Carreira

A busca da juventude por qualidade de vida diz muito sobre as lideranças das empresas

A liderança já não é o sonho de todo o mundo. E parte disso pode ter a ver com o estilo de vida que ela leva — ou aparenta levar

Liderança no divã: um cargo que antes era o sonho de muita gente, que dava orgulho, que encantava, hoje perdeu o brilho para uma grande parcela (pinstock/Getty Images)

Liderança no divã: um cargo que antes era o sonho de muita gente, que dava orgulho, que encantava, hoje perdeu o brilho para uma grande parcela (pinstock/Getty Images)

Sofia Esteves
Sofia Esteves

Fundadora e Presidente do Conselho Cia de Talentos/Bettha.com

Publicado em 28 de setembro de 2023 às 13h12.

Sim, vamos conversar sobre esse assunto de novo: qualidade de vida, bem-estar, saúde, cuidado. Palavras e termos que você, líder em uma organização, já conhece — e, bem da verdade, talvez já esteja “por aqui” de ouvir falar.

No entanto, ao que tudo indica, o outro lado também não aguenta mais insistir nessa demanda. Isso porque já tem algum tempo que as pessoas pedem por maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal, principalmente quando olhamos para o público jovem que respondeu à pesquisa Carreira dos Sonhos 2023, da Cia de Talentos.

Enquanto, em 2018, 67% consideravam o sucesso profissional como a prioridade máxima em suas vidas e associava a realização na carreira com sucesso pessoal; em 2023, 56% desse grupo jovem apontam a qualidade de vida como a questão mais importante.

Diante desse cenário, cabem algumas reflexões:

  • Será que a busca insistente pelo bem-estar revela uma preocupação das pessoas com o futuro delas na empresa?
  • Será que elas pedem por qualidade de vida hoje para não ficar como a liderança amanhã?

Por que a liderança está com a imagem desgastada

Tais questões passaram pela minha mente quando me deparei com outros dados da edição deste ano da Carreira dos Sonhos. Um deles sobre o exemplo — ou, talvez, mau exemplo — que a gestão dá.

É que, segundo o levantamento, 53% (do total de 71.000 jovens) disseram que a liderança da empresa não inspira a ser líder no futuro.

Ou seja, um cargo que antes era o sonho de muita gente, que dava orgulho, que encantava, hoje perdeu o brilho para uma grande parcela.

Analisando os dados, percebemos que, para as novas gerações, o preço de assumir uma posição como essa é alto demais. Exige muita dedicação, muita energia, muita responsabilidade e muito tempo em troca.

Tudo isso somado pode custar, no fim das contas, a liberdade, a saúde e, em último grau, a vida pessoal.

Não estou querendo generalizar e dizer que, de fato, é isso que ocorre.

Mas é importante nos atentarmos para a visão dos novos talentos sobre o estilo de vida que líderes atuais levam, afinal, precisamos engajar a nova geração para que, desde já, ela seja preparada para ocupar tais posições no futuro.

E acredito que uma das formas de se fazer isso é humanizando a visão sobre a liderança, mostrando que, por exemplo, ela não é um “robô sem coração”.

Quem ocupa tal posição também anseia por qualidade de vida — talvez só não compartilhe esse desejo tão abertamente.

Qual é a demanda de todo mundo

Ter saúde física, mental e emocional não é um desejo apenas da nova geração.

Na verdade, o que a pesquisa da Cia de Talentos mostrou é que esse é disparado o item mais valorizado por jovens, média gestão e alta liderança — os três grupos demográficos considerados no estudo.

Sintomas de ansiedade e cansaço têm aparecido com cada vez mais intensidade no ambiente de trabalho, sendo demonstrados inclusive pela gestão. E não poderia deixar de ser!

Estamos vivendo o reflexo de uma série de crises (econômicas, ambientais, sociais, políticas etc), uma era de grandes inovações tecnológicas, uma alta velocidade de transformações e, além de tudo isso, a liderança ainda precisa lidar com a demanda do bem-estar.

Ou seja, fazer uma gestão que proporcione qualidade de vida para as pessoas da sua equipe, mas também para si.

Assumir essa sensação de esgotamento e o desejo por uma vida melhor pode ser o começo para aproximar jovens e média gestão da alta liderança.

Quando uma liderança revela que, assim como as demais pessoas na empresa, também quer para si mais qualidade de vida, ela começa a mudar a sua imagem.

Começa a demonstrar que existem interesses compartilhados e que, portanto, existe uma vontade de transformar a realidade. E esse pode ser o começo de uma jornada rumo ao bem-estar e ao resgate de líderes inspiracionais.

Acompanhe tudo sobre:Sofia EstevesCarreira jovemLiderança

Mais de Carreira

Carreiras quentes: veja as profissões que devem liderar as contratações em 2025

De geopolítica a autoajuda: os livros preferidos dos CEOs em 2024

Desenvolvimento de jovens talentos: 5 estratégias para preparar a geração do momento

Estas são as principais barreiras geracionais enfrentadas pelos jovens no trabalho