Excelentíssimo senhor palestrante: o juiz William Douglas, autor dos maiores best-sellers sobre concursos, já levou mais de 1,6 milhão de pessoas para suas palestras (Eduardo Zappia)
Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2015 às 12h52.
Com 1 milhão de livros vendidos e mais de 1,6 milhão de espectadores em suas palestras, o juiz William Douglas desenvolveu a fórmula para falar de qualquer tipo de superação: de passar em concurso público a correr a Maratona de Nova York.
O juiz titular da 4a Vara Federal de Niterói, William Douglas, de 47 anos, espera alcançar a marca de 1,7 milhão de espectadores presentes em suas palestras nos próximos meses. O cardápio de conteúdo é variado e mescla experiências pessoais, temas bíblicos e estratégias de superação de obstáculos. Funciona? “Ele costuma ser aplaudido de pé”, diz Edilson Lopes, dono de uma das maiores promotoras de eventos corporativos do país, que já o convidou para falar em empresas como Petrobras, GlaxoSmithKline e Saraiva.
De magistrado, William se tornou um fenômeno no universo dos livros de autoajuda e das palestras motivacionais. Também virou um negócio. Está prestes a lançar um curso online e já trabalha em um novo livro. Como ele chegou lá?
Foi o livro Como Passar em Provas e Concursos, de 1998, que projetou William à fama entre autores de autoajuda. A ideia de escrever orientações para candidatos a funcionário público é um mix de espírito cristão com faro capitalista. “Quando passei no concurso, muita gente veio me pedir dicas. Escrevi o livro porque queria ajudar essas pessoas”, diz William.
Na época em que o livro era apenas um projeto, nenhuma editora se interessou. William criou a própria, a Impetus, que até hoje publica seus livros e de outros autores nas áreas de direito e concursos. Na 29a edição e com mais de 200 000 exemplares vendidos, Como Passar... é o livro sobre concursos mais vendido na história do Brasil.
Mais que fama, Como Passar... rendeu a William uma metodologia para produzir livros de sucesso. Ele percebeu isso quando a obra começou a vender bem e apareceram os primeiros convites para falar em público. Como se achava péssimo orador, o juiz começou a praticar loucamente. “Passei a pedir a palavra até em festa de aniversário de criança”, diz William.
A tática funcionou tão bem que rendeu o segundo livro: Como Falar Bem em Público. Estava descoberta a fórmula. “Os vetores do sucesso são os mesmos em dietas, maratonas, casamentos, concursos. É uma questão de superação de limites”, afirma.
Hoje, são tantos livros publicados e de assuntos tão diversos que ele perde a conta. “Mais ou menos 45”, diz. O total de exemplares vendidos supera 1 milhão. As obras já foram traduzidas para inglês e espanhol. O último se chama As 25 Leis Bíblicas do Sucesso, mas William já discorreu até sobre sua preparação para correr a Maratona de Nova York.
As palestras também são um bom negócio. William já subiu em palcos de todo o Brasil e dos Estados Unidos e de Dubai. O juiz não as considera motivacionais. “São realizacionais”, diz. “Ensino as ferramentas às pessoas para que elas façam acontecer.”
Para concurseiros — William passou em sete concursos e foi reprovado em mais de uma dezena —, ele dá dicas de estudo, fixação de conteúdo e técnicas de como não ter branco. Aos servidores públicos, ele fala sobre como ser eficiente. Nessas ocasiões, ele costuma contar como mudou a gestão da 4a Vara Federal de Niterói.
“Aqui é muito diferente de outras repartições. Temos metas de produtividade e resultados”, diz Jacqueline Alves de Farias Melgaço, chefe de gabinete da 4a Vara. “Ele trabalha muito com a motivação das pessoas para trabalhar por uma causa maior.”
Em 2014, William e sua equipe foram responsáveis por expedir 1 016 sentenças, número 30% superior à média de outras varas de Niterói. “Se eu não produzisse tanto no trabalho, não teria como falar desse assunto, seria meu calcanhar de aquiles para os invejosos”, afirma William.
William tem uma regra em suas palestras: só falar daquilo que já viveu. Ele fala da Bíblia, que já leu, e da Maratona de Nova York, que já correu. “Nesse mercado de autoajuda, o segredo para vender bem é ter conteúdo. O William é muito estudioso, um magistrado. Se ele não tivesse o que falar, não estaria vendendo há tanto tempo”, diz Roberto Shinyashiki, outro palestrante requisitado e dono da Editora Gente, que também publica autoajuda.
Há quem o critique, como um advogado carioca que preferiu não se identificar. “Ser oportunista, como ele, não é necessariamente ruim. Ele vê a oportunidade de capitalizar em cima de alguns assuntos, vai lá e faz. Mas isso não quer dizer que seja bem-feito”, afirma.
Aos detratores, William tem uma resposta pronta, que ele empresta de Tom Jobim: “Sucesso no Brasil é ofensa pessoal”. “Inclusive, dou uma palestra sobre como lidar com a inveja”, diz. As soluções sugeridas por ele são manter a produtividade, não revidar, não gastar tempo com energia ruim, não falar mal de ninguém nunca — afinal, tudo o que você disser poderá e será usado contra você no futuro. E orar.
O décimo mandamento, não cobiçar, na releitura de William ganha um ar contemporâneo. “É como se Deus dissesse: ‘Filho, vá cuidar de sua vida’”, afirma. Que assim seja.