fazer o que todo mundo faz. Tenha coragem. Tenha atitude. Faça diferente. É assim que você se destaca no mercado.”