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A marolinha do desemprego, segundo as previsões do mercado

Alguns setores da economia perderam velocidade e estão demitindo. Quem sai encontra trabalho em áreas que continuam recrutando

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de março de 2013 às 19h44.

São Paulo - A economia brasileira conseguiu contornar a crise de 2008, viveu um 2009 de retração e ressurgiu com quase 2,14 milhões de novos empregos em 2010. Nesse mesmo ano, o Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas produzidas pelo país, cresceu 7,5% e foi destaque no cenário internacional.

O desempenho econômico foi impulsionado pela ascensão de 40 milhões de pessoas à classe C. Ao todo, 103 milhões de brasileiros pertencem a esse estrato da população, que é responsável por quase 40% do consumo nacional. Passados dois anos, a economia desacelerou novamente. As previsões do mercado e do Banco Central para 2012 são de que o país deve crescer perto de 1,8% e gerar 40% menos empregos em relação a 2010. 

Há quem diga que o modelo de crescimento baseado no estímulo ao consumo interno não suportou as influências da crise na Europa. Aliado a isso, o endividamento da população subiu 17,8% entre janeiro e julho deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Para saber qual a perspectiva até o primeiro trimestre de 2013, a VOCÊ S/A ouviu especialistas em diferentes setores. A conclusão do levantamento é que, apesar de alguns solavancos, diversos segmentos seguirão recrutando profissionais — de todos os níveis. 

Segundo os dez especialistas ouvidos pela reportagem, o desemprego vai continuar caindo. Os setores mais robustos são os ligados às indústrias de extração mineral, petróleo, alimentos e bebidas. E os profissionais de engenharia, administração, logística, TI, marketing e vendas deverão ser os mais procurados nesse período.Esse é o panorama previsto por várias instituições que estão de olho na economia. O Banco Bradesco é uma delas e prevê uma continuidade na queda da taxa média de desemprego para este ano, chegando a 5,7% e indo para 5,2% em 2013. 

A geração de empregos depende de vários fatores. Um deles é o investimento por meio de crédito. Depois da queda de 18,9% nas linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para as empresas, no primeiro semestre de 2012 em relação ao mesmo período de 2011, provocada pela desconfiança dos empresários com os efeitos da crise internacional, o governo deve liberar, até dezembro, 15,9% a mais de recursos financeiros para fechar o ano com 150 bilhões de reais investidos.


"O crédito à pessoa jurídica no Brasil está subindo na margem, e mesmo a demanda do Finame [linha para aquisição de máquinas e equipamentos novos mostra alguma recuperação", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. A inadimplência das empresas também está em queda depois de subir 16,5% no primeiro semestre, segundo a Serasa Experian. 

Outros ingredientes indispensáveis são o consumo interno e a exportação. Afinal, as companhias só abrem vagas se precisarem produzir e vender mais. Nesse sentido, dois indicadores foram suficientes para animar os economistas da LCA Consultores, que elevou a projeção de geração líquida de emprego em agosto para 209 600 novas vagas.

Um foi a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que registrou crescimento de 1,5% no volume de vendas do comércio em junho em relação a maio, revertendo a queda dos primeiros meses do ano. O outro foi o registro de 142 496 novos empregos em julho, um aumento de 0,37% em relação a junho. 

Mas, como toda receita para dar resultado tem de ser seguida à risca e no tempo certo, assim é com a economia. "Devemos levar em conta que os sucessivos cortes na taxa básica de juros, desde agosto de 2011, levam de seis a nove meses para dar resultados na economia e na geração de empregos. Portanto, esses efeitos  deverão ser sentidos com mais intensidade na virada do terceiro para o quarto trimestre de 2012", diz o economista Fábio Romão, da LCA.

E sempre que novas ondas de retração surgem por influências internas ou externas, os desligamentos também obedecem a uma lógica temporal. "Acreditamos que até o fim do ano os setores que tiverem fraco desempenho devam reagir e isso se materializará na geração de vagas no início do ano", diz Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria.

Segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal Emprego Salário (Pimes), do IBGE, os setores que se encaixam nesse perfil são os da indústria têxtil, de vestuário, de calçados, madeira, papel e celulose, que mais demitiram do que contrataram no primeiro semestre.

Migração do trabalho

Mesmo com os indícios apontando uma melhora à vista, há quem defenda que essa retomada em médio prazo depende também do mercado internacional. "Se o cenário externo melhorar, vamos ter melhoras por aqui também", diz José Matias-Pereira, professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB).


Ele considera que as sucessivas medidas do governo de incentivo fiscal para baratear a produção e estimular o consumo estão chegando ao limite e já não produzem os mesmos efeitos de antes. Por isso, a modernização de rodovias, portos e aeroportos anunciada pelo governo será crucial para a retomada da economia de forma mais sustentável. 

Outra questão que deve ser combatida é a migração da mão de obra da indústria para o setor de serviços. É isso o que defende José Luís Oreiro, economista e também professor da UnB. "Esse movimento de desindustrialização, que está vindo desde 2005, compromete a competitividade do país pela perda da produtividade."

E, se para fazer crescer o PIB é preciso ter ganhos expressivos de produtividade, o potencial de desenvolvimento do país fica comprometido. "O Brasil chegou ao limite de crescimento de 3,5%. Talvez chegue a 4% em 2013, mas não repetiremos mais o que aconteceu em 2010", diz José Luís, em alusão ao PIB de 7,5%. 

Por esse motivo, as contratações futuras virão dos investimentos na indústria e em infraestrutura, e não mais pelo consumo, como ressalta Flávio Castelo Branco, gerente de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "A grande massa de entrantes de consumidores já veio, e o que vier agora não vai ser tão significativo."

Não é no que acredita Celina Ramalho, professora da Fundação Getulio Vargas. "Ainda temos um contingente de 20% da população que deverá ultrapassar a linha da pobreza neste ano, cuja demanda reprimida por produtos de primeira necessidade deverá ajudar a indústria e estimular empregos."

No Nordeste, os setores que deverão puxar a geração de emprego até março continuarão sendo os de construção civil e pesada, seguidos pelo de comércio e varejo, principalmente no Ceará e em Pernambuco. Centenas de engenheiros e operários de obras estão indo trabalhar no Nordeste.

Um reflexo dessa migração para lá pode ser percebido nas filas de espera dos restaurantes mais tradicionais de cidades como Recife — algo antes pouco comum. "O que me incomoda é que estamos crescendo rápido em cima de consumo e crédito, e vai chegar a hora em que isso vai acabar", diz André Magalhães, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

A solução para a desindustrialização e o crescimento movido apenas pelo consumo depende do governo e da iniciativa privada. Mas uma coisa é certa: a falta de mão de obra tem feito empresas manterem os profissionais mais qualificados mesmo em período de desaceleração. Elas sabem que sai mais barato reter o funcionário do que recrutar pessoas num mercado em que faltam talentos. 

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