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A crise do coronavírus acelerou estas tendências do futuro do trabalho

O home office é só o começo: as empresas vão encontrar novos desafios e devem se inspirar em tendências do futuro do trabalho

Escritório vazio da Amaro, em São Paulo (Amaro/Divulgação)

Escritório vazio da Amaro, em São Paulo (Amaro/Divulgação)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 16 de abril de 2020 às 07h00.

Última atualização em 11 de maio de 2020 às 16h33.

Não é só a implantação de home office que foi acelerada dentro das empresas por causa da pandemia do coronavírus. A corrida pela modernização diante da crise vai trazer novos desafios para as organizações.

Segundo o Estudo Global de Tendências de Talentos 2020 da Mercer, as companhias vão precisar de empatia para vencer a crise e qualquer outro cenário desafiador. A pesquisa realizada no final de 2019 com 7.300 executivos sênior de negócios, líderes de RH e funcionários de nove setores-chave, em 34 países, identificou quatro fortes tendências para 2020.

A consultoria global não poderia ter previsto a mudança no mundo corporativo com o covid-19, mas a pesquisa aponta para necessidades de mudanças nas instituições diante de um mercado que cada vez mais exige agilidade para se adequar a novas tecnologias e contextos. É um quadro que se agrava com a pandemia.

Para 34% dos funcionários pesquisados, seus empregos já estavam sob ameaça e eles acreditavam que poderiam ser substituídos em três anos. E 63% dos líderes de RH já previam um crescimento salarial estagnado para 2020.

“A mudança repentina acelerou as tendências vistas na pesquisa. O que empresas não fizeram em cinco anos, fizeram nas últimas cinco semanas. O cenário trouxe urgência para planos que estavam sendo estudados no RH”, comenta Ana Laura Andrade, líder da área de estratégia de talentos da Mercer no Brasil.

Foco no futuro

Na pesquisa, um em cada três funcionários diz que prefere trabalhar com empregador que mostre responsabilidade com todos, não apenas acionistas e investidores. E 68% dos executivos querem se concentrar mais nas metas ambientais, sociais e de governança (ESG).

Cada vez mais, as pessoas estão atentas para o preparo e responsabilidade das empresas com o futuro. As duas questões foram decisiva para destacar positivamente empresas que puderam ter respostas rápidas diante da ameça da covid-19.

Corrida para requalificação

Mesmo que 99% das empresas tenham reconhecido que é preciso investir na requalificação, muitas relatam lacunas no conhecimento em suas equipes -- e sem planos para educar os funcionários. No começo da quarentena, cursos e treinamentos para aprender sobre recursos tecnológicos e comportamentos digitais, como gestão de equipes remotas e comunicação virtual, vivaram prioridade.

A vida mais virtual, com educação à distância, vai acelerar a disponibilidade de iniciativas para requalificação. No estudo, 55% disseram confiar que sua organização possa requalificá-los se seu trabalho mudar como resultado da automação.

Mais ciência

O distanciamento do escritório criou a demanda por dados para identificar problemas e solucioná-los rapidamente. O estudo mostrou que apenas 43% das organizações usam métricas para identificar funcionários com probabilidade de deixar a companhia e apenas 18% conhecem o impacto das estratégias de remuneração no desempenho.

Com o aumento do uso de inteligência artificial na área de pessoas, as decisões podem se basear menos na intuição e mais em dados concretos.

Experiência e engajamento

A pesquisa mostra que a experiência do funcionário é a principal prioridade do RH: 58% das organizações estão passando por mudanças para se tornarem mais centradas nas pessoas. Porém, apenas 27% dos altos executivos acreditam que a experiência dos funcionários trará algum retorno ao negócio.

A especialista da Mercer comenta que funcionários de empresas que focam em saúde e bem-estar têm quatro vezes mais chance de serem motivadas com o trabalho. Com o trabalho remoto, a atenção de volta às formas como as organizações podem garantir a produtividade dos colaboradores e a tendência se torna mais crucial.

Vencendo na empatia

No início de março, a Amaro, empresa de moda e tecnologia, liberou toda a sua equipe para o trabalho em casa. Eles já faziam um dia de home office por semana, mas sabiam que o desafio agora seria outro.

“A primeira semana foi de adaptação para lidar com a nova realidade. Nossas condições eram mais favoráveis, mas nenhum dos times estava 100% pronto”, conta Isadora Gabriel, diretora de RH da AMARO.

Para entender como estavam os funcionários, eles começaram a rodar pesquisas para entender o clima e como o RH poderia ajudá-los. “Já usamos muito dados e sabemos que podemos usá-los no RH para entender as necessidades”, conta ela.

A primeira descoberta foi que 76% dos funcionários sentiam que estavam mais produtivos. Eles estavam dando conta da rotina e estavam mais focados.

No entanto, a infraestrutura deixava a desejar. Muitos sentiam falta de itens essenciais, como uma segunda tela para o computador ou o headset. Assim, os dados coletados viraram uma ação ágil: mais de 255 itens de escritório foram enviados para a casa dos colaboradores.

Na sequência, eles pretendem fazer novas pesquisas para avaliar outros aspectos do trabalho em casa na pandemia, com as condições de estrutura familiar e atualizações sobre o bem-estar emocional.

A rotina foi totalmente adaptada para o virtual, incluindo treinamento e a integração de novos contratados. A diretora comenta que as iniciativas devem se adaptar para os diferentes públicos da empresa, como a disponibilização de uma plataforma de saúde emocional, a Zen Club, para todos ou o happy hour virtual com aulas de drinks para fazer em casa.

“As pessoas vão aderir ao que veem mais valor, por isso diversificamos os temas das ações. Quem está sozinho ou quem está com a família tem preocupações diferentes. Hoje, eu diria que temos um engajamento alto, de 60%”, fala ela.

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