Investidor deve ter a paciência de um monge budista (Chris Scott/ sxc)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2013 às 12h00.
São Paulo - Em doses homeopáticas. É assim que os especialistas em ações aconselham os investidores a aplicar a grana na BM&FBovespa. Eles são unânimes em dizer que o cenário de crise internacional não é motivo para fugir do investimento, mas o conselho é aplicar aos poucos, tendo em vista ganhos no longo prazo.
O Índice Bovespa recuou da média de 60.000 pontos, em janeiro, para a média de 57.000 pontos, em maio. A história, no entanto, mostra que, se o investidor mantiver a aplicação no mercado de ações em um período superior a cinco anos, ele verá seu dinheiro crescer.
Quem comprou papéis do Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas na bolsa, em 2002 e não se desesperou com momentos de turbulência chegou em 2012 com rendimentos médios de 17,1% ao ano nesse período. Se olharmos um pouco mais atrás, de 1992 para cá, o ganho foi ainda mais expressivo: de 56,8%.
As melhores oportunidades de investimento surgem após grandes quedas, quando as ações ficam muito baratas. “Entretanto, com exceção de alguns setores específicos, como construção e siderurgia, até agora tivemos apenas quedas limitadas”, diz o economista Ricardo Amorim, presidente da Ricam Consultoria, de São Paulo.
Ele avalia que a crise europeia, uma das principais responsáveis pelo fraco desempenho da bolsa brasileira neste ano, ainda não chegou a seu auge. "A maioria das ações está relativamente barata, mas ainda não está uma barganha, o que provavelmente acontecerá em breve, na medida em que a crise se agravar na Espanha e na Itália", analisa o economista.
Até que isso aconteça, o desempenho das bolsas no mundo deve continuar ruim. "Esse quadro poderá ser seguido de uma recuperação muito forte, similar ao que ocorreu em 2008, quando a bolsa caiu mais de 50%, e em 2009, quando subiu mais de 100%", afirma Ricardo.
No começo de junho, as ações da Bovespa estavam pouco mais de 10% abaixo de sua média histórica, o que indica que estão baratas. Mas, em momentos extremos, já chegaram a ficar mais de 50% abaixo dessa média. Ou seja, elas podem cair muito mais. Como não dá para prever quando chegará ao fundo do poço, o ideal é fazer compras gradativas.
"Se o investidor pretende ter 20% de seu dinheiro aplicado em ações, recomendo neste momento investir 15%. Na medida em que os acontecimentos forem se desenrolando e os papéis ficarem mais baratos, poderá aumentar a parcela em renda variável", diz Fabio Colombo, administrador de recursos.
Para aproveitar a recuperação prevista após a crise, o investidor deve ter em mente que não há prazo exato para resgatar o dinheiro da bolsa. "A melhor situação é não ter data para utilizar o valor investido. Outra coisa: com a taxa de juros em torno de 8,5%, o dinheiro aplicado na bolsa tem de render pelo menos 14% ou 15% para valer o risco", afirma Rodrigo Marcatti, superintendente comercial de private banking do Banco Fator.
O que e como comprar
Se você não tem muito conhecimento sobre o mercado acionário e quer aplicar em ações, o melhor é procurar a orientação de uma instituição financeira. “Mas fique de olho na taxa de administração cobrada em fundos de investimento. Ela não deve ser superior a 2,5% ao ano”, diz Fabio Colombo.
No caso de decidir por fundos multimercados, que misturam a renda fixa e a renda variável, os clientes também precisam ficar atentos à taxa de performance, que incide quando o fundo atinge um nível determinado.
Agora, se você tem um pouco mais de familiaridade com o mercado e quer escolher sua própria carteira, a primeira dica dos especialistas ainda é a velha e boa diversificação — tanto de papéis quanto de grau de risco. Aconselha-se a ter de 10 a 15 papéis diferentes, que representem os principais setores da economia. Rodrigo, do Banco Fator, dá outra sugestão: dividir o montante que se quer investir em bolsa em três partes.
"Uma pode ser alocada em empresas de economia doméstica, menos sensíveis às oscilações internacionais, como as de infraestrutura, alimentos, serviços e varejo.
Outra, destinada às companhias de alta geração de caixa, como as do setor de energia e telefonia. E a terceira, aplicada em setor com mais riscos", diz Rodrigo. O investimento deve ser feito aos poucos, e em dez anos, no mínimo. Ou seja, para ganhar dinheiro na bolsa tem de ter paciência de monge budista.