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Qual é o perfil da nova elite dos executivos?

O empreendedor Salim Ismail fala sobre a Singularity University, instituição que pretende formar uma nova geração de líderes, capazes de encontrar soluções para os grandes desafios da atualidade

Salim Ismail, diretor executivo da Singularity University, dos Estados Unidos: projetos para impactar a vida de 1 bilhão de pessoas (Fabiano Accorsi)

Salim Ismail, diretor executivo da Singularity University, dos Estados Unidos: projetos para impactar a vida de 1 bilhão de pessoas (Fabiano Accorsi)

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Da Redação

Publicado em 28 de novembro de 2013 às 13h46.

São Paulo - Salim Ismail é considerado um dos maiores empreendedores e investidores do Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos. Operou sete empresas na região, foi vice-presidente de inovação do Yahoo! e, em agosto do ano passado, vendeu para o Google a última companhia que fundou, a Angstro — empresa que desenvolveu aplicativos para classificar notícias e informações em redes sociais.

Desde 2008, Ismail atua como diretor executivo da Singularity University (SU), instituição localizada na sede da Nasa Ames, na Califórnia, e que reúne alguns dos mais renomados cientistas e pensadores da atualidade. O objetivo dessa universidade é criar uma nova geração de líderes — a elite dos executivos —, capaz de buscar soluções para alguns dos maiores problemas do mundo. 

No final de 2010, a SU realizou o primeiro programa fora de seu campus. O lugar escolhido foi o Brasil, em parceria com a Fiap, faculdade paulistana especializada em gestão e tecnologia da informação.

No programa, denominado Executive Program, foram apresentadas as novidades tecnológicas em diferentes campos, como medicina, biotecnologia, inteligência artificial, robótica, redes e sistemas computacionais, nanotecnologia, energia e meio ambiente, com a proposta de ajudar os profissionais brasileiros a identificar novas oportunidades para os negócios, a sociedade e a carreira.

A reportagem da Você RH esteve presente no programa e conversou com Salim Ismail sobre os principais conceitos da Singularity University, como pretende formar a elite dos executivos e solucionar problemas globais, qual o perfil desses novos líderes e, entre outras coisas, quais habilidades deve ter um líder para integrar esse seleto grupo.

O que é a Singularity University e a elite dos executivos? 

Salim Ismail - Singularity University é uma nova instituição educacional estabelecida e alojada na Nasa Ames (centro de pesquisas da agência espacial americana), na Califórnia. Existem dez centrais da Nasa em todo o país. Na Nasa Ames acontece tudo relacionado à pesquisa e ao desenvolvimento de supercomputadores. Na SU, trazemos os maiores pensadores do mundo com o propósito de acelerar tecnologias, como nanotecnologia, biotecnologia, inteligência artificial, robótica, medicina, energia, e assim por diante.

Para isso, juntamos os maiores pensadores dessas áreas com os alunos mais talentosos de lugares do mundo todo e passamos um verão apresentando a eles uma visão sobre os rumos dessas tecnologias. Formamos equipes que trabalham cada uma em projetos específicos. Esses projetos são direcionados à criação de um serviço que deve impactar a vida de 1 bilhão de pessoas em dez anos. Portanto, a SU pretende criar uma nova geração de líderes, a elite dos executivos, capaz de compreender como impulsionar muitas dessas tecnologias para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo. 


Como a SU pretende formar essa elite dos executivos?

Salim Ismail - Primeiro, procuramos pessoas que já demonstram potencial na liderança em gestão empresarial. Depois, damos a elas uma visão do rumo dessas tecnologias, como, por exemplo, o que está nos laboratórios hoje, o que deve ser comercializado amanhã, nas mais variadas áreas. Quando fazemos isso com pessoas inteligentes e ambiciosas, a mente delas segue o mesmo caminho. Consequentemente, elas desenvolvem a capacidade de enxergar muito à frente do seu tempo e antecipar como conduzir essas tecnologias. Acreditamos que, ao acelerar esses avanços, podemos solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, evitando, assim, que resultem em guerra.  

Como um profissional de RH pode reconhecer esses líderes?  

Salim Ismail - É importante procurar uma pessoa com caráter sólido, que tenha visão e a capacidade de persistir em suas ideias. Além disso, precisa ser alguém que tenha motivação. Chamamos isso de arranque automático, uma espécie de pré-requisito. 

