Obstáculos: sucesso na carreira em TI exige que o profissional ultrapasse algumas barreiras comuns (Getty Images)
Camila Pati
Publicado em 10 de dezembro de 2013 às 07h30.
São Paulo – Cada vez mais requisitados por empresas de todos os setores, os profissionais da área de tecnologia da informação contam com um cenário próspero para a carreira. Seja como prestador de serviços ou como funcionário contratado, as oportunidades de trabalho são numerosas e, para quem é qualificado, não faltam opções no mercado.
Mas, apesar do bom momento, alguns obstáculos podem minar as chances de ascensão profissional em TI, impedindo muita gente de decolar na carreira, por mais promissora que ela se apresente. É que se foi o tempo em que dominar algumas linguagens de programação era suficiente na hora de conquistar uma vaga ou um contrato de serviço. Confira as principais dificuldades da carreira em TI citadas por três especialistas:
1 Falta de domínio em inglês
“Este é um verdadeiro tabu na carreira”, diz Henrique Gamba, gerente executivo da área de TI e Telecom da consultoria Talenses. Segundo ele, as pessoas costumam acreditar que o mercado está cheio de profissionais com inglês fluente. “Mas isso não é verdade. Na base da pirâmide, esse conhecimento de inglês é ainda mais escasso, o que é curioso, porque seria natural que os profissionais mais jovens já entrassem no mercado dominando o idioma”, diz.
Marcos Sakamoto, presidente da Assespro-SP (Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação – Seção São Paulo) concorda. “Esta é uma das deficiências dos profissionais. Muitas vezes eles dizem que falam inglês porque conseguem consultar manuais técnicos no idioma e resolver problemas mas, na hora de conversar, fica aquela coisa travada”, explica.
“Na prática, os profissionais conhecem o inglês técnico, mas não têm domínio para conversação para fazer um atendimento”, diz Eric Kulpa, líder de TI da Acesso Digital.
2 Comunicação ineficiente
A dificuldade de comunicação não é um estereótipo ultrapassado no que diz respeito às pessoas do ramo de TI de maneira geral, segundo Kulpa. “Ainda é uma realidade, o profissional de TI tem que ser mais analítico e não tem a comunicação como um dos principais fatores no perfil. Este é um obstáculo desde a entrevista de emprego”, explica.
“A comunicação é um ponto chave na questão comportamental”, diz Gamba, lembrando que, em posições de chefia, a habilidade é uma condição para a conquista da vaga.
E, se as competências de comunicação são essenciais para quem busca cargos de gestão, quem quer seguir na carreira de analista especialista também precisa desenvolver esta habilidade. “O profissional sempre precisa se reportar a alguém e, se não conseguir transmitir as informações com clareza, vai se prejudicar”, diz o líder de TI da Acesso Digital.
3 Velocidade do surgimento de novas tecnologias
A velocidade é uma característica fundamental da área de tecnologia. Novas linguagens de programação surgem a cada dia, tornando o leque cada vez mais amplo. “As rápidas mudanças trazem dificuldade para que o profissional se mantenha atualizado”, diz Kulpa.
4 Falta de rumo de carreira
Aliada à constante transformação das tecnologias, a falta de rumo de carreira também é um obstáculo importante, segundo os especialistas.
“A área de programação chegou a um grau com diversas especializações”, diz Sakamoto. No entanto, a alta rotatividade de alguns profissionais atrapalha a especialização, segundo ele. “É uma geração mais imediatista, que percebe que pode mudar facilmente de emprego e essa constante mudança impacta na sua especialização”, explica.
Para Sakamoto, considerar apenas a demanda da empresa em que você trabalha é uma armadilha. “Ao se restringir ao universo da empresa, o profissional não tem uma visão ampla de onde estão as demandas e as oportunidades de carreira”, diz.
Ele diz perceber uma dificuldade das pessoas que trabalham com TI para gerir a própria carreira. “Existem tantas possibilidades, que o profissional acaba acompanhando o mercado de forma mais genérica”, completa Eric Kulpa.
5 Necessidade de atuação mais generalista
Mesmo quem se especializa, precisa muitas vezes passar grande parte do tempo fazendo um trabalho bem distante da sua área de conhecimento.
“É natural que a pessoa queira desempenhar atividades ligadas à sua área de especialização, mas geralmente é difícil que as empresas tenham volume de serviço para isso”, diz Sakamoto que defende uma mudança na legislação.
“O ideal é que o profissional tivesse empresa própria e trabalhasse para 20 companhias fazendo apenas o serviço no qual é especializado, mas quando a tecnologia é a atividade fim da empresa, a lei não permite a terceirização”, diz.
6 Despreparo para gestão
Se há muitas oportunidades para analistas, interessados em subir alguns degraus de carreira vão encontrar concorrência mais acirrada na disputa pelos cargos executivos, de acordo com Gamba. “Como a área de TI está mudando em termos de globalização e mentalidade das empresas, tem muita gente disponível no mercado”, afirma.
E neste ponto da carreira, não vale mais ter apenas conhecimento técnico. É preciso estar bem preparado para gerenciar pessoas e conquistar resultados por meio do trabalho em equipe.
“Se há muitas pessoas buscando o nível de gestão, não significa que tenham perfil de liderança”, diz Kulpa. “Os profissionais usam como parâmetro o tempo de carreira, mas não sei se eles, de fato, se prepararam para assumir uma posição de gerente”, diz Sakamoto.
Para os dois especialistas, pessoas que têm a qualificação necessária para comandar equipes não terão grandes dificuldades para encontrar posições neste nível.
7 Falta de visão do negócio
A visão de negócio pressupõe uma atuação voltada para as necessidades do cliente, seja ele interno ou externo. O sistema pode ser o mais moderno do mercado, mas se a interface não é amigável ou se demanda mais cliques dos usuários para executar uma tarefa específica, as reclamações serão constantes.
“O que algumas pessoas não entendem é que quem paga o salário delas é o cliente, então é preciso é pensar como a área de tecnologia pode auxiliar na alavancagem de resultados da empresa, de modo geral”, diz Gamba. Ficar alheio a estas necessidades só atrapalha e impede profissionais de TI de deslancharem na carreira, segundo os especialistas.
8 Não completar ciclos nas empresas
Prestar atenção apenas no próximo salário é uma postura imediatista que contribui para a alta rotatividade na área de TI. Deixar de completar ciclos nas empresas pode resultar em problemas nas próximas entrevistas de emprego.
“Existe preconceito das empresas na hora de contratar profissionais que mudam muito de emprego. Para cargos executivos, o ideal é ter passagens mais longas. No caso dos analistas especialistas há mais tolerância”, explica.
9 Motivação exclusivamente ancorada no ambiente externo
Não é porque sobram oportunidades e porque se fala em tecnologia da informação como uma profissão do futuro, que o sucesso é garantido. “Se a pessoa está deslumbrada com o mercado promissor, mas não é bem disso que ela gosta, ela não será produtiva. Quem se destaca é quem tem paixão”, diz o líder de TI da Acesso Digital.