Renata Vichi, CEO do Grupo CRM: “Sempre fui muito disciplinada e produtiva, mas aprendi a viver com mais flexibilidade. Um executivo precisa estar preparado para a maratona, não só para o sprint” (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 15 de julho de 2025 às 08h05.
Última atualização em 15 de julho de 2025 às 09h12.
Renata Vichi tem uma rotina que não começa com e-mails nem reuniões — começa com disciplina. Todos os dias, às 4h40 da manhã, ela já está de pé, pronta para se dedicar à atividade física. “Eu pratico exercícios de domingo a domingo, me alimento bem e sou apaixonada pela pauta da longevidade. Quero viver 100 anos com saúde, como a minha avó, que chegou aos 103”, diz a empresária em entrevista ao podcast “De frente com CEO”.
À frente do Grupo CRM, dono das marcas Kopenhagen, Brasil Cacau e Kop Koffee, a executiva comanda uma operação que vende mais de 2,5 milhões de ovos na Páscoa e tem mais de 850 lojas da Kopenhagen espalhadas pelo país. Em 2024, o grupo deu um de seus passos mais estratégicos: a venda para a Nestlé - mantendo a gestão e os valores sob o comando de Renata.
“Fizemos a escolha certa no momento certo, com o parceiro certo. A Nestlé respeita nosso legado e impulsiona nossa expansão.”
Mesmo com uma rotina sempre exigente, Renata passou por momentos pessoais desafiadores. Entre eles, o diagnóstico de câncer. “Sempre fui muito disciplinada e produtiva, mas aprendi a viver com mais flexibilidade. Um executivo precisa estar preparado para a maratona, não só para o sprint”, diz.
Ela cita outros momentos emblemáticos em sua trajetória: a perda da mãe, uma gravidez de risco e a pandemia. “Aprendi a conviver com incertezas, a ‘namorar o cinza’ para tomar decisões melhores. Isso também é liderança.”
Renata assumiu o cargo de CEO em 2020, justamente quando o Brasil começava a enfrentar a pandemia da Covid-19. “Foi um choque. Estávamos a 18 dias da Páscoa, com as lojas estocadas. Era 30% do faturamento anual em jogo.”
A decisão ousada veio rápido: transformar o digital não em um novo canal, mas em um catalisador do crescimento dos franqueados. “A crise passa, mas as relações ficam”, afirma. Hoje, 98% das vendas digitais geram receita direta para o franqueado — com a mesma margem da loja física.
Com o reforço da estratégia digital, a empresa também cresceu fisicamente: só em 2024 foram 250 novas lojas. Em 2024, o plano é abrir outras 220, sendo até 200 da Kopenhagen. A expectativa de crescimento para este ano é de 20% a 25%, mesmo em meio à crise do cacau.
“A pandemia me mostrou o valor de pensar no longo prazo. Só marcas com propósito, consistência e conexão emocional com o consumidor resistem em momentos de adversidade”, afirma.
O cenário, mesmo não sendo tão positivo, não abala as expectativas da presidente do Grupo CRM, que tem receita anual acima dos R$ 2 bilhões.
Renata lista três pilares:
Perguntada sobre o que mais a motiva, ela responde sem hesitar: “Quero deixar um legado de consistência. Liderar uma marca centenária que é referência de presente em forma de chocolate, com relevância emocional, inovação e impacto real.”
Como mãe, ela também se orgulha do que construiu. “Sou casada há 20 anos, tenho um filho que já está entrando no mercado de trabalho. Nada disso seria possível sem uma base familiar sólida e um parceiro que sempre me apoiou.”