Como é possível uma empresa atrair e reter esses talentos?  

Salim Ismail - Acredito que as companhias deveriam recompensar os fracassos, porque, mesmo quando você está realmente se esforçando, você pode às vezes fracassar. Ratan Tata, presidente da Tata Industries [gigante empresarial indiano], encontra, todo ano, os responsáveis pelos três maiores fracassos de sua companhia e os recompensa. Porque, ao menos, essas pessoas estão tentando. E, além disso, quando você fracassa, aprende com isso. Quando não há esforço, não existe aprendizado. E se a organização não aprende, ela não pode crescer. 

Quais habilidades um líder do futuro deve desenvolver para integrar a elite dos executivos?
 

Salim Ismail - Acredito em uma disciplina chamada “estudos futuros” —, e eu digo futuros no plural. Que é como você se antecipa aos diferentes cenários que podem surgir. Então, liderança e estar entre os melhores executivos têm tudo a ver com antecipar-se ao que está por vir. Steve Jobs se antecipou corretamente quando apostou nos computadores com a tela sensível ao toque.

Outra coisa que o líder deve ter em sua característica é o comprometimento com os rumos da companhia. E, em terceiro lugar, deve compreender as tecnologias e entender como isso pode ajudar. Antigamente, costumava se levar uns 20 anos para criar uma organização de 1 bilhão de dólares. Google levou seis anos. Facebook, três. O último, GroupOn, levou oito meses para atingir a receita bilionária. O metabolismo da economia está em franca evolução. Nesse ambiente, os líderes do futuro devem estar esclarecidos sobre suas oportunidades e ameaças. Portanto, compreender o rumo dessas tecnologias é absolutamente crítico para o futuro. 




Como as instituições de ensino brasileiras podem atuar para formar esses profissionais?

Salim Ismail - Acredito que é necessário incorporar como acelerar tecnologias e negócios. Esse é um elemento-chave. É preciso se aproximar das tecnologias e adquirir expertise nisso. Outra coisa é que as escolas ensinam o passado. Como tal modelo evoluiu, como determinada equação foi desenvolvida. Acho que as escolas do futuro precisam ensinar como olhar para o futuro. Ou seja, além das aulas de história, deveríamos ter aulas de futuro. 

Quais foram as principais ideias de alunos da SU em busca de soluções para problemas, como a fome ou desastres naturais? 

Salim Ismail - Vou citar dois exemplos. O primeiro é de um grupo que trabalha com robótica que se atentou ao fato de que 1,6 bilhão de pessoas vivem em favelas. Então eles desenvolveram uma grande máquina que corre em trilhos capaz de construir uma casa de dois quartos em um dia e meio.

É uma impressora de casa que pode, literalmente, imprimir uma casa usando concreto, barro ou areia. Isso pode ser também muito útil em tragédias como no Haiti ou no Chile, depois dos terremotos. Portanto, a habilidade de construir casas rapidamente e com baixo custo pode impactar a vida de muitas pessoas. Outro exemplo é a água potável, um dos maiores problemas do mundo.

Um dos nossos grupos trabalhou com a dessalinização de água. Ele descobriu uma molécula muito eficiente na separação do sal da água com baixa energia. Um dos grandes problemas da dessalinização hoje é a grande intensidade de energia necessária para realizar o processo, o que o torna muito caro. Então, o pessoal criou um poço próximo ao oceano capaz de filtrar a água usando energia solar. 

Por que a SU escolheu o Brasil para realizar seu primeiro programa fora dos Estados Unidos? Como os alunos podem colocar isso em prática, considerando a realidade brasileira?

Salim Ismail - Uma das razões pelas quais o Brasil é interessante para nós são os problemas que o país enfrenta, como desmatamento, oferta de água potável, pobreza e saúde pública, ou seja, exatamente os problemas globais. Se for possível resolver esses problemas aqui, você pode resolver em qualquer lugar.

Todas as ideias que mencionamos anteriormente podem ser aplicadas aqui. Por isso, acredito que esse programa dá a oportunidade de essas ideias serem implementadas aqui num nível local. Mas, mais importante do que isso, é ter certo número de pessoas que passaram pelo nosso programa com a energia e a visão de desenvolver ideias específicas para o ambiente local. 

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